Natal Rock City
A cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, sempre foi conhecida pelas dunas de Genipabu. Merecido, aquilo realmente é o paraíso. Mas de um tempo pra cá, o barulho que sai das garagens da cidade vem chamando muita atenção. Natal tem rock, e do bom, e a distância dos grandes centros não foi empecilho para que a cidade atingisse ares de um novo pólo do rock feito no Brasil.
Com dois festivais voltados para os independentes, o MADA- Música Alimento da Alma ? e o Festival Do Sol, um em cada semestre, Natal já possui um calendário do rock para o ano todo. São bares que abrem suas portas para que os independentes possam tocar, vários selos e toda uma estrutura que propicia as bandas locais a chance de produzirem material de qualidade, atraindo os olhos do público. ?A cidade já é uma referência e é um dos locais que mais faz intercâmbio e cede espaços para bandas de outros lugares?, confirma o produtor pessoense e dono do selo Musicland, Jesuíno André. Só pra ilustrar essa movimentação, o grupo local Dusouto conseguiu emplacar uma música na trilha sonora do game Fifa Soccer 2006, da Electronic Arts.
O MADA, produzido por Jomardo Jomas, tem nove anos de existência e é realizado sempre no primeiro semestre do ano. Hoje é um dos maiores festivais de música pop do país. Já o Festival Dosol, braço forte do grupo Dosol, idealizado pelo produtor e músico Anderson Foca, mesmo com poucas edições(começou em 2003, e só a edição de 2004 acabou não acontecendo por falta de verba), vem se firmando como um dos eventos mais bem-sucedidos do independente brasileiro. Sua última edição, no mês de agosto, contou com 35 bandas de 11 estados brasileiros, entre elas Autoramas, Dead Fish e Walverdes. ?Não tenho dúvidas de que Natal é uma das cidades mais desejadas para uma banda vir tocar?, assegura Foca.
Dando suporte para as bandas locais, os selos proliferam na cidade e dão tempero ao caldeirão de rock potiguar. O selo veterano Solaris Discos, que está completando dez anos de rock independente e de propriedade do músico Alexandre Alves, ficou conhecido por lançar lendas do rock alternativo no Brasil, como a sergipana Snooze e a potiguar Chronic Missing. Beirando os 50 lançamentos, a Solaris tem em seu casting bandas de quase todos os estados do nordeste. Alexandre ?Boss? Alves já pretende ultrapassar essa marca até o fim do ano com os novos lançamentos dos locais, The Automatics, Montgomery, Adriano Azambuja, Deadfunnydays e do já citado Snooze.
A Mudernage Diskos, resultado da correria de Wlamir Cruz e de bandas como Bugs, Bonnies, Seu Zé, Jane Fonda, começou em 1997. Hoje, a gravadora/produtora procura ampliar sua atuação com a Rádio Muderna, podcasting que dá espaço para os grupos independentes. Em 2006, o grupo conseguiu uma parceria com a Agência Cultural do Sebrae-Sesi para pôr em prática ciclos de oficinas e palestras com o intuito de discutir novas ferramentas para produtores e bandas independentes. Sobre iniciativas como essa, o músico cearense George Frizzo, das bandas Fóssil e SOH, diz: ?Acho que Natal vai muito bem quanto a conversas direcionadas a mercado e produção própria. A cidade tem as ferramentas certas para um pólo roqueiro?.
O caçula dessa turma, o Xubba Musik, nasceu este ano e já chegou colocando dois lançamentos na praça, o split entre as bandas Cinema Mudo e Distro, e o primeiro disco da banda Vitrola, todas locais.
O supracitado selo Dosol, além de produzir o festival, tem estúdio próprio e uma agência que cuida da parte gráfica dos lançamentos e produz documentários, videoclipes e websites. Anderson Foca também é dono do Dosol Rock Bar, que abre as portas quase semanalmente para shows de bandas locais, não raramente de todo o país. O selo já passa da casa dos 20 e poucos discos e é o que mais lança bandas ultimamente em Natal.
Quanto a mídia especializada, um ponto negativo, as rádios natalenses abrem pouco espaço pra produção local, a não ser pela programação da FM Universitária. Já em sites, a cidade está bem servida, os portais Rock Potiguar e Ruído Moderno, esse último do grupo Mudernage, são exemplos. Fora isso, Natal também tem publicações impressas voltadas para o público rock: o fanzine Lado[R], capitaneado por Leandro Menezes, já está na quarta edição e trata com um quê de humor e chinfra tudo que envolve o universo rock; destaque também para o Barulhoscópio, zine feito por Alexandre Alves, da Solaris Discos, e que acaba sendo um braço impresso do selo.
Apesar de toda essa estrutura, a cidade nunca teve um nome de peso dentro do Rock Nacional. Segundo Anderson Foca, isso talvez nem seja necessário: ? O status de pólo está sendo conseqüência da da cobertura que a imprensa dá aos festivais daqui. Esse papo de ter uma banda encabeçando um movimento meio fake não reflete o que a cidade produz realmente?. Agora que você já sabe como está a cena de Natal, junte os amigos e não perca o próximo festival!
PS: Não consegui ver quem escreveu a matéria mas acho que foi o parceiro Dimetrius, do deadfunnydays aqui de Natal.