Meus amigos, não sei com vocês, mas comigo o momento “should I stay or should I go” é cada fez mais freqüente. Agora, por exemplo. Quero falar de um assunto que não sei de devo fazê-lo aqui ou ali em baixo, na vizinha Bola é Bola Mesmo. Sim, porque cada vez mais a música (e o rock, claro) interage com o futebol e vice-versa. E é justamente o vice-versa que pega. Uma coisa é tão misturada com a outra que a expressão justifica, por si só, a minha dúvida em escrever isso aqui ou acolá. Should I stay or should I go?
Pois vejam vocês que assistindo aos jogos da fabulosa Eurocopa, volta e meia me surpreendia com duas músicas. Uma delas é uma espécie de vinheta que entra nos alto-falantes dos estádios a cada vez que sai um gol. O resultado é um espetáculo fascinante que certamente ficará na memória (também musical) de quem lá torceu e vibrou muito com um gol da seleção de seu país. Sim, porque música tem essa que é a maior de suas propriedades. A de fazer o sujeito, ao escutar uma canção que já conhece, se lembrar exatamente o que acontecia em sua vida no momento em que esta mesma melodia era tocada. Uma coisa linda de morrer.
Eu mesmo, acreditem, de tanto assistir a jogos de Copa do Mundo e de Eurocopa e outras competições entre seleções, já consigo identificar os hinos de alguns países, além, claro, do brasileiro. As excepcionas melodias dos hinos da Suécia, da Argentina e de Portugal, entre outros, às vezes não me saem da cabeça. Cheguei a fazer, à época da Copa de 2006, uma seleção lá em Bola é Bola Mesmo, que incluía ainda, claro, a Marselhesa. Algumas seleções, e não só pelo futebol, caem no gosto da gente por mera simpatia, assim como bandas de rock nos despertam certa predileção (ou repulsão) por uma simples questão de antipatia – ou, ao contrário, de uma cruel abjeção.
Mas eu falava de duas músicas, e, até agora, falei só da tal vinheta oficial do gol, a trilha sonora do triunfo. A segunda, acreditem, vem do canto das torcidas, de todas as torcidas, e é, exatamente, o riff de guitarra da música “Seven Nation Army”, do White Stripes. Confesso que ouvia e ouvia e canto das torcidas, na verdade desde o triunfo italiano na Copa de 2006, mas matutava, matutava, e não chegava a uma conclusão, apenas ao clássico “conheço essa música, só não sei de onde”. Fiquei assim, encafifado, até que li uma nota na Folha On Line desfazendo o mistério. Além de identificar a música como sendo a mesma que saiu de um riff da guitarra de Jack White, a materinha apontava o seu cantarolar como uma verdadeira febre entre as torcidas européias, que adaptam as letras de acordo com cada clube/seleção. Lindo isso, não?
E aí temos a mania, justificável, de dizer que na Europa o nível é outro. Disse justificável porque aqui no Rio, de onde até pouco tempo nasciam os gritos de torcida usados em todo o Brasil, em geral nascem de sambas-enredo, de sucessos popularescos ou dos lamentáveis funks de morro. Mas eis que, nos últimos tempos, as coisas têm mudado. Outro dia, soube que a torcida do Fluminense estava improvisando um canto a partir da melodia de “Yellow Submarine”, dos Beatles. Identifiquei a do Flamengo com outro grito em cima do clássico pop “I Love You Baby”, de Gloria Gaynor. E até a do Corinthians improvisando o “não pára, não pára, não pára”, em cima de “Amigo”, do Rei Roberto Carlos, já é um grande avanço.
Mas a coisa mais surpreendente na seara rock e gritos de torcida veio lá do Sul – tinha que ser de lá mesmo. Quando a torcida gremista canta “vou torcer pro Grêmio bebendo vinho / Libertadores é o meu caminho” não há como não identificar a música “Bebendo Vinho”, do gremista Wander Wildner, que ficou conhecida também com o Ira!. A mesma melodia foi adotada pelos vascaínos, que cantam “vou torcer pro Vasco ser campeão / São Januário, meu caldeirão”. Não deixa de ser recompensador para este velho entusiasta do rock’n’roll ver a música independente brasileira, representada por Wander Wildner, um andarilho punk brega, chegar às massas em rede nacional nas transmissões de TV via torcidas organizadas.
Como disse lá em cima, meus amigos, não sabia se devia falar de futebol numa coluna de rock, ou, por outra, de rock numa coluna de futebol. Assuntos siameses recíprocos e que têm, como se vê, tudo a ver. Nesse momento “should I stay or should I go”, fica a lição: o negócio é sair fazendo. Porque parado é que não dá pra ficar, não é não?
Até a próxima e long live rock’n’roll!!!