Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro (RJ)
Naquilo que se convencionou chamar de britpop, o Verve é considerado precursor, mas pouca gente poderia apostar num retorno da banda após cerca de dez aos de seu fim, e – o melhor – em grande forma. “Forth”, de título óbvio, se revela desde o início uma peça de apurado bom gosto que parece reunir boa parte de tudo o que de bom se fez no rock inglês nos últimos tempos, excetuando-se a inevitável volta os anos 80 que empesteou todas as bandas pós anos 2000. Pois o Verve pulou essa parte sem soar “anos 90”, mas apostando no que, depois de pronto, se assemelha a uma espécie de síntese do rock britânico e de si próprio.
Não tanto pelas boas composições, mas pelo tratamento dispensado a cada faixa, logo se vê um apanhando de boas músicas arranjadas uma a uma, e cada partezinha de cada uma delas tratada com precisão cirúrgica. Pela simplicidade encontrada já em “Love Is Noise”, o primeiro single, parece que não, mas o sampler de um corinho feito em estúdio empresta à música toda a graça que ela carrega. Não funcionaria, evidentemente, não fosse muito boa a canção, mas o achado revela a busca por um acabamento fino a partir da música bruta, já que, segundo consta, é de longas jams sessions que o quarteto chega às canções de forte apelo pop. O amor é barulho, é isso aí.
O tal apelo pop se estende por todo o álbum, com as faixas apresentando diferenças substanciais entre si. Richard Ashcroft está no comando e não deixa de ecoar traços da tradição do rock inglês ao lembrar os bons tempos do Echo And The Bunnyman, como se fosse ele o velho Ian McCulloch. Acontece, ao menos, em “Judas”, de tonalidade reflexiva, e em “Rather Be”, outra cujo tratamento feito à quatro paredes funciona extraordinariamente, resultando numa das mais reconfortantes do CD. O disco, aliás, tem essa dualidade: se empolga em alguns momentos, noutros mostra-se assumidamente relaxante e descompromissado com tudo. Caso, também, da viajante “Appalachian Springs”. Já “Noise Epic” mistura as duas facetas, proporcionando, em sucintos oito minutos, os momentos mais pesados do CD.
“Forth”, no entanto, muitas vezes pode não soar agradável, sobretudo na primeira audição. Músicas como “Valium Skies” e “Numbness” são circunspectas e revelam uma nova faceta da dor emblematizada pelo pós punk, mas sem – repita-se – embarcar na onda repetitiva que caracteriza boa parte do novo rock do eixo Reino Unido/Estados Unidos. Mas é a sufocante “Columbo” a mais perfeita representação desse artifício, Com bateria “quebrada”, quase marcial e o baixo à frente da guitarra, Ashcroft entoa vocais traumáticos que dão ao conjunto da música uma cercadura hermeticamente trancada em si própria. Isso até a parte final anunciar uma improvável redenção. Numa palavra? Discaço.