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RESENHA DE DVD: PIXIES – LIVE AT THE PARADISE IN BOSTON

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Poucas turnês de reunião foram tão esperadas como a do Pixies, que aconteceu em 2004, e por um simples motivo: a banda só ganhou fama depois de acabar, ao ser creditada como influência de ícones do rock como o Nirvana, por exemplo. Ou seja, pouquíssima gente tinha visto o grupo de Boston sobre um palco, e o frenesi para conseguir a façanha, mesmo onze anos depois, foi tão grande que consagrou o até então desconhecido Coachella Festival como o grande evento indie do planeta – ao menos por essas plagas. Até no Brasil a banda teria conseguido a proeza, se não tivesse tocado na provinciana Curitiba, de mentalidade idem.

Tanto alarde terminaria invariavelmente na gravação desse vídeo, na cidade natal do grupo e lançado em 2006, num local bem pequeno, dando um ar romântico do tipo “terminar onde tudo começou”. Só que, não se sabe se os fãs de longa data perceberam, mas o Pixies é muito ruim de palco. De cara, o show sequer começa. Em vez disso, Frank Black trava um duelo verbal com o batera David Lovering na tentativa de ele tocar a doce “La La Love You”, sem ter – segundo consta – ensaiado. Tal procedimento joga por terra qualquer expectativa do público, que, diga-se de passagem, é composto por irredutíveis fãs. Talvez por isso a postura “não estou nem aí” de todos no palco, como, aliás, o Pixies sempre parece procedido.

Não era de se esperar mais de uma banda que sempre seguiu os caminhos mais insólitos, senão ficar à margem do sucesso, e dar passagem a outras que soubessem melhor aproveitar essas idéias, em princípio desconexas, como fez todo mundo acima da Linha do Equador desde então. E aí o que sobra para uma turnê mundial são hits que, bons ou ruins, estão na ponta da língua de todos, ainda mais num lugar diminuto onde a banda nasceu. Assim, clássicos improváveis como “Monkey Gone To Heaven”, a ótima “Wave Of Mutilation” e “Debaser”, a mais ovacionada no reduto, parecem que foram talhadas para fazer sucesso. Basta olhar apenas para os títulos que descobrimos não ter sido o caso.

Não que o Pixies tenha sido uma banda superestimada, mas o palco e as grandes arenas nunca foram os lugares onde o quarteto se sentia mais à vontade. O negócio deles era criar melodias esquisitas, mexer nos andamentos, debochar da uma latinidade ralé e fazer desabrochar alguma beleza do bizarro, na maior cara de pau. Essa dos andamentos foi a deixa para, por exemplo, o Nirvana fundamentar seu típico barulho por vezes calmo. As versões ao vivo desse DVD para “U-Mass” e “Something Against You”, por exemplo, bem que poderiam fazer parte das composições de Kurt Cobain que seguramente ninguém estranharia.

As poucas chances que o Pixies teria comercialmente seriam com o álbum “Bossanova”, o único que tinha músicas com apelo e potencial para uma sólida carreira no mundo do rock. Só que a própria banda parece não ter gostado muito dele, tanto que apenas uma música (“Allison”), dos 13 petardos gravados ali, em 1990 (antes de o grunge espocar), foi incluída no repertório desse show. Prova de que eles preferiam as esquisitices mesmo. Já para confirmar o atestado de “ruins de palco”, basta chegar o show realizado também em Boston, em 1986, que se conclui que não houve nenhuma evolução, pouca coisa mudou na banda. Exceto, claro, os quilões a mais, a queda do cabelo e a qualidade da imagem.

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