Por Bruno Nogueira
Conteúdo: Popup
Eu lembro quando me chamaram de polemista pela primeira vez. Foi quando eu ouvi o disco Metropolitano da banda Eddie e achei que de alguma forma tudo aquilo muito errado. Escrevi isso no jornal e o circo estava armado. Cheguei a receber até ameaça de morte e minha chefe na época ainda me proibiu de cobrir show da banda com medo que o pior acontecesse quando me vissem lá. Nem foi para tanto. Lembro de ter ido a um show deles dias depois, onde tinha um desses telões em que você manda um SMS para todo mundo ver. Mandei um assim “Bruno Nogueira tinha razão”. A gente riu um monte.
Mas era também meu começo no jornalismo e essa situação acabou virando também uma primeira impressão. Daquelas que ficam. E a partir dali, qualquer virgula que eu digitasse por um eventual espirro virava motivo de debate entre as pessoas. Teve um lado bom. Me fez sentir lido pelas pessoas – algo que não deveria ser comum, escrevendo em um jornal popular, geralmente comprado pelo caderno de Esportes e Polícia – e, consequentemente, mais preocupado com o que exatamente eu escrevia. Apesar de nem antes, nem depois, ter sido realmente polêmico.
Volta e meia a fama volta. Quando acontece, eu tento brincar ou, de alguma forma, usar a meu favor (já descolei algumas entrevistas difíceis por causa disso). Mas eu não sou polemista é por total falta de talento mesmo. Acho que apertar nas feridas exige um grau de inteligência e bagagem que eu não atingi. Engraçado que até conheço alguns jornalistas que tem isso, mas nunca fizeram grande polêmica na carreira. Alexandre Matias é um deles. E ele me diz até que evita isso sempre que possível.
Thiago Ney, da Folha de São Paulo, não é um deles.
É pelo lado negativo da fama de polemista que eu não entendo, simplesmente não entendo, como alguém pode ter tanto desejo de trilhar esse caminho tão imediatamente. A coleção de pérolas pontua toda sua produção no caderno Ilustrada, na Folha de São Paulo. De falar que ninguém precisa de Bob Dylan, porque graças a Deus nós temos o Be Your Own Pet (aquela banda que acabou outro dia, sabe qual?); ao mais famoso texto sobre a relação da Petrobras com os Festivais Independentes. Mais tarde, soltou em uma conversa a frase que encerrou o papo. “Não preciso ir a um festival para saber como ele é e como funciona”.
Claro.
Agora veio outra dessas grandes. No blog da Ilustrada, ele decidiu dar uma de ovelha negra da família e criticar a atitude do jornal em convidar vários jornalistas e artistas para um debate sobre jornalismo cultural. E ele faz isso da seguinte forma: “Queria saber o que o Cacá Diegues fez de relevante nos últimos 30 anos que o credencia a vomitar a respeito de cultura”. Talvez por Cacá Diegues não ser uma banda que acabou com menos de três anos, e ainda assim melhor que Dylan, ele não saiba que nas últimas três décadas ele dirigiu alguns dos filmes mais importantes do cinema nacional. Entre eles, o maior recordista de bilheteria no país, Deus é Brasileiro.
Claro, o filme é uma merda, mas o sucesso que ele fez é matéria prima para o debate do jornalismo cultural. A relação de gosto, de proeza estética versus mercado e a própria avaliação estética.
O texto tem mais pérolas. Como não fazer o esforço de ler o texto enviado pela própria Ilustrada falando que os jornalistas não devem seguir tabelas e roteiros ao escrever, e mandar o comentário final no esforço inútil de ironia, “Já colocamos as instruções no quadro de avisos da redação da Ilustrada e prometemos segui-las. Valeu pelos toques!”. Sem instruções, Tiney. Sem instruções. Lê o negócio antes de fazer piada em cima dele. É quase uma sugestão tão ridícula quanto “escuta o disco antes de falar que é ruim”. Mas conferir é algo que ele não faz, já que comenta sobre os textos de Simon Reynolds, uma das figuras mais interessantes do jornalismo cultural, com a maior cara de quem nunca o leu.
Sempre faço questão de reforçar por aqui essas cagadas do grande jornalismo nacional. Meio que na tentativa de reforçar o coro do apocalipse dessa imprensa. Mas to começando a pensar em mudar de foco e lançar a campanha: Folha, me contrata no lugar dele!
Segundo ÁLVARO PEREIRA JR.
“Aceite sua insignificância. Ninguém saudável compra ou deixa de comprar um CD por causa de uma crítica. Em geral, críticas de música são lidas por nerds, músicos e outros críticos de música. O leitor normal -aquele que tem uma vida, família, amigos etc.- está pouco se lixando para o que o crítico pensa.
Não fique amigo de músicos. Bandas -principalmente as mais novas- sofrem muito. Dão shows sem ganhar nada, não conseguem divulgação etc. etc. Gravar um disco é mais difícil ainda. Só que é melhor não se envolver com isso, senão você vai ficar com pena dos músicos e fazer sua crítica com base nesse contexto e não na simples audição do CD. Os caras da banda podem ser gente boa, batalhadores e honestos, a baixista pode ser uma gostosa, mas, se fizeram um disco ruim, é isso o que você tem de dizer.
Pratique a crítica destrutiva. Enfie uma coisa na cabeça: você e os músicos ou você e as gravadoras não estão no mesmo barco. E você não tem papel algum na construção de nenhum tipo de cena. No Brasil, a prática do compadrio e da “brodagem” é corrente entre jornalistas, músicos e gravadoras. Todo mundo é amiguinho e se ajuda mutuamente. Gente talentosa perde tempo escrevendo só sobre o que gosta ou finge que gosta. Fuja dessa.”