Durante todos os anos que trabalhei como jornalista, sempre escrevendo sobre cultura e principalmente música, me incomodou um fato: o silêncio constante que envolve o universo dos festivais de música. Eu acreditava que em 2011 eu completaria uma espécie de transição completa. Deixaria de ser jornalista, de estar do lado da pergunta, para virar produtor e ficar do lado da resposta. Mas isso não aconteceu. As coisas não são tão preto e branco assim e me descobri nessa região cinza que tanto critiquei no passado de pessoa envolvida em várias etapas do processo da música. E perceber isso me deixou bem mais a vontade para falar (e não encerrar de vez esse blog).
Após essa maratona de um mês inteiro de shows do Abril Pro Rock, preciso fazer justiça aqui e explicar que esse silêncio que existe e que me incomodava tem um só motivo: DÁ UMA BAITA CANSEIRA fazer um troço desses. Comecei no APR em 2008 como curador do festival, já naquele próprio ano me arriscando em uma ou outra colaboração com os bastidores. Quatro anos depois, fiz de quase tudo que tem para se fazer no evento. De negociação de cachês a captação de patrocínio, assessoria de imprensa e até um pouquinho de montagem e direção de palco. Mandando banda correr para sair, outra correr para entrar, mudar luz, cenário, entrar vinheta e… de lá sair correndo para ajudar um gringo quase morrendo de ensolação no calor desgraçado do Nordeste.
A produção de um evento como o Abril Pro Rock começa sempre no público. São 19 anos de festival e por isso existem histórias, lendas e construções simbólicas de quem espera muito da programação. Antes de acontecer uma edição, já começam a falar das atrações do ano seguinte no Orkut. A maioria artistas que, sozinhos, custam mais caro que o festival inteiro. Outros que não tem nada a ver mesmo mas fazem parte daquela ansiedade que só quem é fã entende como funciona. Isso é culpa daquele tal silêncio. Ninguém sabe quanto custam as coisas, como as bandas circulam, como funciona o processo.