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RESENHA DE DISCO: FREVO NO MUNDO

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O discurso e a vontade de renovar o frevo anda tão cansado que ele próprio já precisa ser renovado. As várias tentativas sem sucesso que marcaram o centenário do ritmo ano passado chegaram a criar uma camada de resistência contra artistas que, no fim, procuraram apenas se promover com o momento. O que acabou como um tiro pela culatra – resultando na total invasão das escolas de samba deste ano – só soma em motivos para “Frevo do Mundo” ser certamente o lançamento mais relevante da música de Carnaval em 2008.

Produção da Candeeiro Records, selecionado pelo Programa Petrobras Cultural, ele bem que poderia estampar na capa o nome do time de artistas reunidos para imprimir sua visão sobre o frevo. Mas, com encarte modesto e de bela arte de Valentina Trajano, ele deixa a surpresa como elemento fundamental para quem, por acaso ou intencionalmente, passar o ouvido por alguma das 14 faixas do repertório. É o tradicional frevo de Capiba, Luiz Bandeira e Aldemar Paiva, apresentados pela Orquestra Imperial, Mundo Livre S/A, Eddie, China, Siba e a Fuloresta, Erasto Vasconcelos, Edu Lobo, João Donato, Isaar, Cordel do Fogo Encantado, 3 na Massa, Flor de Cactus e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (OPBH).

A modéstia faz parte da fórmula de sucesso do disco. Esteticamente é puro frevo e alguns dos arranjos sequer foram alterados. Mas cada um dos artistas o executou da forma que costumam fazer naturalmente em suas músicas autorais. Alguns resultados sequer soam diferentes, como o “Cabelo de Fogo”, da OPBH, que ganha um divertido trecho “a capella”; mas outros soam totalmente renovados, com fôlego contemporâneo que dá gosto de ouvir mesmo fora de época. Caso de “Oh, Bela!”, em versão minimalista por China e Sunga Trio (Chiquinho e Felipe S, do Mombojó, com Homero Basílio) e “Os Melhores dias da Minha Vida” com Siba, Biu Roque e os comparsas da Fuloresta.

O projeto tem produção do baterista da Nação Zumbi, Pupillo, mas a forma de gravação foi não-linear, com os músicos convidados gravando em estúdios diferentes. Esse modelo de quebra-cabeça acaba dando ao formato canção uma importância superior ao conceito de álbum. Funciona bem como conjunto, mas também e principalmente nas faixas como experiência individual. Pincelada do restante, a voz de Céu em “Frevo da Saudade” com os 3 na Massa traz uma elegância que, por exemplo, não é percebida na versão rápida e festiva de “É de Fazer Chorar” tocada pela banda Eddie. São dois momentos distintos, apenas sob um mesmo mote. Ela encontra par igual em Isaar de França com “Páraquedista”, enquanto eles combinam com “Só presta Quente”, em versão de Ortinho.

domundo.jpgPresente em praticamente todas as faixas, o maestro Spok serviu como fio condutor entre artistas tradicionais como Erasto em “Papel Crepon” e mais novos, no já citado exemplo de China. Responsabilidade que ele assume sem exagerar nos metais de todas as músicas, como se fosse um supervisor, representante do frevo, garantindo que tudo saia como adequado. Cuidado que ele descarrega nas instrumentais “Fogão”, de João Donato e em “Cabelo de Fogo”. Essas duas, com a versão mais distinta de “Isquenta Muié”, com a Flor de Cactus, completam o “Frevo do Mundo”.

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2 Comments

  1. Sou gaúcho, e como a maioria, leigo em frevo pernambucano. Mas musicalmente este álbum é simplesmente incrível, tanto canções individualmente quanto disco como proposta e conjunto. A Céu me faz chorar a cada verso, a Orquestra com Amarante no vocal é impagável, e os arranjos todos muito bacanas. Obrigado Pernanbuco.

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