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CORREIO DA TARDE (RN)

Ou é 8 ou é 80
Vínicius Menna

Em Natal, quando alguém procura produzir um show musical, ou faz uma mega-produção, para reunir umas 10 mil pessoas, ou prefere um formato menor, para no máximo 300 pessoas. No primeiro caso, é preciso reunir atrações de peso, que tenham apelo de público, e montar uma estrutura capaz de atender a essa multidão. Já para pequenos públicos, basta um espaço razoavelmente agradável, mas muitas vezes os artistas precisam trazer um espetáculo menor, com menos estrutura, para baratear os custos.

Exemplos dos dois casos não faltam. Temos o Festival Música Alimento da Alma, o Mada, os eventos de verão, o Festival DoSol e, no outro extremo, os shows no DoSol Rock Bar e os espetáculos na Casa da Ribeira e no Teatro Sandoval Wanderley. Mas, e quando se quer fazer um show para um público de, no máximo, três mil pessoas? O cancelamento da apresentação do grupo Cordel do Fogo Encantado, que seria amanhã, na Capitania das Artes, expõe uma deficiência da cidade. Um dos motivos alegados pela produção do evento foi a falta de um espaço adequado para a realização de um show de médio porte.

A produtora Liene Titan, da Lado B, que estava organizando o show, teve um certo trabalho para encontrar um local para o evento.

Primeiro, se pensou em fazer o show na Ribeira. “Se eu fosse fazer na Rua Chile, seria um lugar enorme para um show de médio porte”, explica Liene Titan. Então, o primeiro local pensado por ela foi o Show Bar, situado no bairro. “O Show Bar tinha estrutura, banheiro, luz”, diz a produtora.

Mas, depois dos problemas enfrentados com o poder público quando se tentou organizar uma apresentação do Mundo Livre S.A., no mês passado, a nova administração da casa decidiu organizar o local antes de receber qualquer apresentação deste porte.

“Nossa política é fazer tudo para adequar o local aos shows. Estamos tentando nos enquadrar na legislação ambiental vigente, organizar o projeto acústico. Estamos vendo também a questão do habite-se com os bombeiros”, explica o administrador do Show Bar, Douglas Gondin.

A produtora tentou também outros espaços, como o Society Soccer Club e a concessionária Natal Veículos, mas os lugares são considerados impróprios para shows pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). De acordo com Mateus Carvalho, proprietário do Society Soccer Club, a secretaria alega que o clube não tem vedação acústica. “Disseram-me que denunciaram o som alto (em eventos passados). Em Natal, não se pode mais fazer festas depois das 22h”, reclama o dono do clube.

Depois de ter tentado os três lugares citados, Liene Titan procurou a Capitania das Artes, alternativa que salvou o show do Mundo Livre. Mesmo sendo um espaço que comporte a expectativa de público, ainda assim é improvisado. “Não tem nada de estrutura, como banheiros, bar e energia elétrica, pois tínhamos que alugar geradores. Assim, o custo ficaria muito alto”, explica a produtora.

A Lado B pretende trazer a banda Nação Zumbi em 22 de julho, mas teme que o problema de arranjar um espaço adequado para shows de médio porte impossibilite o show. Segundo ela, esta situação é diferente em Mossoró, cidade para onde ela está levando o Los Hermanos. “Eu fiquei pasma porque o local é super-estruturado, com espaço para cinco mil pessoas”, conta a produtora.

A idéia de montar uma casa de shows para sua produtora de eventos passou pela sua cabeça, mas Liene Titan acredita que não daria certo. “Eu não duraria muito. O público nem sempre vai aos shows e o problema do barulho está fechando muitas casas de show”, diz ela.

Produtores em foco

Jomardo Jomas, produtor do Mada, acredita que não há espaços adequados para apresentações de médio porte. “Ou tem evento grande ou tem pequeno. Estamos perdendo turnês por causa dessa falta de espaços”, admite. E sugere ações para reverter o quadro: “Acho que os produtores deveriam se reunir para debater junto aos órgãos públicos sobre uma área que não tivesse problemas com vizinhança ou com a promotoria pública.”

O também produtor Anderson Foca, responsável pelo “conglomerado” DoSol, acredita que o problema não está exatamente nos espaços. “Eu normalmente não faço shows para esse tipo de público. É complicado por causa da questão da cidadania, com o barulho e outros problemas. Realmente, existe um problema para esta demanda de público”, diz ele. Segundo o produtor, a questão dos espaços é um problema para shows de rock, ramo no qual trabalha, porém cita como possibilidade outros espaços, como por exemplo, o Boulevard. “Por isso o DoSol Rock Bar é para 500 pessoas, porque a gente sabe que essa é a demanda para este tipo de público. Até porque, com um espaço para shows de médio porte, eu só faria um ou dois por ano”, comenta.

Para o proprietário da Solaris Discos, Alexandre Alves, Natal é carente neste aspecto. “Ou é oito ou é 80. A falta de espaço é um problema eterno. Falta mesmo o pessoal de produção arrumar um espaço adequado”, diz ele.

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