Talvez essa seja uma associação baseada demais em experiências pessoais, mas não consigo ouvir as músicas de Damned Rock n’Roll, o segundo disco da Vamoz, e não pensar que são canções solitárias. A ausência do baixo nunca é compensa por guitarras graves, o que sempre reforça temas melancólicos como o de “You are Right”, que abre o repertório. “Este é o rock, ele nos fez livre” é uma exaltação a própria condição da banda, o que me dá um pouco de conforto em pensar que minha suspeita sobre um disco solitário não seja apenas reflexo meu como interlocutor.
Porque naquele ofurô da década de 90 tiveram algumas bandas que navegaram sentido contrário. Decidiram trocar as alfaias por ainda mais guitarras e seguir cantando em inglês. Mas apenas a Vamoz levou isso realmente a sério. Talvez a solidão se encontre ai, enquanto eles cavavam sozinhos um pequeno espaço na parede sonora de Pernambuco, abrindo espaço para surgir algumas das bandas mais legais nessa primeira década. A sensação de que o trio não estava confortável na condição de heróis da resistência aparece escondida em trechos como “looks like everybody’s talking about you” e “hype music is a bogus show”.
Mas Damned Rock n’Roll não é sobre mensagens secretas ou entrelinhas. É uma constante auto-afirmação ao amor pelo rock. O gênero é um tópico tão recorrente nas canções quanto a própria frustração pelo amor não correspondido ou desencontrado. Eles aparecem como antagonistas aqui, com uma canção que diz “found me crying deeply” e “I got snow reminding me how I miss you dear” em oposição a “the Sonic Youth is here today” e claro, a grande máxima da banda, “rock n’roll saved my soul again”.
Esse misto de fúria e desolação chega a um ponto em comum na música que dá nome ao disco. Nela, quem escuta é deixado a sua própria interpretação, enquanto a batalha entre as guitarras segue as coordenadas da bateria sem nenhuma letra ou voz de acompanhamento. É quando todas as referências sonoras que passaram pelas canções são reunidas, mostrando como a Vamoz consegue processar tanto o folk rock e o hard rock sem se transformar em um frankstein desorientado.
Nesse embate entre a desilusão do amor e a paixão ardente pelo rock, talvez a última vença. Já que passadas as sensações em jogo, percebe-se que Damned Rock n’Roll não é um projeto solitário. Do quarto membro escondido, Felipe Vieira, que assina quase todas as letras, ao encarte recheado de logomarcas de diferentes estúdios, diferentes selos e até instituições de ensino, percebe-se o coro que se juntou para dar voz a este segundo disco da Vamoz. Esse ensaio de indústria, a sintonia dessa cooperação toda, é coisa rara de ser vista em uma cidade como Recife.
Talvez seja essa sintonia que defina a Vamoz com a banda de rock mais importante em atividade na cidade. Que coloque o trio Marcelo Gomão, Henrique Müller e Pedro Henrique como – com o perdão da repetição – heróis da resistência da cena local. Esse disco carrega o DNA de bandas como Sweet Fanny Adams, Amp e The Keith, que começam a dar nova vida a um Recife que passou muito tempo sob o regime do regionalismo.
Lançado em 2007, Damned Rock and Roll acaba de ser liberado totalmente para download pela banda. Tem um faixa a faixa no site oficial, mas eu reuni todas aqui em um único arquivo para quem quiser baixar o pacote completo. Lembrando que essa é apenas metade da experiência do “rock danado” (como Gomão sempre enfatiza). O disco original vem ainda com um DVD, com uma apresentação ao vivo da banda em show acústico, batizada de “Vamoz na Montanha”, um documentário sobre a gravação do disco, além de clipes e extras.
É isso… rock solitário que encontra pessoas pela estrada. Quando vc percebe, fez o que valeu a pena, e vai continuar fazendo. Nada mais a declarar sobre “Damned Rock”. Essa foi pro nosso site!