Notícias

CLIPPING: DJ DOLORES E CIRCUITO ROCK DOSOL NO JORNAL DE HOJE MATUTINO

O MUNDO COMEÇA NO SEU TERREIRO
Por Rodrigo Levino

Afora discursos políticos inflamados e a velha dicotomia pobres e ricos, império e dominados, a grande sacada da globalização tem sido o intercâmbio cultural que a era da comunicação – em massa e instantânea – tem nos oferecido.

Foi-se o tempo que o nosso quintal era apenas nosso. O mundo voltou seus olhos s diversas tendências e criações, até então fechadas em guetos locais. Da mesma forma, sem maiores dificuldades podemos lançar mão e outros sentidos a tudo que acontece no mundo, estando sempre a nosso critério que fim dar a esse grande volume de informações que aportam nos terminais de tecnologia, hoje de fácil acesso.

Imagine então a música, uma espécie de linguagem universal, encontrando um caminho de tão fácil escoamento como a Internet, os programas de troca de arquivos musicais, transformando, misturando e unindo sons contemporâneos com cantos e culturas do mais longínquo rincão. É mais ou menos isso que o multimídia sergipano radicado em Pernambuco Hélder Aragão, vulgo Dj Dolores, tem feito: traficado informações musicais, sons, influências, trocando raridades nativas por inovações modernosas, e o que é melhor: sem cometer crime algum.

Meninos, ele viu. Dolores estava com sua parabólica fincada na lama, quando dos canais de Pernambuco ouviu-se o manifesto do Manguebit – a Tropicália dos anos 90. E se você acha que o movimento só o foi, enquanto não escancarou na mídia, vai se dar bem com ele.

Iniciou a carreira como Dj em 1989, mas foi com o projeto Dj Dolores e Orquestra Santa Massa, no início desta década, que teve seu trabalho repercutido. Minando aos poucos o dilema entre o que é regional e/ou universal, foram fundindo samplers e rabecas, baião e embolada com drum’n’bass, Mestre Salu com Aphex Twins. O primeiro registro fonográfico ficou por conta da coletânea Muquifo Records Orgânico/Sintético, lançado em 2001, com a música A Dança da Moda. Depois lançaram o disco Contraditório, e viraram hype, com uma penca de elogios da mídia especializada e ótima recepção do público para as músicas Subúrbio Soul, Dança da Moda e Nordestina.

O grupo, quela época, era um mix de muita coisa que fervia em Recife. Na formação, além do próprio Dolores, Fábio Trummer líder do Eddie, Maciel Salustiano, rabequeiro e filho do lendário Mestre de Maracatu, Isaar França do Comadre Florzinha e o percussionista Mr. Jam. Como se vê, ecletismo era a palavra de ordem. Falaram de Pernambuco para o mundo, sacudiram corpos e espíritos com sua música para dançar e deixaram uma bela marca na nova música brasileira. Popular, diga-se de passagem, além de internacional. Com sua trupe, Dolores chegou a fazer 34 shows entre EUA e Europa.

Foi-se a orquestra, ficaram as idéias sempre interessantes de fusões e outras óticas do mesmo assunto. Assim surgiu em 2004, seu novo projeto Dj Dolores: Aparelhagem. Uma referência bem humorada expressão comumente usada pelo povo, para qualquer sound system. vPara quem achava que a fonte havia esgotado, basta ouvir o disco homônimo lançado ano passado, de forma independente. Mais uma vez Dolores acerta a mão e capricha na confluência de dub, reggae, canto de lavadeiras, sintetizadores, as guitarradas paraenses e percussão.

Antes mesmo de pôr o disco nas bancas, Dolores se lançou numa turnê pelo leste europeu, tocando em festivais importantes como o Womad. Voltou, concluiu os trabalhos, divulgou a obra no próprio terreiro, e como de costume, caiu de novo nas estradas do Velho Mundo. Ano passado mostrou serviço da Cite de la Musique em Paris, até o Paradiso, em Amsterdã, consolidando-se como um dos artistas brasileiros com melhor trânsito no exterior. Transportando na bagagem velhos discos de Roberto Carlos que marcaram sua infância, as tradições nordestinas de raiz e tudo que de mais moderno se produz em sons eletrônicos.

Nessa empreitada continuam na cola Isaar França, nos vocais, Lucas dos Prazeres na percussão e Francisco Forró no trumpete. Portanto, amanhã é uma ótima oportunidade para quem já conhece e se esbalda na música sem fronteiras e contagiante de Dolores, e para os que querem descobrir o que ele tem que tanto encanta os gringos.

O show – imperdível – fecha com chave de ouro o Circuito DoSol Rock, que deu uma nova cara ao verão e enterrou a máxima que “alternativos” não têm muito o que fazer além de lual na beira da praia. Para acompanhar em grande estilo, a noite ainda conta com as participações da Experiência Ápyus e Dj Magão, com um set list matador. Magão dispensa apresentações, quem quiser conferir de grunge a standards indies, esteja lá.

A Experiência encontra-se em estúdio atualmente, gravando um ousado e dançante disco duplo, com muito rock-samba-funk e letras interessantes. Mais detalhes após os comerciais. Você não vai se arrepender.

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *