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FESTIVAL DOSOL 2008: ENTREVISTA – PLASTIC NOIR (CE)

Por Léo Seabra

Conteúdo: www.cocuruto.com

O Plastique Noir é uma banda de Fortaleza formada em 2005, que pega carona no clima de Revival do Post Punk, apostando no lado mais obscuro do gênero, o gothic rock/darkwave. O grupo é mais uma banda que se apresentará em Natal no Festival Dosol 2008. Em entrevista, Airton o vocalista da banda fala sobre referências, o caminho que eles trilham e perspectivas futuras…

Uma pergunta clichê pra começar, quais as principais bandas que servem como referências pra vocês?
Em nosso inocente começo, quando formamos a banda basicamente “for fun”, tentávamos soar como algo entre Sisters of Mercy e The Cure. Mas a coisa toda foi ganhando corpo e passou a rolar uma cobrança do público, da mídia e sobretudo de nós mesmos para que começássemos a extrapolar pouco a pouco a fronteira do gothic/darkwave, que são e sempre foram os gêneros mais adequados na sempre indesejada hora de nos rotular. Acredito que alcançamos certa identidade, mas que poderá e deverá tomar uma forma ainda mais definida. Afinal, apesar de sermos todos oriundos de outras bandas e estarmos tocando na cena há uns 10 anos, o Plastique só tem três anos de atividades. Passamos então a agregar influências mais atuais como She Wants Revenge, Interpol, Cut Copy, Radio Dept, A Covenant of Thorns etc. Sinto que nossa música se expande em direção à amplitude de nossas bagagens, as quais comportam muita coisa que não apenas som gótico.

Em tempos de youtube e my space, uma infinidade de bandas mostra o seu trabalho e aí a cena independente fica cada vez mais disputada, qual é o maior diferencial para uma banda se destacar no meio a tantas?
Não ficar na mesmice hype. O mundo não precisa novos Los Hermanos, Mundos Livres e Mombojós. Outra coisa que rola muito é o uso do beat eletrônico em vez de batera só para soar cool. Costumam pôr pra rolar o Fruity Loops, programeco este que, embora tenha aqueles seus usuários que saibam produzir legal, no geral tem os bumbos mais sem peso que eu já ouvi. A galera faz sem estudo de timbre, não tem uma justificativa em termos de contexto, genealogia, nada. Pessoalmente não curto essa postura à deriva. A inovação deve ser buscada no discurso também. A gente procura furar essa rede emaranhada com certas estratégias, como, por exemplo, atualizar páginas nas horas certas do dia (movimentação de pico), soltar lançamentos em datas estratégicas e sempre no começo do fim de semana (quando o boca a boca se acentua) e, principalmente, não segurar material: tudo o que produzimos liberamos pra download. É vantagem para a banda, que se torna conhecida e passa a lucrar com shows e merchandising, além de até mesmo impulsionar vendas de mídias físicas para aqueles que ainda preservam o fetiche do colecionador. E é vantagem também para o público, que está sendo, além de tudo o mais, presenteado com a possibilidade de exercer um papel mais pró-ativo.

Algumas bandas carregam influências de outras décadas sem ficar com um som “datado”. Existe uma preocupação da banda enquanto a não parecer nostálgica e presa demais as referências “oitentistas”?
Sim. Por isso mesmo estamos tentando encontrar referências novas. Acho que nossa preocupação maior não é nem com essa coisa de soar datado, até porque o rock passa por ciclos mesmo e isso é a coisa mais natural do mundo. Assim, essa tal palavra, “datado”, já nasce com sentido falho, evito ao máximo usá-la porque não faz o menor sentido. Temos mais preocupação com não permanecer restritos ao universo convencionalmente chamado de gótico.

Quais são as dificuldades da banda, já que ela faz parte de um meio tão restrito como o gótico?
No mundo lá fora, somos mais bem-sucedidos promocionalmente enquanto banda darkwave. Já em Fortaleza acontece o contrário, talvez dadas as reduzidas dimensões da cena local: antes de mais nada, aqui somos uma banda independente como as outras que estão no pau, como o Fóssil, O Garfo, Telerama, Red Run, Joseph K? etc. Pra você ter uma idéia, o tipo de gente que menos comparece aos nosso shows em Fortaleza são os góticos. Queríamos que as lógicas se invertessem. Tipo, na cena gótica brasileira, eu conheço todos os peixões e eles me conhecem, sabem quem eu sou e me respeitam. Já nesse meio da Abrafim, a gente é quase anônimo e eu queria mudar isso. Nossa participação no Ponto.CE e na Feira da Música, bem como algumas menções no Fora do Eixo, já aliviaram um pouco mais nossa sensação de pouco-aproveitamento de oportunidades. Acho que o DoSol será outro passo importante.

No Plastique Noir, vocês contam com um produtor desde o início? Qual é a importância do trabalho dele na banda?
Total. Ele nos produz desde o primeiríssimo show, numa sexta-feira 13 de janeiro de 2006. O Rafael, além de nosso queridíssimo amigo, vende nosso trabalho aos selos, garante que não passemos mais que um mês longe dos palcos, atualiza nossas páginas, estabelece contatos quentes, nos transporta e até cuida da nossa grana. Acho que ele só não limpa nosso cu depois de cagarmos. E ainda serve de fonte de risadas devido à figura ímpar que é. Sem ele, acho que a banda já teria acabado por falta de viabilidade logística.

É costumeiro ver bandas ter mais êxito fora de sua cidade e seu país. Com a banda esse fenômeno se repete? Se sim, por quais motivos?
Sim, se repete conosco. Lá fora lotamos casas. Aqui nem sempre. Fortaleza é uma cidade estranha. Já percebi algo que acontece aqui que daria um ótimo tema para pesquisa científica: a movimentação da cena oscila por períodos de quatro anos, sendo os dois primeiros bastante aquecidos, casas abrindo, bandas estourando, lotações esgotadas; e os dois últimos de marasmo total, casas fechando, shows vazios, tédio reinando. Estamos passado pelo fim de um desses períodos de vacas magras. Aposto até as calças como 2009 vai bombar. Tem também a velha máxima “aja localmente, pense globalmente”. A internet, como você já abordou aqui na entrevista, facilita muito para que o trabalho saia.

Com tão pouco tempo de carreira, mas tanto reconhecimento, aumenta a pressão sobre a banda para produzir novos e melhores trabalhos? Como a banda lida com isso?
Aumenta demais. Nem sempre lidamos bem com isso e os conflitos surgem. Tenho tentado não cobrar tão severamente meus bandmates. Há não muito tempo eu andava numas de perseguição implacável, de buscar o “estouro” a qualquer custo e o quanto antes e vi que isso estava desgastando nossa relação. Desencanei mais e tenho tentado dar um passo de cada vez.

Perspectivas para lançamento de um novo álbum em breve? Quais são os planos da banda para o futuro?
Lançar o álbum Dead Pop. Está atrasado um ano, porque muita coisa aconteceu até aqui. Mas agora está quase tudo definido. Vamos escolher uma dentre quatro capas (todo o resto do projeto gráfico já está finalizado) e soltar na net numa destas semanas de outubro. A versão física sai em dezembro pela Pisces (SP). Negociamos com alguns selos gringos que nos procuraram, mas nenhuma das propostas de contrato, digamos, nos inspirou. A idéia é, até o dia do lançamento, divulgar um pouco mais o EP “Those Who Walk By The Night – The Remixes”, que conta com 5 versões remixadas da mesma música (que intitula o disco) produzidas pelo DJ LOF, a mente e coração por trás do fantástico projeto EBM/Synthpop recifense, Synthetik Form. Depois vamos sair em viagem de novo: João Pessoa, Natal, Sampa e outras cidades que ainda não confirmaram. Enquanto não embarcamos, temos nos encontrado semanalmente para criar, experimentar, enfim, botar idéias novas na mesa. O norteador das sessions é “fazer o que nunca fizemos antes”. Toda composição, arranjo etc. que se encaixar nisso, tá dentro do projeto que deve virar um demo. Ah, e pretendemos soltar na primeira metade de 2009 um EP com nossas primeiras tentativas em português. Título prévio de “A Última Flor do Láscio”. Aguardem surpresas.

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5 Comments

  1. Valeu, galera do festival, principalmente o grande Foca, sempre brother! Vamos detonar em Natal dia 2 e espero que todos curtam nosso rock trevas! Ah, e é “PlastiQUE”, huhuhuu.

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