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BRUNO NOGUEIRA (PE): DUFFY – ROCKFERRY

Já tem um bom tempo que quero falar da Duffy.

Antes, a grande notícia por trás desse disco: o catalogo da Rough Trade no Brasil, que havia se perdido na mão da Trama, agora está com a Universal. Talvez isso não faça diferença para eu e você, que baixamos música por ai, mas ainda somos minoria. E numa gravadora decente, as músicas tem mais chance de circular em rádios e TVs. O que me lembra: preciso fazer um post aqui sobre rádios.

De volta a ela. O Times não precisava ter juntado Duffy e Adele no mesmo saco apenas para dizer que elas seriam as próximas Amy’s. Basta ouvir cinco segundos de “Rockferry”, faixa que abre a batiza o disco de estréia da loirinha gaulesa. Antes mesmo do primeiro sinal de sua voz, acordes e toda informação anterior a isso – encarte, fotos, letras – já são recheadas de um tom fundo do poço que soa bastante recente para muitos. Quando sua entonação anasalada entra, fica impossível não ceder a comparação.

Mas ao mesmo tempo que ela se enquadra nesse caso da diva-auto-destrutiva-enquanto-gênero, Duffy coloca em cheque questões mais profundas de autenticidade. Dá pra curtir uma fossa ouvindo essas músicas. Dá mesmo, sem problemas. “I’m moving to Rockferry tomorrow / And i’ll build my house, baby, with Sorrow”. Assim como Amy, as duas evidenciam uma questão pouco cantada pelo soul, de que não existe fila de espera para o fundo do poço. Amy tem 25, Duffy 24 anos de idade.

A diferença é que a pose de uma está em fugir da re-habilitação, enquanto Duffy deseja a superação. “You got me begging for mercy / why won’t you release me?”. É ai que entra a questão: arrumar encrenca, ficar subnutrida e afundar em drogas virou a música de Amy Winehouse. As pessoas esperam muito mais essa performance de “eu preciso urgentemente de uma rehab”, que os versos, que agora não funcionam com uma cantora que esteja indo apenas ok no cotidiano.

E é por isso que Duffy não é uma próxima Amy. Ela é potencialmente mais, se esse público estiver interessado em ouvir mais música e menos colunismo sensacionalista. E ela canta isso, mesmo sem perceber, nas entrelinhas de versos como “I will never be your stepping stone / I’m standing upright on my own”. A música de Duffy dá brechas para essas interpretações, sem apontar para nenhuma certeza se ela está afundando ainda mais ou escalando até o topo.

“Rockferry” está longe de ser uma estréia. Funciona assim apenas no sentido convencional de que as pessoas ainda precisam de um álbum completo para legitimar um artista. Antes disso, Duffy esteve na edição deste ano do South by Southwest e no palco do Coachella. Seu primeiro hit “Mercy” – que é pista pura, anotem essa – já apareceu em trilhas de Grey’s Anatomy, ER e do filme Sex and the City (essa referência você não precisa anotar).

Sua embalagem mais pop faz que ela soe em certos momentos como uma KT Tunstall com maldade. O que tira um pouco do ótimo que esse disco mereceria. O excesso de açúcar certas horas tiram o potencial que Duffy teria de ser uma artista mais comentada. Ou talvez isso seja apenas ingenuidade minha em achar que existe parte relevante do público que está atrás de música e não de colunismo. Para não encerrar me repetindo, fica ainda o fato do ótimo gosto de Duffy. Aqui tem ela fazendo um cover do Ready to the Floor do Hot Chip:

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