Por Gabriel Trigueiro
Longe das marchinhas e dos frevos, os roqueiros de carteirinha se reuniram na Cidade Alta para bater cabeça na Chamada do Rock, evento alternativo da última noite do carnaval de Natal. A Chamada reuniu um bom público no cruzamento das ruas Ulisses Caldas e Vigário Bartolomeu, para ver bandas de rock pesado e a apresentação do cantor Leno, ícone da jovem-guarda, que encerrou a programação.
A noite dedicada ao ritmo não muito carnavalesco surpreendeu boa parte do público que foi à Cidade Alta na terça-feira. Um dos que curtiram os shows foi o estudante de engenharia da computação Lauro Kirsch. “O rock também é válido no carnaval. Sou de Cuiabá (Mato Grosso) e lá somos acostumados ao carnaval mais tradicional, porém gosto de diferentes ritmos”, pontuou.
A programação também tirou de casa o publicitário Roberto Solino, que já passou a enxergar o carnaval de Natal com outros olhos. “Acho que as pessoas agora têm motivo para ficar em Natal no carnaval. Na verdade, o carnaval tem que envolver a cidade como um todo, durante os quatro dias. Mas isso já é um começo”, classifica. Ele achou natural haver shows de rock pesado na programação oficial.
As guitarras pesadas e os incalculáveis decibéis – à certa altura, o volume foi reduzido porque o som estava um pouco alto demais até para os rockers mais radicais – das cinco bandas que antecederam o show principal não soaram tão bem assim para a terapeuta ocupacional Thaísa Wancy, que chegou do carnaval de Recife poucas horas antes da Chamada do Rock. “Realmente prefiro o carnaval mais tradicional”, confessa. Já o jornalista Paulo Dumaresq vota na mistura, mas quer um carnaval mais vasto nos próximos anos. “É preciso resgatar o carnaval de rua e também o carnaval dos clubes, como era antigamente. Mas acho que a semente foi plantada”, comemora.
Mesmo dedicada a um ritmo só, a noite foi de pluralidade. Os espectadores curtiram o rockabily de Los Costeletas Flamejantes, o rock em inglês do The Sinks, o stoner rock do Bugs, o instrumental do Camarones Orquestra Guitarrística e o peso do AK-47, cujo show incluiu uma infernal versão de Frevo Mulher, de Zé Ramalho.
Mas o contraponto maior foi mesmo o show de Leno, que fechou a noite com alguns hits da Jovem Guarda, sucessos de Raul Seixas e até um cover de Twist and Shout, dos Beatles. Ele também apresentou músicas do disco Vida e obra de Johnny McCartney, gravado em parceria com Raul Seixas em 1971, mas que só será lançado em grande escala neste ano, por um selo dos Estados Unidos. Mesmo começando por volta das 22h, a apresentação segurou e animou a maior parte do público, formado quase todo por gente que nem estava perto de nascer quando Leno fazia amplo sucesso nacional com a parceira musical Lilian. O cantor, que fez anteontem seu primeiro show “carnavalesco” em mais de 40 anos de carreira, também defende que a festa promova o encontro de diferentes sons. “O carnaval é uma festa, independentemente do ritmo”, define.
O organizador do carnaval de Natal, César Revorêdo, também esteve no evento e deu um saldo positivo à festa popular, apesar do corte de orçamento que a folia deste ano sofreu. “O carnaval provou que nem só de dinheiro se faz uma festa. O mais importante é a alegria. Incrivelmente o nosso carnaval cresceu neste ano. A Redinha ficou cheia de gente todos os dias, as escolas de samba surpreenderam. O pólo de Ponta Negra consolidou-se”, enumera.
Rock inglês, stoner rock… sabe tudo!!!