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CÉSAR REVORÊDO FALA AO DIÁRIO DE NATAL

O novo presidente da Capitania das Artes deu uma entrevista importante ao Diário de Natal. Confira aqui.

Apesar da posse do secretariado municipal ter ocorrido na sexta-feira passada, somente ontem o novo presidente da Fundação Capitania das Artes, César Revorêdo, pode se apresentar para o primeiro dia de expediente. Mesmo com o plano de diretrizes em mãos, ainda há muito a ser discutido e implementado. Acompanhado pelo secretário Adjunto, o jornalista Rodrigues Neto, e pelo diretor de Planejamento e chefe do Departamento de Atividades Culturais, Josenilton Tavares, o presidente da Funcarte recebeu a imprensa em seu gabinete para falar sobre seus planos para a entidade.

Junto com Josenilton Tavares, que consultou as diversas áreas técnicas da Funcarte, ele trabalhou em um plano de diretrizes que irá colocar em prática durante seu mandato. ‘‘Nós vamos trabalhar com três eixos que são fundamentais, que é a formação, ou seja, a capacitação; com o fomento que é o fortalecimento dessa cadeia produtiva e a fruição que é o resultado. Essa será a base da gestão’’.

Além disso afirmou que recebeu como orientação da prefeita Micarla de Sousa, que o trabalho deve promover a parceria entre a cultura, educação e turismo, ‘‘nós não vamos concorrer com a cadeia produtiva, vamos estimular’’, enfatizou. Com um orçamento de aproximadamente R$ 6 milhões, ele manterá vários projetos iniciados na administração anterior, e dará a eles sua marca pessoal, como o Ene, a revista Brouhaha, o Auto de Natal e o Carnaval Multicultural . Por orientação do Governo Federal vai criar o Fundo de Cultura Municipal e pretende criar o Centro Integrado de Arte, onde reunirá a escola de teatro e dança e outros espaços para promoções culturais. Além dos nomes já citados também fazem parte de sua equipe Camila Cascudo (Assessoria Jurídica), Francimário Vitor dos Santos (Chefe do Departamento de Patrimônio) e Castelo Casado (Departamento de Projetos e Eventos Especiais).

Diário de Natal – Você é uma pessoa que vem da iniciativa privada, é artista plástico e empresário desse segmento, agora inicia a sua primeira gestão pública. Quais foram os projetos que você idealizou para sua administração?
César Recoredo – Venho de uma atividade meramente privada, com algumas conexões com o público, através de parcerias com a universidade. De certa forma já tinha conhecimento do funcionamento de algumas áreas. Apesar de ser um chavão, é um desafio assumir esse cargo, sair de um pequeno universo e entrar em uma coisa macro. Sair da área de artes visuais para gerir a cultura municipal em todos os seus segmentos, é repensar meus próprios conceitos de cultura. Vou ter que me conectar com o que há de mais contemporâneo em gestão. Pela primeira vez vamos ter na Capitania um Plano de Gestão, um plano de diretrizes, exaustivamente pesquisado e montado, na tentativa de contemplar toda a cadeia produtiva, sem deixar escapar nenhuma necessidade, nenhuma reivindicação. Desse plano nós elegemos algumas prioridades e em cima delas iremos trabalhar.

Quem fez parte da elaboração do plano e quanto tempo isso durou?
Começou com o meu convite, antes do Natal, e tive pouco tempo, mas tive a sorte de encontrar uma equipe cujos profissionais estão entre os melhores da cidade em consultoria e gestão cultural. Josenilton Tavares foi uma pessoa fundamental para a elaboração desse projeto, mas antes ele passou por todas as áreas técnicas da Fundação para saber a necessidade de cada área. Uma coisa que ficou bem clara é que a gente não lutaria contra a cadeia produtiva. Nós vamos ter uma atuação que reforça o que a cidade já manifesta como necessidade. Não serão criados projetos para atender vaidades ou o glamour das idéias. Uma das solicitações da prefeita é que a gente tivesse cuidado com educação e turismo. Todas as nossas atitudes culturais terão um reflexo na educação e o turismo.

Quais os projetos da administração anterior que serão mantidos pela sua?

Essa idéia que se tinha de não dar continuidade ao que já existia, é muito esquisito. Tivemos o cuidado de primeiro identificar o que precisava ser feito e ao mesmo tempo sugerir coisas novas. O Ene (Encontro Natalense de Escritores) obviamente que será mantido, a gente só tomou cuidado de fazer uma inclusão nesse projeto, que foi uma atenção maior para a literatura infantil. Projetos que se resumem a pequenos núcleos, pequenos interesses, a guetos, esses não são do nosso interesse.

Como você está pensando em trabalhar a cultura em parceria com a educação e o turismo?
Pegando um projeto prático como o Ene, o interessante é que a gente comece a preparar a chegada desses convidados, promovendo, incentivando a leitura, os concursos de redação, as palestras de escritores dentro das escolas e a gente já cria um interesse e estabelece uma conexão entre os convidados e os alunos.

Quais outros projetos serão mantidos, a revista Brouhaha continua?
Será mantida e a gente estudou a periodicidade, teremos quatro edições anuais e uma delas será dedicada ao jornalismo cultural, mostrando o interesse do jornalismo sobre a cultura. As principais matérias serão esmiuçadas, mostrando como foram pautadas e realizadas.

O Auto de Natal também continua?
O Auto de Natal será mantido, a diferença é que esse ano a gente já começa a democratizar a atuação dos profissionais. Começamos em 2010 com um edital para o autor da dramaturgia, e essa pessoa já traz um conjunto de idéia, e o melhor será o eleito. Esse ano, por uma questão prática, a gente vai manter a estrutura de um convite direto. Outra novidade é que para não concorrer com outras atrações culturais que geralmente ocorrem nesse mesma época do ano, vamos passar a programação para a última semana do ano. Ela começa no dia 25, no dia de Natal, e vai culminar com uma novidade, no último dia, que é o dia do aniversário de Câmara Cascudo, nós vamos ter um Dia de Cascudo. Será um conjunto de ações em parceria com a universidade, em parceria com outras entidades, e formaremos um grande dia para homenagear Cascudo. Teremos um dia de eventos envolvendo a gastronomia, a dança, a dramaturgia.

Estamos em plena festa de Reis, você está assumido hoje (ontem) e essa é uma festa que tradicionalmente recebe o apoio da prefeitura, como será esse ano?
Houve uma certa angústia por parte da população com relação a isso, mas acho que foi sanado a tempo, vamos cumprir esse apoio não à festa religiosa, mas à festa popular. Já estive lá e, claro que por causa da transição, não é o apoio que normalmente é dado, tivemos algumas dificuldades que foram contornadas e a festa já está acontecendo.

E com relação ao Carnaval, que é uma festa popular e que já está bem próximo, como está a atuação da prefeitura nessa festividade?
Antes do Carnaval nós temos a Procissão dos Navegantes, que também receberá apoio. É uma festa fundamental, a gente vai tentar manter o estímulo. Essas festas são fundamentais para o imaginário e a estima da cidade.

O Carnaval nós já tivemos grandes ganhos em relação a ele. A exemplo do que foi feito em Recife, nós tivemos a distribuição do Carnaval na cidade através dos pólos, o que funcionou e dá uma certa estabilidade para a administração. Esses pólos serão mantidos e a gente só estuda a ampliação de um deles, ainda precisamos ver isso com mais calma. Nós vamos garantir as atrações e o máximo de movimento na cidade, para estimular o natalense a ficar na cidade. Teremos Ponta Negra com sua diversidade, a Redinha com as manifestações mais tradicionais, a Cidade Alta integrada com a Ribeira.

Com relação ao São João, o que a Fundação está pensando para essa festa?
O São João não tem recebido uma atenção especial. Nós vamos estimular, é uma manifestação muito espontânea que ganhou um sentido muito mais abrangente, afinal você não pode engessar a cultura. Queremos motivar essa festa, a gente vai incentivar os arraiás populares, de bairro. Quanto aos festivais de quadrilhas nós estamos ainda estudando como será dado o apoio a eles. Nós estudamos algumas políticas que funcionam bem como Aracaju e Mossoró, que já adotam critérios mais específicos em relação a esses apoios. Mas uma coisa que é certa é que os arraiás e as quadrilhas mais espontâneas receberão esses apoios.

A administração anterior deu um enfoque muito grande ao audiovisual, o que vai ser feito nessa área?
Nós não vamos concorrer com a cadeia produtiva, nós vamos estimular. Tudo que se apresenta como boa idéia, como o Goiamun Audiovisual, o FestNatal, esses projetos bem sucedidos e já incorporados, eles serão mantidos e receberão o nosso apoio. Agora, para tudo isso, será pedido uma contrapartida de fruição. Ou seja, se isso realmente chega à população e se realmente esse iniciativa está formando novos públicos, se está atendendo ao visitante da cidade, se a produção está sendo o mais ampla possível. Sempre vamos pedir que os projetos atendam a contrapartida social.

Uma das marcas da gestão anterior é que ela conseguiu contemplar as várias áreas de arte com bons eventos. Essa também será a sua política?
Sim. Mas nós percebemos em algumas áreas uma deficiência muito grande, por exemplo, a dança municipal praticamente não recebeu um incentivo. A gente tem um grupo que era referência no estado, o Ballet do Estado, e hoje a gente não tem mais isso. A dança receberá uma atenção especial. A gente tem hoje um extragulamento não só das instalações administrativas, como da própria estrutura de escola. Uma das coisas que irei tentar fazer é transferir a escola de dança para um outro prédio, que terá mais espaço. Nesse prédio também pretendo colocar a escola de teatro que é uma grande conquista dessa cidade, e é um projeto muito bem feito. Assim as escolas de teatro e dança seriam desafogadas.

Outra área que a gente percebeu essa fragilidade foi o teatro, o Sandoval Wanderley, que é um equipamento que já foi admirado, que já recebeu grandes projetos, mas do ponto de vista estratégico oferece uma incapacidade imensa. Ele não tem estacionamento, é extremamente barulhento. Funciona como um fator de inclusão, obviamente que não deixaremos o teatro de lado, mas buscaremos uma alternativa e tudo isso vai desaguar em um outro grande projeto que nós tentaremos implantar que é o Cidarte (Centro Integrado de Arte), é um espaço multifuncional que vai agregar um monte de necessidades. Nós temos uma deficiência de espaços para pequenos e médios públicos, no Centro teremos um lugar específico para isso. Nós teremos uma sala para os espetáculos, oficinas de dança. Lá teremos uma pinacoteca e vamos tentar fazer o rastreamento e o registro de todo o acervo de arte da prefeitura. Teremos uma sala de exposições esporádicas. Será um centro para atender várias necessidades.

A prefeitura tem dois equipamentos novos, o Memorial Natal e o Museu de Cultura Popular. O que pensou para eles?
No caso do Museu de Cultura Popular nós vamos equipá-lo com estrutura de audiovisual para que as pessoas tenha o máximo de informação possível. Aquilo tem também que se transformar em um banco de dados. Vamos utilizar a tecnologia para suprir a deficiência do espaço físico. Com relação ao Memorial ainda se apresentam algumas questões de ordem administrativa que precisam ser resolvidas com urgência, mas a idéia é que tudo seja enriquecido e ampliado.

A criação do Fundo de Cultura significa alguma mudança na Lei Djalma Maranhão?
Não.

Mas a administração pretende sentar com a classe artística para discutir a Djalma Maranhão?
Sempre, o diálogo com a cadeia produtiva será constante.

Além da continuidade dos projetos já citados na entrevista e também daqueles que você já se referiu, existe algo mais que está querendo implantar?
Já falei das nossas prioridades, mas ainda tenho outras idéias que pretendo implantar. No campo das artes visuais tem a implantação de um laboratório itinerante, ou seja, vamos equipar um veículo para levar para as escolas municipais um ilha de edição para os estudantes trabalharem diretamente com essas mídias. Criaremos um prêmio de audiovisual e o resultado será uma coleção videográfica; teremos o projeto circulante que utilizará a rede de transporte público para a divulgação da produção artística. O Salão de Artes Visuais permanece mas a premiação será uma bolsa de estudo para qualificar os premiados; vamos catalogar o acervo municipal e tentar colocá-lo disponível na internet; vamos criar um balcão de informação para a lei de cultura; tentaremos colocar Natal dentro da programação nacional do Ano da França no Brasil. Promoveremos cursos, oficinas e mostras de audiovisual, como por exemplo trazer o Festival de Excelência, ou seja, é uma tentativa de trazer para a cidade grupos de referência, representantivos, nas mais diversas áreas, com a contrapartipa da participação do artista local, de modo que o artista potiguar possa ter em seu currículo a sua integração com grandes nomes. Nós vamos oferecer condições de trabalhos em conjunto, assim como oferecer capacitação através de cursos e oficinas para que o artista tenha condições de dialogar com esse pessoal de fora.

Também vamos estabelecer parcerias com as escolas de circo da cidade para a realização de oficinas temporárias nas escolas municipal da cidade; vamos criar o auxílio pauta para viabilizar temporadas dos espetáculos que são produzidos na cidade. Nas artes literárias haverá uma modificação nos concursos Othoniel Menezes e Câmara Cascudo, que ao invés de premiar com dinheiro iremos publicar as obras dos vencedores e parte da tiragem será destinada para as bibliotecas da rede municipal de ensino. Teremos o projeto K-ximbinho que vai percorrer as comunidades com música, dança, teatro, cordel e mamulengo. Também vamos regulamentar o Cemai enquanto escola; queremos fortalecer o Corredor Cultural tentando promover roteiros no local e lá vamos tentar a inclusão do bondinho entre a Ribeira e a Cidade Alta. Ainda daremos apoio para a realização de concursos de gastronomia típica e a catalogação de receitas e queremos mapear o material e imaterial das diversas escolas arquitetônicas.

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