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Rafael Duarte – Repórter

A batida do vento que sopra na direção da banda potiguar DuSouto é eletrônica. Criado em 2005 pelos músicos Paulo e Gabriel Souto após o fim do Sangueblues, o grupo absorveu a filosofia da grande rede e ganhou o mundo. No contrato garimpado com a gravadora carioca Nikita Records, o DuSouto foi parar na Copa da Alemanha ao incluir a música Ie Mae Jah no game FIFA SOCCER 2006. Mês passado outro bônus: “Ie Mae Jah” e “Do outro lado de lá” foram incluídas na coletânea de músicas brasileiras “Busta Brasileira” (algo como a melhor música brasileira) comercializada no Japão.

Empolgada com os frutos do primeiro CD “DuSouto”, a banda volta aos palcos sexta-feira, 4 de agosto, no primeiro dia de rock do festival Dosol. O baixista Paulo Souto, 35 anos, conversou com a TRIBUNA DO NORTE. Ele do passado, do presente e do futuro:

O Momento

“O que a gente está vivendo hoje é incrível, estamos muito mais maduros do que quando lançamos o CD no ano passado. Esse contrato com a Nikita, a distribuição das músicas na game da FIFA e numa coletânea de músicas brasileiras no Japão, a “Busta Brasileira”, nos pegou de surpresa. A certeza que temos é de que o segundo vai ser ainda melhor que o primeiro. Começamos a nova parte de edição de imagens do DuSouto, temos vários músicas prontas que já vamos mostrar no show do festival Dosol.”

Processo de produção

É uma coisa quase que fisiológica. Um dia desse fiz uma música em dez minutos durante uma caminhada da minha casa para a casa da minha mãe. Outras demoro uns dois ou três meses para terminar. Eu e o Gustavo compomos desde os 13 anos de idade. Aprendi a tocar violão nessa época e via que naqueles cadernos de música só tinha Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia… não era a minha língua. No começo dos anos 80 também não tinha nada. Foi aí que decidimos fazer nossas próprias músicas.

Início

De uma forma ou de outra o General Junkie foi a semente do DuSouto. Mas na verdade a banda começou comigo e com o Gabriel depois que saí do Sangueblues. Passamos um ano e meio fazendo interpretações com uma pegada eletrônica de outros músicos até que o Gustavo chegou e disse que se a gente tocava Otto poderíamos fazer nossas próprias músicas. E colocamos a idéia para frente.

Mercado

A chegada da Nikita foi massa porque antes de lançar o CD, já nos colocou no mercado com o game e a coletânea no Japão. Conseguimos pagar a nossa parte no contrato. Tinha ficado combinado que bancaríamos a remasterização e com a grana que rolou quitamos tudo e empatamos o jogo. No mais, acho que a abertura que isso deu na mídia foi importante. O feedback também está legal. Em Recife e João Pessoa a galera comenta, a gente descobre muitos jogadores do game da FIFA de plantão nos shows.

Remasterização

Agora é outra história, outra qualidade. É um CD mesmo. Não parece mais uma demo. Tem todos os requisitos: material gráfico de primeira e uma diferença grande na gravação das músicas. Antes por não termos finalizado direito, a gente sentia que algumas faixas davam uma capengada, principalmente quando comparávamos com outro CD. Hoje está pau.

Futuro

Gustavo (Lamartine) está no Rio de Janeiro fazendo uns cursos, volta agora para tocar no festival Dosol e vai de novo. Devemos ir em setembro para o Rio iniciar uma turnê porque o próprio Lerena (Felipe Lerena, diretor da Nikita) disse que se a gente não começasse a pegar a estrada a coisa não ia andar só pela gravadora. A idéia é começar os contatos e fazer Rio, São Paulo e o sul.

Nikita Records

A Nikita não é uma gravadora, mas uma editora. No nosso contrato, eles têm autorização para trabalhar com as músicas por cinco anos. A impressão do CD é deles e por isso a gente recebe uma porcentagem mínima. Na verdade, a Nikita é um contato entre o artista e um distribuidor.

Estrutura

É pequena. Tem umas quatro pessoas apenas trabalhando para o Lerena, e todo terceirizados. Um cara na web, outro na remasterização e edição e mais dois ou três caras… é parecido com a forma como a gente trabalha.

Filosofia

É mais ou menos a filosofia do “vale quanto pesa”. Por exemplo: se o Los Hermanos vem fazer um show aqui e cobra R$ 30 mil, tem que levar muita gente para o show. No contrato da gente agora, o Lerena falou que ia fazer uma tiragem mínima de cinco mil exemplares porque quem diz se é bom é o público. Outro coisa é que o cara está apostando na internet. O CD está a venda nos sites submarino, imusica, msnmusic…

Mainstream

É um sonho, mas com os dois pés no chão. A gente não sabe quando nem onde isso vai acontecer. Ninguém pretende abandonar os afazeres, mas no dia em que a música estiver mais solicitada que o nosso trabalho diário vamos abandoná-lo e buscar a música. Não temos uma gravadora para pagar jabá nas rádios… O que me importa é que se eu levar uma vaia vou me sentir péssimo, vai ter que mudar tudo. Agora, quando a galera pede bis estou no céu. Cansamos desse oba oba, de esperar acontecer… Ficamos no oba oba com o General durante 10 anos e quando fomos gravar não tinha mais sentido. O meu mainstreain é dinheiro no bolso para poder viver.

General Junkie

O General durou o tempo que tinha que durar. Gravamos o disco mais como um registro porque não tinha mais nada a ver com que estávamos querendo fazer. Não fazia mais sentido interpretar músicas que escrevemos sete anos atrás, sabe… não era aquilo que a gente estava a fim de dizer. Sentíamos dificuldade em renovar. O General era muito rock in roll, mas a gente não se apega tanto a isso. Somos músicos. O DuSouto está soando eletrônico hoje, mas não tenho a mínima idéia do que pode acontecer no próximo disco.

Gabriel Souto

O Gabriel Souto (DJ da banda) é um gênio. Ele foi imprescindível na formação atual e na proposta da banda. Chegou com o novo, aprendeu edição de áudio, de imagem, a parte de web. Isso tudo com 23 anos de idade. No início passava umas coisas para ele, mas o moleque está me dando aula! A gente tentou colocá-lo no General (Junkie) mas ficou meio fora de contexto. Com o DuSouto foi diferente, essa pegada eletrônica tem tudo a ver com a idéia.

Estilo

A gente nunca seguiu nada. Mesmo quando tínhamos 16, 17 anos, nunca fomos punk, metaleiros, darks, sempre fomos mais para o junkie. Preferi curtir a vida sem essa idiotisse de segmentar a coisa. Nos anos 80, 70% dos meus amigos tinham cabelo grande e usavam roupa preta. Era uma coisa muito demodê!. Para mim, os anos 80 foram péssimos culturalmente. Essa coisa do manguebeat também não curti muito. Eu sou gente normal. Para mim, os anos 90 foi a melhor fase porque desmistificou esse lance de casta na música.

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