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TEATRO MÁGICO EM NATAL: COMO FOI

Vou logo contar o final da piada: a intenção deste texto é falar muito bem do Teatro Mágico e muito mal de todas as outras bandas que fazem sucesso atualmente. Por quê? Só para ir de encontro à maré. É normal bandas como o TM serem criticadas para que se elogiem projetos com muito menos sal que este que lotou o Centro de Convenções ontem aqui em Natal. No entanto, tentarei provar que tal atitude não passa de uma injustiça alimentada por egos inflamados.

Sabe quando no colégio você finalizava aquele trabalho de história escrito a mão numa folha de caderno, mas ao entregar ao professor o depositava em cima do trabalho do melhor aluno da turma, trabalho este impresso a laser, com capa dura, ilustrações coloridas, tão recheado de anexos que se posto na vertical se sustentaria em pé? Dava ódio, não dava? Pois bem: o Teatro Mágico é este melhor aluno. E muitas pessoas o odeiam por isso. O som do seu show é perfeito. O figurino também. A luz. O roteiro. As performances tanto musicais como circenses. Até as letras, que no disco incomodam um pouco graças ao excesso de trocadilhos (que são uma variável inconstante na poesia: enquanto em Zeca Baleiro soa genial, em Humberto Gessinger pouco passa de um engodo), dentro de um contexto mais teatral fizeram mais sentido. O resultado disso tudo: idolatria de um lado, despeito do outro.

Ontem, logicamente, se fez presente a idolatria. Umas 800 delas. Dizem ser eles os fãs órfãos do Los Hermanos. Em parte, é verdade. Com certeza também se trata de um grupo universitário que exige da arte algo que vá além do simples e fácil. Mas não sei… Tenho para mim que a galera de Marcelo Camelo e Cia era bem mais “emo” que esta, que está ali mais pela folia do que para chorar as dores de um amor perdido. Sem contar que os seres humanos em cima do palco parecem ser o Rodrigo Amarante elevado a menos um: enquanto os barbudos pareciam odiar o amor que recebiam da platéia, os palhacinhos eram só sorrisos com o calor humano que emanava das poltronas. O resultado disso? Mais despeito ainda. “Por que você está tão feliz? Você é estranho!”, ironizou o vocalista Fernando Anitelli, dizendo ser esta a reação daqueles que não entendem o comportamento de seu público, como se o certo fosse não gostar das pessoas. Ok. Me convenceu. Contudo, vai ser preciso convencer bem mais gente, pois fato é que tais fanáticos já disputam com os fãs de Raul Seixas, Legião Urbana, Bob Marley e os já citados Los Hermanos uma cadeira de atendente da loja de INconveniência mais próxima.

Mas voltando ao Teatro Mágico, eles sabem o que fazem. Porque pensaram antes de agir. E, bem mais importante e raro nos dias de hoje, agiram depois de pensar. Logo de cara, rasgaram para download todo o seu novo trabalho. Resultado? Letras cantadas a plenos pulmões do início ao fim por quase todo o público. Nem dava para imaginar que conheceram as músicas há apenas duas semanas. O show praticamente foi só composto do novo repertório. Ao primeiro álbum, grande parte dele só coube uma citação no bis, quando os músicos brigavam entre si para saber qual deveria ser a canção que finalizaria o segundo ato. Ganhou o hit maior, lógico, “O Anjo Mais Velho”, não sem antes receber uma belíssima introdução de Crash, de Dave Mathews Band. Aliás… Belas citações não faltaram. Estavam lá, passeando entre os arranjos, Tom Jobim e Vinícius de Morais, Cordel do Fogo Encantado, Chico Buarque, entre outros. O momento mais arrepiante, sem sombra de dúvidas, foi quando introduziram Bizarre Love Triangle do New Order ao final de um de seus número. Se a canção já se desgastou até na voz do Babado Novo, ganhou uma nova vida acompanhado dos malabaristas que arriscavam sua integridade alguns metros acima do nível do mar.

Contudo, nada disso valeria a pena se não tivesse como matéria prima uma boa música. E, goste você ou não, tratam-se de ótimas canções. Que passeiam em vários mundos, como o regionalimo nordestino, as temáticas circenses, a sofisticação do jazz, os modernismos da música eletrônica, para no final resultar em uma sopa pop para lá de deliciosa. Conta também a excelência dos músico que a executam. Basta dizer que no início do terceiro número foi executado ao vivo um sample de uma de suas canções sem qualquer recurso eletrônico, mas apenas as vozes e instrumentos que possuíam emulando sons de telefones, computadores, ruídos urbanos e levadas eletrônicas. O baterista é seguro, o percussionista sabe aparecer apenas nas horas certas, o baixista esta uns três níveis acima do que cobraríamos de um músico do estilo, o tecladista sabe utilizar a porção de sons ao seu dispor, e o violinista atinge o feito de não irritar os ouvidos desavisados. O único instrumentista mais limitado, aparentemente, é o próprio Anitelli, que compensa seus limites com um carisma sem fim, e uma genialidade na composição de todo o espetáculo.

Porém, o que mais deve gerar despeito nas opiniões alheias é a maneira como o grupo acredita no próprio som. Se o Los Hermanos acreditasse como eles acreditam, estariam juntos até hoje. Se Pitty acreditasse, seria Ivete Sangalo. Se Ivete acreditasse, seria Shakira. Se Shakira acreditasse, seria Madonna. Se Jane Fonda acreditasse, Natal já seria uma terra distante que eles visitariam apenas nas férias. O mesmo serve para seu fã clube. Fã de Radiohead tem mais é que sentir nojo mesmo. Afinal, ninguém curte a banda que ele curte como estes garotos curtem o TM. Nem o próprio coitado curte Thom Yorke tanto assim. É exagero? Para quem está de fora sim. Mas tenho certeza que quem está dentro está se divertindo bem mais. E o que você prefere? Reclamar ou se divertir?

P.S.1: Lembra aquele melhor aluno do trabalho de história com capa dura e anexos sem fim? Outro dia me entrevistou para uma vaga de emprego na empresa dele. Acho que isso quer dizer alguma coisa.

P.S.2: Os Poetas Elétricos não se apresentaram porque a produção do Teatro Mágico não liberou o palco para que os potiguares passassem seu som. Culpa do Teatro? Culpa dos Poetas? Não estou por dentro da situação, mas normalmente é culpa da produção. Já tive em contato com várias bandas grandes, e todas elas por contrato exigiam que após montado seu palco, o mesmo só poderia ser modificado pelo próprio artista. Se este for o caso, alguma atitude deveria ter sido tomada com bastante antecedência para evitar o constrangimento de Carito e Cia, que infelizmente não teve como se apresentar. Sem contar que a noite começou com 90 minutos de atraso, devidamente desculpado pela platéia quando ouviu do próprio vocalista do TM um pedido de desculpas pelo ocorrido.

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13 Comments

  1. Sinceramente, acho um tremendo desrespeito um artista que abre o show ficar vedado de fazer o show porque o artista principal não quer que “mexa no som”. Isso é atitude mesquinha em qualquer instância. Só no Brasil isso acontece porque fora TODAS as tours tem artistas novos abrindo os mais conhecidos. É praxe e funciona…

    Dica para a produção: o combinado nunca é caro, deveriam ter deixado a banda principal apta e ciente de que iria ter uma banda abrindo e preparar o rider do show para atender ambos. Fica o toque.

  2. Bem, gosto não se discute e eu realmente não acho a menor graça, na verdade desgosto fortemente do Teatro Mágico. Não é inveja, não é ciúme, não é nada disso. Não gosto e pronto. Questão de gosto. E fiquei bem feliz agora depois de ler por não ter ido, pq teria ido ver apenas o poetas elétricos…que no caso, eu gosto muito.

    No meu modo de ver, a responsabilidade dessa mancada é da Produção. Por dois motivos:

    1. Se foi contratuado que ninguém tocaria no som antes deles, não colocassem banda de abertura ou preparassem outro palco.

    2. Se não foi acordado e foi avisado à banda principal que haveria uma de abertura não se pode permitir que a banda principal mude a regras depois de iniciado jogo. Aí é preciso pulso forte pra segurar a onda e fazer valer o que foi acordado.

  3. Eu também fui pro show mas não acompanhei todo atraso e “desrespeito” em consequência desse atraso.
    Gosto muito do Teatro Mágico. Gosto das músicas, do show, da proposta. Mas não tenho um pingo de paciência para os fãs mega afetados da banda.

    No primeiro show do TM em Natal também rolou um super atraso de mais de duas horas e a desculpa também foi que eles estavam passando o som.

    E super concordo com Morena que a mancada seja da produção (de um jeito ou de outro). Se não pode mexer no palco depois que eles passam o som, é no mínimo ausência de noção colocar uma banda para abrir.

  4. Situação ridícula de acontecer, deve ser pq os produtores não vivem no rock, ou pode ser pq os produtores são de BANDA GRANDE!!
    =)

  5. Uma pena que as coisas aconteçam desta forma. Quem sai prejudicada é a arte, que nada tem a ver com a história. Primeiro que atraso de 1h ou mais não é mais atraso, é o mesmo que dizer ao público: “a gente não se importa com o tempo de vocês”. Eu não conheço o som do Teatro Mágico, mas pelo que dizem deve ser realmente muito bom. Mas se pra conhecer o som deles for preciso pagar caro no ingresso (preço justo levando em conta a ótima produção do show, mas que não deixa de ser muito dinheiro no meu caso) e ainda aguentar esse desrespeito, aí fico ouvindo em casa mesmo no mp3.

  6. Eu só tenho a dizer que o TM faz som, faz música, faz poesia, faz arte e traz cultura.
    Quem não foi perdeu!
    Perdeu de ver uma magia sonhada perante um palco.
    E, tenho dito.
    “Quero isso todo dia”!

  7. “Perdeu de ver uma magia sonhada perante um palco.”

    realmente eu não poderia deixar de perder… ¬¬

    apyus, que bom que gostou. eu continuo achando o TM uma espécie de lya luft da música: literatura de saguão de aeroporto enquanto o avião não chega. o fato de serem profissionais e terem fãs não os faz importantes, relevantes para a música. que o digam as bandas de forró eletrônico e suas estruturas monstruosas e os milhares de fãs e as músicas que a gente ouvindo por duas semanas começa a cantar de ponta a outra.

  8. Opinião cada um tem a sua, mas quem foi pro show tem que admitir que eles não estão de brincadeira, tem uma proposta muito boa, além de que, interagem com a platéia de uma forma bastante singular, são simpáticos e, acima de tudo, fazem boa música…

    O colega autor da resenha acima resumiu muito bem o que é o TM…

    e só uma coisinha… bandas de forró eletrônico podem ser formadas pro profissionais competentes, montar estruturas monstruosas e ter milhares de “fãs” que sempre se esquecem das bandas depois de alguns meses, mas acho que o TM está alguns níveis acima desse tipo de “música”.

  9. certamente alguns níveis acima, pelo menos não apelam. e isso deve ser reconhecido como mérito. no mais, continuo achando uma chatice sem fim. esse negócio de interagir, magia, circo, que porra é isso? de onde saiu essa geração de carentes do xou da xuxa com vovó mafalda? e pior, como foi que esse povo educou os filhos? rs.

  10. “Por que você está tão feliz? Você é estranho!”, ironizou o vocalista Fernando Anitelli, dizendo ser esta a reação daqueles que não entendem o comportamento de seu público, como se o certo fosse não gostar das pessoas.”

  11. Quando digo que TM interage com a platéia é pq eles dão ATENÇÃO a seus fãs, e como falou o autor da resenha, eles acham isso LEGAL, por incrível que pareça!

    graças a Deus me deram educação em casa suficiente pra não assistir o xou da xuxa com vovó mafalda e também não me contentar com qualquer besteira!

    ;]

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