O amor sempre foi o tópico mais recorrente na música popular. Ouvindo algumas canções, é possível observar como o homem vai ficando mais frio, mais permissivo e seus valores em relação ao sentimento mudam com o tempo. Nossa época é muito peculiar para pensar no assunto, principalmente quando a sensualidade é trazida em destaque. Nada mais é explicito e a tensão sexual deixou de ser uma negociação de olhares e carícias entre homem e mulher para ser uma simples questão de tempo. Pupillo e Dengue, ambos da Nação Zumbi, junto com Rica Amabis (Instituto) desafiam um pouco desse contexto, reformulando o conceito do sensual no formato da banda 3naMassa. E o que era apenas projeto paralelo ganha agora disco e tratamento refinado pela Deckdisc.
“Eu acho que a sensualidade ainda existe sim na música brasileira“, comenta Pupillo, que recentemente passou a grafar o apelido um L a mais. Coisa de artista. É no mínimo curioso imaginar que fazer parte da mais bem sucedida banda do cenário independente ainda não permite que eles mudem seu “modus operandi” de outras que ainda estão arriscando ao se mudar para São Paulo. “Foi uma coisa pensada por nós três mesmo, a gente divide apartamento aqui em São Paulo e ficávamos pensando em fazer algo bem diferente mesmo“, contextualiza, “Só com meninas.” Talvez ele nem perceba a malícia inteira que se esconde ao associar mulheres já adultas com meninas, um dos grandes segredos desse disco.
“Acho que isso é aflora no disco porque estávamos muito preocupados com a interpretação, como se a gente tivesse invadindo a vida íntima de uma menina“, explica. Além dos três, a massa também tem letras de Jorge du Peixe (Nação Zumbi), Junio Barreto, Rodrigo Amarante (Los Hermanos), Fernando Catatau (Cidadão Instigado), Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Bacteria (Mundo Livre), Felipe S e Marcelo Campelo (Mombojó), China e o jornalista Alex Antunes. “Chamamos nossos amigos e pedimos que eles escrevessem as músicas como se fossem meninas, tentando pensar dessa forma“, conta o baterista, “Pensamos em algo temático, como uma trilha de um filme que não foi feito“.
As “meninas”, na verdade, são um time de primeira divisão. Leandra Leal, Thalma de Freitas, Céu, Karine Carvalho, Pitty, Simone Spoladore, Nina Becker, Cyz, Alice Braga Geanine, Nina Miranda, Karina Falcão e Lurdes da Luz. Algumas, os mais atentos vão perceber, são as respectivas dos próprios compositores. Pensando sempre nesse conceito de cinema, Pupillo se refere a elas sempre como atrizes. “Lógico que tem ótimas cantoras ali, mas as chamamos também por serem mais descompromissadas com técnicas vocais, isso era fundamental para o que a gente dirigiu em estúdio, de uma sensualidade sem ser vulgar, deixada na entrelinha“.
Já de cara, na primeira faixa, com Leandra Leal sussurrando em francês nos ouvidos, saltam as referências a Serge Gainsbourg. “A gente tava ouvindo muito ele em casa e como foi um disco feito em casa mesmo…“, conta Pupillo. “Fomos usando imagens de coisas que a gente curte para elas, então foram desenvolvendo novos temas, todo mundo participou trocando idéias, então foi muito fácil principalmente para as atrizes“, completa. Apesar do saudosismo carregar a memória direto para a França dos anos 60, existe algo de mais contemporâneo, principalmente na forma como cada cantora (aliás, atriz) é usada de forma diferente nas faixas. Quase como uma versão brasileira para a banda inglesa de trip hop Massive Attack.
Agora que saiu da sala de casa, o 3naMassa além de disco já começa a planejar os primeiros shows. “A idéia era fazer uma trilha, mas queremos levar isso para frente mesmo“, adianta Pupillo. “No lançamento aqui em São Paulo vamos tentar ter o máximo de atrizes no palco, mas a idéia é viajar com algo mais enxuto“, explica. “A coluna vertebral somos nós três mesmo“. Se já é perigoso ouvir a banda com um fone, com todas essas mulheres sussurrando no ouvido, depois da primeira impressão é inevitável não pensar no tamanho charme que deve ser com essas músicas ao vivo.
Dúvida:
Quando é o lançamento?
quando será/terá o show?
(SP)