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COLUNA DO MARCOS BRAGATTO (RJ): O NEGÓCIO É BAIXAR

Música virtual só serve para ouvir antes, conhecer antes e ver se vale a pena comprar o álbum de verdade, seja ele em que formato físico for. Porque, senão tem o formato físico, a música simplesmente não existe.

Meus amigos, o que é modernidade. E o que é a tecnologia. Nos últimos dias tenham baixado mais que pai de santo. Precisava conhecer o novo disco desse ou daquele artista e a gravadora nada. Prometia enviar o CD e não cumpria. Sim, meus amigos, porque jornalista é assim. Precisa estar bem informado para o que der e vier. O Whitesnake, por exemplo. Sem vem tocar aqui, não é possível que não se conheça o último álbum deles. E a gravadora nada. Daí me lembrei quando foi lançado o penúltimo álbum do Helloween, “Keeper Of The Seven Keys – The Legacy”, há uns dois anos, e eu ia fazer uma entrevista para ser publicada no Jornal do Brasil. E a gravadora nada. Meio a contragosto e digitalmente semi-analfabeto, baixei o CD duplo a tempo de elaborar umas perguntas de bom nível sobre o então mais recente disco da banda.

Agora, para poder assistir aos shows de Whitesnake e Megadeth, por ser a mesma gravadora, baixei os dois. Pois eis então o novíssimo lema deste velho homem da imprensa: a gravadora não vai enviar? Então a gente baixa. Admito, logo, e antes de mais nada, que para tal façanha, a de ser incluído no rol dos baixadores, tive a ajuda do amigo Zé, o Panamá, certamente a segunda figura que mais freqüenta shows de rock no Rio de Janeiro, quiçá no Brasil. A primeira vocês sabem quem é. Pois foi ele, o Panamá, que me passou, via depoimento no orkut (moderno, né?) uma pá de links para eu me esbaldar no mundo virtual. Isso num primeiro momento, já que, em seguida, percebi que toda essa fartura estava ali, no orkut mesmo. É só ir na comunidade de tal grupo que a discografia dele tá todinha lá, inclusive as coisas mais recentes, em links que te levam para sites baixadores da vida. Fácil, fácil, mole, mole, melhor que na Brastel – onde tudo era à preço de banana.

Fica, no entanto, a dúvida. Devo fazer a resenha desse disco, negado por uma gravadora e baixado na mão grande, no meu site? O do Whitesnake, “Good to be Bad”, por exemplo, deve ser resenhado? Pela ótica jornalística, sim. Simplesmente porque, fazendo o exercício de adivinhar aquilo que o leitor do site quer ler, e admitindo que o site tem, sim, leitores, acredito que o primeiro disco do Whitesnake em 10 anos esteja entre essas coisas. Acho também, usando de uma falsa modéstia, relevante a opinião deste que vos escreve para um ou outro leitor. Para o meio em geral, na verdade. É relevante para mim e para o universo que gira em torno deste site? Então tá dentro.

Mal soluciono o primeiro impasse e já me defronto com o segundo. No lugar onde em geral entra o nome da gravadora, o que escrevo? “Baixado da Internet”, como já fiz com o próprio disco do Helloween, incentivando ao leitor que baixe também ? Ou o nome da gravadora mesmo, para que o interessado se sinta disposto a comprar? Eu, por exemplo, como entusiasta do rock, gosto do álbum inteirinho nas minhas mãos, com encarte cheiroso e tudo. Gosto de abrir, olhar, escutar, ver as letras e blá blá blá. O Whitesnake, por exemplo. Gostei do disco e, cedo ou tarde, vou adquiri-lo, provavelmente quando o preço cair. Talvez, se não gostasse, ainda assim compraria o CD, baseado na teoria defendida pelo amigo Carlo Antico, que lhe valeu o singelo apelido de “Coleção”, já que ele costuma comprar discos para completá-la, a coleção. Quanto ao novo do Megadeth, com o ótimo título de “United Abominations”, ainda o escuto, nesse momento, lá no tocador de CD.

No que essa conversa toda deságua para um ponto com o qual volta e meia eu me deparo. Essa coisa de música virtual que não serve pra nada, a não ser pra gente ouvir antes, conhecer antes e ver se vale a pena comprar o álbum de verdade, seja ele em que formato físico for. Porque, senão tem o formato físico, como diria Maurício Valladares, esse álbum não existe. Música virtual para sempre vai ser, tão somente, uma grande vitrine, como disse Lobão recentemente. Baixei e gravei em CDR (não ouço música nessas caixinhas toscas de computador) mais de dez álbuns, e, confesso, não morri de amores por todos; nem gamei por eles. Há prós e contras em todos: muitos, vou comprar; outros, jamais.

Disse, no início, que tenho baixado mais que pai de santo. Mas não me vejo como um inveterado baixador. Quero o CD, o disco, o álbum. Quero a música em estão físico, prostrada na prateleira, para eu pegar quando quiser ouvir ou quando precisar para fazer uma ou outra citação em um texto qualquer. Sabe-se que, mesmo fisicamente, o saber não ocupa espaço, a menos que seja na prateleira. Por isso eu exijo o conhecimento materializado. Aqui na minha mão. Senão a gente baixa tudo.

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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