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RESENHA DE DVD: NIRVANA – LIVE, TONIGHT, SOULD OUT!

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Apesar de ser mais um vídeo do tipo “cata-cata”, o material coletado aqui tem seu valor. Primeiro porque, segundo consta, foi idealizado por Kurt Cobain, que não teve tempo de finalizá-lo, e depois, porque flagra o Nirvana como (talvez) a última banda planetariamente estourada naquele formato antigo de se gravar disco com contrato assinado com gravadora e fazer sucesso. Para os brasileiros, um gostinho a mais: há cenas das apresentações que a banda fez por aqui em 1993, dentro do Hollywood Rock, no Rio (não creditadas) e em São Paulo, além de entrevistas concedidas à MTV – quando esta tinha jornalismo.

Ajuntar cenas de uma banda tocando ao vivo ao longo de cerca de três anos parece até óbvio, mas existe um roteiro oculto que deixa muito claro o que o vídeo (e em última análise Kurt Cobain) quer dizer. Ele trata do descontentamento generalizado do grupo com o sucesso, ou, por outra, da falta de habilidade dos três integrantes do Nirvana de lidar com o sucesso e suas conseqüências – boas ou terríveis para Kurt. Intercaladas com os trechos da banda tocando ao vivo, há ema explanação geral de como, a custa de altas vendagens, o grupo aparecia na mídia, com vinhetas e reprodução de trechos de noticiários (e não só musicais) mundo afora. O terceiro trecho que compõe o mosaico mostra exatamente Kurt tentando decifrar o que tanto o incomodava naquilo tudo, sempre esbravejando que a banda simplesmente não queria estar ali – tudo entendido apesar de uma inacreditável ausência de legendas.

São 16 músicas tocadas no talo bem no estilo Nirvana, que, apesar da edição que por vezes funde shows de diferentes lugares, dá a medida exata do que era banda ao vivo: algo totalmente visceral. Em “Love Buzz”, por exemplo, parte gravada no Texas, parte em Amsterdã, Kurt se empolga e dá um mosh com guitarra e tudo sobre a platéia catártica. Na volta, é puxado para o palco por um segurança que desce a porrada no próprio Kurt, fazendo o show parar antes que um quebra-quebra pudesse colocar o local abaixo. No mesmo show de Amsterdã (ao que parece), Kurt canta “Come As You Are” num desafino só, e quando foi levar “Smells Like Teen Spirit” no consagrador “Top Of The Pops”, em Londres, fez questão de exibir um vocal gutural à Sisters Of Mercy. Outra demonstração de incômodo com a valorização do grande hit da história o Nirvana.

Nas cenas gravadas no Brasil, vê-se um João (realmente) Gordo fazendo a apresentação do show em São Paulo, a banda tocando “Aneurysm” com Kurt e Dave Grohl vestidos ridiculamente de mulher, e ainda há cenas soltas de Kurt se rastejando pelo palco e tentando copular com a câmera da Globo no Rio, no famoso episódio em que ele tentou mostrar os documentos para todo o mundo, via satélite. Aparecem ainda cenas de entrevistas cujo conteúdo vai do nonsense à ladainha do incômodo com a exposição na mídia, causada – de novo – pelo sucesso.

O melhor de tudo, no fim das contas, é ver o Nirvana arrebentando ao vivo. Ver Grohl acabando com a bateria, primeiro com as baquetas, depois destruindo literalmente o kit, assim como fazem Kurt e Krist Novoselic com guitarra e baixo. No final do vídeo, há uma linda coletânea chamada “Noise” só com destruição de instrumentos em momentos de catarse. Para quem esperava um show da banda, as cinco músicas em seqüência retiradas de uma apresentação em Amsterdã, nos Extras, servem de consolo.

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