Fazia tempo que eu não escrevia um Namorena News, mas agora deu vontade de falar e pontuar algumas coisas que vi dessa última semana, então vamos lá.
Acabei de chegar do WME – Women’s Music Event, a conferência que é o maior evento de mulheres da música do Brasil. Eu já estive alguma vezes no Prêmio que acontece no final do ano; já fui até premiada, o que é motivo de muito orgulho para mim, mas na conferência ainda não tinha ido.
Já adianto: foi excelente.
Alguns shows me impactaram bastante.
Tulipa Ruiz acompanhada do seu irmão Gustavo Ruiz na Casa Natura, dois monstros despejando versões diferentes e muito viscerais das músicas dos discos. Eu, por algum motivo, ainda não conhecia o “Habilidades Extraordinárias”, o último disco da Tulipa, problema prontamente resolvido na viagem de volta para Natal quando o ouvi inteiro. Baita disco. Dá gosto de ver uma caneta tão afiada como a da Tulipa acompanhada de sua voz e dessa banda absurda de boa. Menção honrosa para Bubu, um dos meus baixistas preferidos.
Outro show impactante foi o da Bia Ferreira. Esse, foi um que eu queria ver há muito tempo, porque sou muito fã da Bia Ferreira. Já acompanhei muitos vídeos dela tocando ou dando entrevistas preciosas e nunca consegui vê-la ao vivo. É mais um show voz e violão, que você dança e bate cabeça. Como será com banda, hein? Fiquei curiosa. Bia é uma artista que precisa ser ouvida, que precisa estar palestrando para a juventude, empoderando essa geração LGBT, preta, periférica. E precisa estar nas escolas públicas, falando e tocando, porque ela causa revolução. Ela causa. Ao mesmo tempo, olha que doçura quando ela permitiu que Suplicy subisse em seu palco para comemorar seu 83o aniversário e cantasse à capela “Eu sei que vou te amar” para a namorada que estava na plateia. Eduardo Suplicy e Bia Ferreira fazendo uma serenata juntos. Não sei se a namorada chorou, mas o resto de nós, sim.
Minha principal atividade no WME foi mediar uma mesa com um assunto nebuloso: “A Saturação do Mercado de Festivais”. E aqui quero falar sobre três pontos.
- Quanto mais festivais melhor. Todo festival que surge é um palco a mais para os artistas. Amo os festivais megas, de marca e midiáticos porque normalmente tem uma excelente estrutura, fazem lines de que todos gostamos e são divertidos. Inclusive, quero tocar em todos eles. Não se trata de uma disputa entre festivais de fomento e festivais de marca. Todos são importantes e se complementam.
- A questão é o investimento. É preciso haver equilíbrio de recursos e políticas públicas sólidas que protejam e fortaleçam os projetos de fomento, de base, calcados em novos artistas e nas suas localidades, que formam público para as cenas existirem e que consolidam a música brasileira. Investir nessa base e em projetos que fomentam novos artistas é fundamental para a manutenção de um setor tão importante da economia que são os festivais de música – e aqui eu acrescento as casas de shows, que dão palco o ano inteiro também para essa cena se fortalecer.
- E o que fazer para hackear esse sistema medonho e ferrenho focado no lucro? Aqui no DoSol, somos adeptos do pensamento e da prática que, quanto mais digital, mais mega blaster, mais ostentoso, mais influencer e celebrity esse mundo for, mais nós iremos na direção oposta, mais misturado, mais perto, mais olho no olho, ocupando territórios e democratizando o acesso seremos. Essa é a nossa carta na manga, porque não tem KPI, Brainstorming, Briefing, Outsourcing que dialogue melhor com a base da nossa cultura do que nós, que estamos aqui há tanto tempo fazendo isso. O que precisamos é equilibrar esse Budget para todo mundo ser feliz. Vai ser tranquilo e favorável? Claro que não. Mas a sustentabilidade para o nosso setor é a pauta principal agora.
Como exemplo, em 2023, fizemos 20 dias de Festival DoSol comemorando nossas 20 edições. Ocupamos vários espaços no centro histórico com entrada gratuita e com preços muito populares, fizemos vários shows na nossa sede e movimentamos a cidade e os artistas, que se alternaram entre palco e platéia, entre artistas e fãs. Uma troca entre a cidade e o festival, que fez dessa a melhor edição de todos os tempos.
Finalmente, quem é fazedor, artista e ativista cultural sabe que não é uma escolha trabalhar com cultura ou criar arte. É um troço mais forte do que a gente, uma utopia. Não tem jeito, se a gente não fizer, definha.
Lugares como o WME, onde a gente vai dialogando, vai criando caminhos e se conectando, é um exemplo de ambiente onde a gente constrói a revolução porque toda revolução é coletiva, ainda mais no maior evento de mulheres da música do Brasil porque revolução também é substantivo feminino.
I would love to find out how to get one of my artists involved in this event next time or whether there are events during the year she could take part in. The artists name is Camille Delaquise and while she is an Australian based in Melbourne her music is very popular in Brazil and other parts of South America. Her music as well as her poetry and art focus very heavily on social issues including the inequality women face in all areas of life particular the arts and how this is amplified by capitalism. Thank you for listening.