Nacional, Notícias

RESENHA DE DVD: PITTY – (DES)CONCERTO AO VIVO

Não é de hoje que projetos do tipo acústico, tributo ou ao vivo vêm sendo usados para alavancar carreiras em decadência. Não é bem essa a situação de Pitty. Pelo contrário, nos últimos quatro anos a ex-vocalista de banda de hardcore dos cafundós da Bahia se transformou numa personalidade nacional reconhecida por todos, e – o melhor -, fazendo rock pesado. De verdade. Por isso o estranhamento com este precoce disco/vídeo gravado ao vivo, com um estofo de apenas dois álbuns, passa logo, a julgar por tudo que foi feito pela banda comandada por Pitty. “Eu tô tocando cada uma delas como se o mundo fosse acabar antes da próxima”, diz Pitty logo no começo, entre uma música e outra. A frase, símbolo da entrega da banda ao público e vice-versa, mostra o grau de interação entre eles, em que pese a lotação esgotada (com filas iniciadas de véspera) nos dois dias em que os shows aconteceram. O repertório de Pitty é conhecido vírgula por vírgula pela platéia, cantando tudo com um entusiasmo atroz que emociona a cantora sem deslumbrá-la. Esperta, Pitty não abre mão de sua voz como faz a maioria dos grupos nessa situação. Seu repertório é variado. Canta andando de um lado a outro, parada na frente do microfone, toca guitarra em várias músicas e até esboça um tímido (mas verdadeiro) mosh no final, em “Seu Mestre Mandou”, que quase lhe custa a blusa.

pittydesconcertocd.jpg
A banda também aparece ensaiadinha.Também pudera, Pitty certamente deve ser uma das recordistas em número de shows, toca em tudo o que é buraco desse Brasil varonil. O discreto Joe e o furioso Duda, juntos desde o início, tocam por mera intuição, e o guitarrista Martin provou ser boa e fiel opção para a banda. Embora o “making of” pomposamente intitulado “{Des}Concerto: Exposé” mostre uma produção cheia gueri-gueri, o efeito final no palco é bem simples, com destaque para o visual de fundo, que segue a linha do álbum “Anacrônico”, o segundo de Pitty. A qualidade de imagem e a edição são também simples e até óbvias, e por mais que o vídeo reproduza o que é, de verdade, o show, há que se lamentar, ao menos, duas ausências. A primeira é a fantástica jam session (momentos de improvisação) que Pitty e seus acólitos costumam fazer; aqui, o artifício é timidamente anunciado antes de “Brinquedo Torto”, quando a pedaleira de Martin ecoa, e num reggae no meio de “Memórias. A segunda é que a excelente “Teto de Vidro”, num universo de poucas músicas, jamais poderia ter sido poupada. Isso, no entanto, no meio do show, não passa de um reles detalhe. Porque os melhores momentos de um espetáculo desses se estendem ao espetáculo em si. Mesmo em músicas lentinhas como a boa “Na Sua Estante”, ou “Equalize”, uma balada clássica, o “bicho pega”, como diz Pitty. Imaginem então em porradas no naipe de “Anacrônico” e “Admirável Chip Novo”, que abrem o show, juntas, com um nível de adrenalina transbordante a olhos vistos. Na nirvânica “No Escuro” a entrega de Pitty, que se estatela no chão, é exemplar, e “Máscara”, o improvável hit abre-alas, se converte num desfecho catártico, com direito ao público (pouco mostrado no vídeo, diga-se) dando mosh a rodo. Por isso a simples audição do CD de mesmo nome e repertório idêntico não dá a medida do que se passa no circo de Pitty.

Como o que passou, passou, o que mais importa no CD é a apresentação de duas músicas novas, que podem dar a medida do que vai acontecer com a carreira da banda. Se olharmos para a excelente “Pulsos”, pesada e com letra bem sacada, no estilo “mais do mesmo, mas diferente” de Pitty escrever, e que funciona muito ao vivo, a coisa vai muito bem, obrigado. Mas se a referência for a óbvia “Malditos Cromossomos”, o caldo pode entornar. Com inspiração de gosto duvidoso, a música só se justifica se for para compor o elenco de outras que mantenham o nível de “Pulsos”. Melhor esperar, então.

Previous ArticleNext Article

4 Comments

  1. Cara, não sei o por que, mas parece que só eu não engulo a Pitty. Ela não me convence muito, mas ainda é melhor do que ter que aturar um axé/pagode da vida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *