Por Bruno Nogueira (popup)
Um dos principais motivos para o Pop up ter tantas fases de desatualização é que, além de duas jornadas de trabalho, eu estou a um mês de terminar minha dissertação de mestrado. Queria fazer uma pausa aqui e pensar um pouco sobre tudo que aconteceu nos últimos dois anos, quando comecei essa história.
Pesquisar a indústria fonográfica é um troço complicado. Quando eu comecei, a Sony e a BMG ainda eram empresas diferentes; o DRM era um tipo de lei estabelecida e questionável apenas por anarquia; as gravadoras ainda lançavam artistas massivamente (Maria Rita, Los Hermanos); e os festivais ainda não eram organizados em nenhum tipo de associação. Bandas como o Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê, que interessam ao foco do que eu ia pesquisar, eram facilmente acessíveis ao clique do MSN.
Observar diariamente, clipando algumas matérias, participando de tantos debates e palestras, estudando e entrevistando pessoas, só ajuda a perceber como as transformações são realmente rápidas. Em 2005 falar em download remunerado era papo de louco e dizer que uma banda como o Radiohead daria o próximo disco para que cada um pagasse quanto quisesse seria uma piada sem graça. O mais espantoso, após a intimidade criada com os grandes jogadores do processo, é dimensionar o quanto ainda está em transformação.
Estamos vivendo uma desesperada queima de estoque. Encontrei bandas que distribuíram mais de mil cópias do disco na rua; acharam que seria legal vender tudo num pendrive ou encartado numa revista. Para os próximos meses, vamos ver carros sendo vendidos com músicas de Ivete Sangalo, MP3 Players com todo o cast de uma gravadora e essas esquisitas empresas migrando desesperadamente para o negócio de vender shows e não CDs. A música vai se transformando lentamente num serviço.
Foi engraçado perceber que o jornalista, por estar atento a todas essas transformações, entrevistados os vários lados do processo, se transformar num novo tipo de atravessador de informação. Nos últimos dois anos, as palestras e debates tiveram cada vez menos produtores e músicos, que deram lugar a cada vez mais jornalistas. Enquanto os últimos foram assumindo um novo papel (o de pensar no que está acontecendo), novos mediadores surgiram para ocupar o lugar dos jornais: o próprio público consumidor.
O novo conteúdo não vem no formato tradicional de textos quilométricos e pontuados por aspas de entrevistas. O público agora digitaliza seu acervo em vinil e disponibiliza em sites (que quase sempre usam a plataforma de blogs), classifica incansavelmente as músicas no LastFM – para que você consiga encontrar através de um clique todo o acervo existente de Inteligent Dance Music (IDM, um gênero que jamais seria cooptado pela mídia tradicional). Os fãs disponibilizam vídeos amadores de shows pelo YouTube, o setlist completo de uma apresentação no Orkut.
Existem dois grandes movimentos acontecendo neste momento na Internet: no primeiro, uma parcela de produtores, músicos, jornalistas e público está descarregando todo o acervo existente na plataforma digital. No segundo, pessoas desses mesmos grupos estão fazendo a triagem (blogs de música que passam o pente fino em outros blogs de música, twitters selecionando os melhores posts de outros sites e por ai vai).
Os primeiros resultados disso já podem ser percebidos com facilidade: o mercado de massa está migrando para o modelo de nichos; as rádios estão sendo substituídas pelos festivais independentes e agora nós precisamos sair de casa para conhecer a nova música (sim, você pode apenas baixar, mas como saber quais daquelas estão realmente fazendo a diferença?); e a ‘nova mídia’ agora luta para sobreviver a um mar de leitores RSS, deixando de ser apenas mais um conteúdo agregado.
E eu só preciso organizar tudo isso de maneira que faça sentido. Em algumas 40 páginas a mais.
Bruno,
Gostaria muito de ler a sua Tese, se puder voce poderia enviar para meu email? Sou um assiduo pesquisador do mercador musical e tambem apaixonado pela musica. Tenho certas posições sobre o mercado que gostaria de discutir com você, logicamente, se você puder.
Grato pela atenção.
Victor Hime
Nossa! Muito bom.
Coisas tão corriqueiras mas que não percebemos, até que alguém coloca isso na nossa cara.
O mercado fonográfico sempre me atraiu por ser tão volátil.
Assim como o Victor, gostaria te ter acesso a sua tese também.
Sou uma publictária, um tanto verde na profissão, mas muito interessada em música.
Obrigada.
Sucesso!
Naty Gobbi