Fonte: O Inimigo

Por Alexis Peixoto

Em priscas eras, o período que compreende o verão, aqueles dias grudentos de axés, frutares e casas de praia abarrotadas, era algo como uma via crucis para o roqueiro brasileiro médio. A festa pagã da carne em fevereiro então, era o ápice do calvário para o pobre rapaz de preto, condenado a passar quatro dias dentro de casa, fones enterrados nas orelhas, ouvindo Iron Maiden numa fitinha k-7, o volume topado no máximo.

De uns tempos para cá, esse quadro triste tem ficado relegado ao passado e a imaginação fértil de jornalistas mal-intencionados. Entendida pelos produtores de eventos antenados e, principalmente, pelos gestores municipais de Cultura como uma “festa multi-cultural”, o carnaval das principais cidades do país vem abrindo espaço em sua programação para festejos mais barulhentos. Se Recife tem o já lendário Rec-Beat, Curitiba tem o Psycho Carnival (voltado para bandas de rockabilly e psychobilly) e o resto da América Latina tem o Grito Rock, circuito montado para que bandas de diversas partes do Brasil e hermanos de países vizinhos possam desbravar novos territórios enquanto o resto dos incautos cai de boca na garrafa.

Em Natal, o calendário festivo conta há três anos com a Chamada Carnavalesca do Rock. Realizado sempre na terça-feira de carnaval, o evento é gratuito e está incluso tanto no circuito do Grito Rock, quanto no levante empreendido pela Prefeitura de Natal em resgatar a festa dentro dos perímetros urbanos do município. O conceito é tão simples quanto o propósito: a festa reúne bandas locais tocando o terror no Centro Histórico da cidade. O ponto exato dos shows, aliás, é mais do que estratégico: quase parede a parede com o prédio da prefeitura, em frente ao mítico Beco da Lama, reduto da boemia local desde mil-novecentos-e-nada.

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