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COBERTURA DE EVENTO: ÚLTIMA DIA DA VELVET DISCOS

Por Hugo Morais

30 de dezembro. Eis que chega ao fim a Velvet Discos, agora Café & Música, como loja física. Durante anos, sete mais precisamente, Marcelo nadou contra a correnteza, como muita gente, e obteve sucesso com um público fiel de bons “idiotas” compradores que mantinham o negócio ativo levando para casa cds, as vezes dvds, camisetas… Claro que as vendas pela internet ajudavam e ajudam bastante, mas aquele espaço na Hermes da Fonseca não era só uma loja, era uma lugar de encontrar outras pessoas que gostavam de música e bater um papo. E encontrar na figura de Marcelo não um mero vendedor, mas um apreciador de música em primeiro lugar, pronto para dar boas dicas de discos.

A certeza de encontrar bons discos, quase sempre o que queria, muitas vezes sendo trocado por outro, me levava sempre a voltar a Velvet. Quando comecei a comprar discos, LPs ainda, lá pelos idos de 1993, o ponto sempre era o shopping. Lá tinham duas lojas de discos que vendiam, em sua maioria, discos “malhados”. E as vezes nem os malhados tinha. Quando não tinha o que fazer saia numa peregrinação pelas lojas de discos do Centro procurando discos mais difíceis. Foi nessas andanças que achei “A primeira vez que você me beijou”, do Little Quail And The Mad Birds, e “A sétima efervescência”, do Júpiter Maçã. Dois excelentes discos perdidos no mar de pagode, axé e forró que sempre foram o forte das lojas de discos daqui, até o advento da internet e do mp3, esses destruidores de convívio social. Sim, comprar discos já foi uma forma de convívio social, assim como beber num bar ou fumar um baseado com os amigos. Comprar discos levava a casa de um amigo para ouvi-lo. E tomar uma birita provavelmente.

Hoje tudo isso não existe mais, até porque você pode estar num bar e o cd ou dvd chegar a suas mãos sem esforço nenhum. Mas os piratões não vendem Black Sabbath, Ramones, Little Quail, Stooges, Man or Astro-Man?, MC5, Black Rebel Motorcycle Club, White Stripes, Ira!, Violeta de Outono, e tantas outras bandas excelentes. Vendem a malhação da malhação, e aí pode ser inclusa a trilha sonora da Malhação. Contra tudo isso Marcelo permaneceu forte durante sete anos, mas após a terceira reforma e vários milhares de reais em uma estrutura impecável, caiu. Caiu e a queda levou junto a loja e todos os frequentadores, assíduos ou não. O “último dia”, e escrevo assim porque ainda tenho a esperança de que ele mude de idéia, foi marcado por uma presença acima do normal dos consumidores, uns bebendo cervejas, comendo salgados, tomando café ou querendo levar para casa algum quadro, dvd, revista, livro, camisa ou outra coisa qualquer a venda que em suas casas simbolize o que foi e o que é a Velvet. Eu arrastei um quadro dos Ramones para juntar aos vários cds que tenho e toda vez que olhar ou escutar um disco, lembrar da loja. Alegria e tristeza lado a lado no mesmo quadro.

No último dia foi exibido um show dos Rolling Stones (será que Marcelo estava querendo tirar um sarro com a cara de todos? É, porque o Rolling Stones pode até ser uma grande banda, mas o brilho se foi há tempos) que caiu como uma luva. E foi exibido o documentário que produzi ao lado de Rebeca Correia, parceira e mulher, sobre o rock natalense, outro moribundo que vez ou outra tenta se levantar, mas finda voltando ao leito do esquecimento. Os mais lúcidos a dar depoimentos apontam para a morte cultural, de produção e de envolvimento dos músicos envolvidos na batalha do dia a dia de quem faz rock no cu do elefante. Parece que caiu como uma luva também.

É, foi fim da Velvet, poderia ser o início. Marcelo disse que não vai conseguir ficar sem esse convívio com o público frequentador de sua loja. Nós também não Marcelo. Pode marcar as cervejas e escolher o som, estaremos seja lá onde for para bater aquele papo musical.

Só agora me toquei que enquanto escrevo, dentre algumas coisas que escutei, estava o disco Adios Amigos, dos Ramones. Mais uma luva para apenas duas mãos.

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1 Comment

  1. Oi Hugo,
    Se vc chegar a ler esse comentário – aproveito para parabenizá-lo pela resenha. Infelizmente encontrava-me a 520 km de distância da Velvet no dia 30/12 (estava em Fortaleza/CE) e fiquei chateado por não participar dessa “despedida” (será?). Mas de lá mandei uma mensagem ao amigo Marcelo (que conheci nos corredores do curso de geologia da UFRN, ele desistiu e eu continuei).
    Como sou um cara paciente, fico no aguardo de uma nova abertura da Velvet e aos sábados pela manhã ir visitá-lo.
    Sim, aproveito para saber como posso obter um cópia do documentário sobre o rock natalense. Sou um colecionador do rock potiguar e mais recentemente venho colhendo/guardando os vídeos, clipes, documentários e outros sobre o rock papa-jerimum.
    Abraço.

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