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RESENHA DE DVD: THE DOORS – CLASSIC ALBUM

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Imagine que durante a gravação de um disco o vocalista da banda arremessa uma TV portátil que passava um jogo de beisebol contra o vidro que separa a sala de gravação da mesa de mixagem. Que esse mesmo vocalista, mais pra lá do que pra cá, ao voltar à noite ao estúdio, enxergou um incêndio inexistente e descarregou os extintores sobre tudo. E que esse mesmo integrante ainda fora preso em pleno palco, no interior dos Estados Unidos. Estamos falando, claro, de Jim Morrison, ausente neste documentário, por essas e outras, que conta como foi gravado álbum de estréia do Doors. A forma como o tecladista Ray Manzarek vai relatando os fatos é uma das partes mais interessantes, tanto que aparece em mais detalhes nos extras.

Mas não são os desvarios de Morrison, geralmente explorados com certa dose de sensacionalismo, o filé deste DVD. A melhor parte é ouvir os comentários dos três remanescentes (além de Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o batera John Densmore), e logo em seguida eles próprios tocando os trechos comentados, complementados ainda pelo produtor Bruce Botnick. Dentro do estúdio, ele desliza controles em uma mesa gigante e num passe de mágica estão lá só um violão, só a bateria ou o teclado de uma das faixas do álbum. É incrível, mas até as versões demo da primeiras músicas da banda ele tem lá guardadas, sem falar no tal aparelho de TV que se chocou com o vidro e sobreviveu para ajudar a contar a história.

Por se tratar do disco de estréia os Doors, boa parte do “como a banda se formou” integra o documentário, reforçando a vocação literária de Jim Morrison, bem mais evidente que a musical, a despeito de ele ter se tornado um ícone mundial do rock. Densmore diz que antes de começar a tocar eles ficaram cerca de um ano e meio ensaiando e preparando o repertório que seria apresentado depois nos clubes de Los Angeles, sendo o Whisky a Go Go o que se tornou mais célebre. Foi lá que, pela primeira vez, Jim Morrison improvisou a letra de “The End”, com inspiração na Tragédia Grega, e causou a demissão imediata da banda. Contada sob a ótica de Manzarek, a história ganha contornos hilários.

O tecladista admite a apropriação indébita da música de todo mundo na época, ao passo que o John Densmore mostra como se inspirou na bossa nova (!) para criar a batida de “Break On Through (To The Other Side)”. Funk, soul e jazz são gêneros citados a cada vez que uma das músicas é destrinchada pelo trio. “Soul Kitchen”, por exemplo, tem a guitarra funky isolada, ao passo que, para Manzarek, “Light My Fire”, a música que virou sensação no verão de 1967, e ainda hoje o maior hit do Doors em todos os tempos, nasceu quase que por acaso. Já a longa “The End” foi gravada num take só, com Morrison repetindo o improviso que era feito nas noites do Whisky A Go Go. “Ligh My Fire” chegou a ter o verso “get much higher” (algo como “ficar mais doidão”) proibido no Programa de Ed Sullivan, um must na época. Jim Morrison, claro, ignorou a censura e, ao vivo, mandou ver.

Além dos integrantes remanescentes do Doors, vale destacar a participação de Perry Farrel e Henry Rollins, fãs confessos, e do poeta beat Michael McClure, que lê e analisa, emocionado, o poema “Break On Through (To The Other Side)”. A dúvida que fica é se a omissão das músicas “Twentieth Century Fox”, “I Looked At You” e “Take It As It Comes” tem a ver com versões diferentes de relançamentos ou foi opção da banda ou da direção deste bom especial.

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