Coberturas, Festivais e Shows

COMO FOI? HUMAITÁ PRA PEIXE (RJ) – QUINTA DIA

victor-araujo
Foto: Victor Araújo no HHP2009 por Tomás Rangel

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro

Vitor Araújo transforma Humaitá Pra Peixe em recital erudito
Tecladista prodígio brilhou em espetáculo contemplativo; Paraphernalia trouxe muitas referências pra pouca música boa.

A primeira noite da segunda semana do Festival Humaitá Pra Peixe foi marcada por opostos. De um lado a big band Paraphernalia, e de outro o pianista prodígio Vitor Araújo, que encontrou na Sala Baden Powell, que outrora já foi um cinema, a acústica ideal para uma apresentação digna de um recital erudito. E não era pra menos. Onde já se viu, num festival de música pop, um pianista falando de Beethoven, Bach e Chopin? Falando, sim, já que o rapaz é bom de conversa e intercala momentos de virtuose com tiradas típicas de comédias “stand up”.

Boa a história de que ele, ao “dobrar” o andamento de uma música de Chico Buarque, descobre que se trata da mesma canção composta por Ray Charles. Ou outra segundo a qual ele pagou mico ao perguntar a um maestro europeu se ele conhecia Radiohead. Tudo isso, claro, mostrando seus argumentos com as teclas. Vitor interpreta músicas de compositores eruditos e pop, aproximando o impossível. Um garoto com visual indie, tênis All Star, mas com a cabeça recheada de partituras e, ao que parece, boas idéias. Uma delas é colocar, na mesma apresentação, ícones do rock, da mpb, da música erudita e do forró, numa versão estendida de “Asa Branca”. Só no bis se permitiu levar uma composição própria. Com tão pouco, fez muito.

Com o Paraphernalia, que tocou antes, aconteceu justamente o contrário. Uma big band com muitas referências e, no fim das contas, pouca música realmente boa. E olha que os integrantes tentaram soltar piadinhas para temperar a noite totalmente instrumental, mas sem sucesso. Na verdade o coletivo chama mais a atenção por ter integrantes coadjuvantes de artistas de renome da mpb do que pelo trabalho que tem desenvolvido. Prova disso é que o baixista Alberto Continentino, co-autor de boa parte das músicas, não teve brecha na agenda e mandou um substituto.

O grupo faz um som de big band, Vitória Régia com Chick Corea e Carlos Santana, incluindo funk e soul dos anos 70, e teve bons momentos. Em “Fúria do Dragão”, sobressai um som black da pesada, coadjuvado pelo naipe de metais; “Palhaço Birico” mistura jazz com ritmos latinos com ênfase na guitarra à Santana de Bernardo Bosisio; e a lentinha “Salvem as Baleias” bem que poderia ter sido gravada pelo Azimuth há trinta e poucos anos. Os melhores momentos foram garantidos pelo guitarrista e pelo teclado de Donatinho, quando ambos conseguiam driblar os enfadonhos metais. Muito pouco para uma turma tão bem apadrinhada.

Previous ArticleNext Article

1 Comment

  1. Pelo visto o seu conhecimento de música instrumental deve ser bem limitado, vi o show dos caras e francamente citar Chick Corea e Banda Viória Régia como uma referencia para o som deles …Vitória Regial talvez pelo lado soul do síndico, apesar de a Vitória Regia ser a banda que acompanhou o Tim na sua fase já decadente. E aqueles caras estavam mais para o lado “Universo em desencanto” do Tim, unindo soul e pscicodelismo.Agora “Chick Corea” !! Tento lembrar de todas as fases do pianista americano ( seu primeiro disco Now he sings Now he sobs, a fase Light as a Feather, e depois a horrenda fase fusion com discos como Eletric City) e nem com muito esforço vejo algum parentesco com o som que os caras apresentaram no humaita pra peixe. A única semelhança é o fato de ser instrumental. Isso pra mim é muito pouco já que a musica instrumental é algo tão vasto. Mesmo assim vejo uma mesmice dentro da música instrumental. Pena que o companheiro não soube reconhecer que os caras apresentaram um som instrumental diferente e ousado, com referencias não tão obvias .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *