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MARCOS BRAGATTO (RJ): AS COISAS ESTÃO TÃO ACELERADAS QUE QUEREM ACONTECER ANTES E SI PRÓPRIAS

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro (RJ)

Meus amigos, o bicho está pegando. Não sei se vocês têm vindo aqui no Rock em Geral com freqüência nos últimos tempos, mas uma pane no Gardenal está fazendo desaparecer todas as manchetes da home, em caráter, ao que parece, inapelável. Pois a saída é, se vocês têm um pouco mais de paciência, clicar no menu do lado direito, numa das 12 seções, para acessar uma de cada vez. Está tudinho lá. Sei que assim, desse jeito, não há glamour nenhum, nem mérito jornalístico, se é que vocês me entendem. Mas não se preocupem como eu me preocupo, porque isso é a curto prazo. Com o Gardenal à deriva, o negócio é pular na água atrás de outros veículos que nos conduzam a todos e ao rock. Sempre ele. Parado é que não pode ficar.

Não entrei nessa coluna, entretanto, para reclamar ou ficar chorando pitangas. Mas precisava dar uma satisfação à meia dúzia de incautos que costumam passar por aqui, né não? Queria começar dizendo, na verdade, como tudo tem sido tão veloz. É fato para mim que, a medida que vou ficando mais velho, tudo passa muito, mas muito depressa mesmo. Parece, assim, que não há tempo para mais nada. Mas não é só comigo, nem uma questão pessoal ou de idade. Ao que percebo, a era da informação é tão veloz que tudo perde valor num décimo de piscar de olhos. Aquela notícia publicada em um jornal que virava forro de gaiola de passarinho no dia seguinte hoje já sai velha ao ser impressa.

Falando do rock, por exemplo. Depois de 14 anos, parece que “Chinese Democracy”, do Guns N’Roses sai agora em novembro. Só que, mesmo com esse atraso descomunal, esse mesmo disco já foi resenhado, por exemplo, pelos críticos do Jornal do Brasil, uns três meses antes do lançamento oficial. Vazado por um blog na web, cujo dono foi detido pelo FBI, boa parte do material chegou aos ouvidos dos críticos que não perderam tempo: estamparam a capa do caderno de cultura falando isso ou aquilo das músicas.

Faço a observação não em tom de crítica, mas de elogio. Os caras não ficaram – dessa vez – engordando barriga na redação nem esperado a sacolinha da gravadora chegar. Anteciparam-se a tudo e a todos e “deram antes”, que é, na verdade, o maior mérito jornalístico que pode existir. Pouco importa se as versões não eram as finais, ou se havia dúvida sobre isso. Quando a tal sacolinha chegar, o assunto já será velho (e nem me refiro aos 14 anos de espera), e na melhor das hipóteses o CD vai direto para a prateleira, talvez nem seja escutado. Quer velocidade maior que essa?

Outro dia recebi um comentário aqui no site do grande Panamá, o segundo maior freqüentador de shows de rock do Rio de Janeiro – o primeiro vocês sabem quem é. Nesse post ele enumerou quais os discos que ele considera os melhores de 2008. Percebam que estamos no meio de outubro, a dois meses e meio do final do ano, e já há lista de melhores do ano. Confesso que, como jornalista e velho homem da imprensa, toda vez que ouço um bom disco, anoto que, ao final do ano, ele pode ser convocado a estrelar uma das listas de melhores do ano que sempre me pedem ou aquelas que eu faço para este site. Usei o adjetivo “velho” para designar que faço isso porque, no fim das contas, tenho medo de esquecer, daí a anotação. Mas acho estranho que jovens já queiram saber dos melhores do ano, antes do ano, ele próprio, bater botas. As coisas têm sido tão rápidas que estão antecedendo a si próprias, meus amigos.

O grande Panamá não é, também, um caso isolado. Vejam vocês que numa afamada comunidade do orkut, a única de que faço parte por motivação própria, há um tópico intitulado “até agora, qual foi o melhor disco?” iniciado ainda mais cedo, em setembro. Lá os basbaques, desde então, listam seus melhores do ano. É uma eleição permanente de melhores de um ano que só vai terminar quando acabar, no final do ano. Ora, para que, então, numa época em que o tempo é valiosíssimo, perder tempo pensando nisso? A resposta é – repito – que as coisas estão tão aceleradas que querem acontecer antes de si próprias.

O curioso é que, na verdade, não era sobre isso que eu queria falar. Ou, por outra, era sim. Melhor: decidam vocês. Outro dia, escrevi uma dessas “Rock é Rock Mesmo” sobre o prazer de escutar um discaço e se emocionar. Aconteceu com o excepcional “Death Magnetic”, do Metallica. Vocês podem achar que estou emotivo demais nesses últimos tempos, mas – acreditem – aconteceu de novo com outro disco, e era (é?) sobre ele que iria falar. Acontece que tenho o hábito de deixar anotado, num arquivo padrão aqui do word, assuntos pertinentes nos quais tenho que tocar nesta Rock é Rock Mesmo. Ao abrir o tal arquivo, dei de cara com a anotação sobre a rapidez de como as resenhas são feitas, associei ao tópico da comunidade do orkut e ao post do Panamá (abaixo do texto sobre o “Death Magnetic”, diga-se) e desandei a escrever esta coluna. Bonito isso.

Mas, acreditem – e repito -, falo, falo e não era isso que eu queria falar. Queria escrever sobre um discaço, de uma banda que descobri só agora – admito – tardiamente. Uma banda que voltou como se fosse um dinossauro, mesmo sem ter sido. Uma banda cujo disco roda na minha vitrola (sim, chamo CD player de vitrola) sem parar. Digo isso ao mesmo tempo em que clico no ícone “visualizar impressão” aqui do word, e descubro que está na hora de terminar. Poderia ter usado o “contar palavras”, mas no caso dessa coluna a experiência me sugere que a identificação visual é preferível à numérica. No que sou obrigado a guardar minha verve para a semana que vem, com uma coluna inteirinha sobre esse discoar. Está bom para vocês? Pois para mim está.

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