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CLIPPING: CIRCUITO CULTURAL RIBEIRA NA TRIBUNA DO NORTE

Yuno Silva – repórter

Berço da cidade, velha de guerra, centro histórico, patrimônio arquitetônico… a Ribeira é conhecida de várias maneiras, mas nenhuma delas é capaz de sensibilizar os gestores públicos, que remam contra a maré ao não perceber a vocação do bairro como pólo cultural. Felizmente, a favor dessa maré, há iniciativas exitosas que movimentam o lugar com uma programação artística de primeira qualidade. Uma delas, a Casa da Ribeira, está prestes a completar dez anos de atividades.

fotos:adriano abreuPrédio da Casa da Ribeira completa cem anos no mesmo mês de aniversário do teatro,  que comemora, domingo, uma década de portas abertasPrédio da Casa da Ribeira completa cem anos no mesmo mês de aniversário do teatro, que comemora, domingo, uma década de portas abertas

Acomodada em um casarão antigo, centenário, que chegou a funcionar como hospedaria e abrigou a padaria Palmeiras, a Casa passa por sua primeira reforma profunda desde que abriu as portas em 6 de março de 2001, ou seja, o marco zero é domingo de carnaval. Esse clima de renovação também reflete nos projetos que ganharão – literalmente – as ruas e becos nos próximos meses. Dentre eles, o projeto Circuito Cultural Ribeira merece destaque especial. “Será, digamos, um ‘Na Rua da Casa’ ampliado”, adianta Edson Silva, um dos quatro diretores da Casa da Ribeira. Edson responde pela presidência da ong Casa da Ribeira, pela direção executiva e pelo relacionamento institucional.

Para quem não lembra ou não nunca ouviu falar no evento, o “Na Rua da Casa” funcionava mensalmente em frente ao prédio antes dele ser inaugurado como espaço cultural. “Foram 19 meses, e até hoje me perguntam quando vamos voltar com o Na Rua… realmente ficou marcado na memória”, disse Gustavo Wanderley, diretor responsável pelo planejamento da Casa. O ator e jornalista Henrique Fontes, diretor educativo e artístico, e Cláudia Viana, a integrante mais recente do quarteto e responsável pela direção administrativa, completam o time.

Circuito

A primeira edição do Circuito Cultural Ribeira acontece no próximo dia 8 de março, terça-feira de Carnaval, com extensa programação musical com as bandas Canastra (RJ), Cabruera (PB), Camarones Orquestra Guitarrística, DuSouto, Baile Sem Perder O Passo (Valéria Oliveira & Rosa de Pedra), Trem Fantasma e Banda de Choro do Buraco da Catita. Tudo de graça, no meio da rua Frei Miguelinho (não por acaso, a rua da Casa!).

“Após essa primeira edição, o Circuito estreia seu formato definitivo: serão oito edições mensais, já a partir de abril, sempre no primeiro domingo de cada mês. O projeto tem patrocínio do Conexão Vivo e será gerido em parceria com o Centro Cultural DoSol”, informa Gustavo Wanderley. Juntos, Casa da Ribeira e DoSol, irão gerenciar recursos para movimentar outros espaços culturais no bairro como Buraco da Catita, Gira Dança, Galpão 29, Central Ribeira, ateliê Flávio Freitas e o casarão Ferreira Itajubá. “Todos vão funcionar ao mesmo tempo”, reforça Gustavo.

A intenção é, além de proporcionar uma programação de qualidade e gratuita, “atrelar o evento à educação patrimonial”, completa Edson. “Queremos fazer com que as pessoas reconheçam a Ribeira como patrimônio, ampliar o olhar das pessoas para este bairro”, acrescenta.

Reforma termina em tempo do Dia Mundial do Teatro

O centro cultural entrou em recesso no mês de dezembro, e a reforma começou em janeiro. “A previsão é reabrir as portas dia 23 de março com um evento para convidados e pessoas especiais que sempre acreditaram no sonho de erguer este espaço”, adianta Wanderley.

A reforma conta com patrocínio da Cosern, através da Lei estadual de incentivo à Cultura Câmara Cascudo, e nos planos está a substituição de todo o equipamento de som e iluminação, o carpete, a recuperação das cadeiras, a troca de instalações elétricas e novo tratamento acústico. “Teremos uma das salas mais modernas do Nordeste, com um sistema moderníssimo de som 5.1, mesas digitais, novos microfones”, aposta Gustavo. O engenheiro de som Eduardo Pinheiro, do estúdio Megafone, está responsável pela consultoria e ajuste deste novo equipamento, enquanto Ronaldo Costa responde pela parte de luz.

“Estamos trabalhando com o melhor equipamento e os melhores profissionais disponíveis no mercado”, garantem os diretores.

O raio X da Casa

A Casa da Ribeira começou a ser pensada em 1997, época em que a direção era formada por onze pessoas. Por questões de afinidade e objetivos, o grupo acabou se dividindo naturalmente e uma parte acabou se dedicando exclusivamente ao grupo de teatro Clowns de Shakespeare. “Muita gente ainda confunde, mas sempre fomos dois grupos distintos: Casa da Ribeira e Clowns, apesar dos integrantes terem transitado por um tempo nos dois grupos”, frisa Henrique Fontes, que hoje é ator e diretor do Coletivo Atores à Deriva.

De Espaço Cultural para Centro Cultural, hoje a Casa da Ribeira adota o subtítulo “Educação e Cultura” e sua principal fonte de renda são os projetos realizados através de editais e leis de incentivo. O custo mínimo mensal para manutenção do espaço gira em torno de 15 mil reais, que dão conta das despesas básicas, seis funcionários e seis arte educadores. “Não temos empresas e parceiros mantenedores, não há verba fixa. Temos que aprovar e realizar projetos para continuar funcionando. A manutenção é nosso principal desafio, pois potenciais parceiros (empresários, poder público) ainda não perceberam que fazer cultura é bem mais que patrocinar um evento”, garante Edson.

Em 2004, a Casa chegou a fechar as portas durante quatro meses por falta de verba, mas um grupo de empresários se uniu para viabilizar a reabertura do espaço cultural.

“Para tentar driblar essas dificuldades é que estamos nos articulando em rede, enquanto movimentos independentes”, explica Gustavo. “Lembro que fomos os primeiros a lançar editais públicos no RN, quando em 2002 lançamos o Cosern Musical. Todo o que pensamos vai além do simples evento: há um cuidado para oferecer possibilidades de capacitação, de profissionalização. O Cosern Musical foi exemplo disso: o edital previa integração da música com elementos cênicos, iluminação, figurino, direção…”, lembra o diretor de projetos.

Entre essas iniciativas de integração está o projeto ArteAção, que trabalhou o fazer cultural dentro de escolas, que capacitou jovens em cenotécnica. “Atendemos cerca de 300 jovens com o ArteAção, e um grupo acabou seguindo a carreira artística. Foi daí que surgiu o Grupo Casa da Ribeira de Teatro, em 2006, com o qual já ganhamos prêmios nacionais e regionais”, disse Henrique. “Trabalhar com Cultura é ampliar os horizontes, e estamos felizes com esses resultados”, garante.

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