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MARLOS ÁPYUS (RN): QUANTO VALE UM SHOW?

A primeira coisa é pensar num show como um produto. E aí a pergunta vira: quanto vale um produto?

O valor de um produto varia de acordo com o tempo e o espaço. Um coco deve custar bem mais caro no deserto do Saara do que na Praia de Pipa. Assim como um iPod custava bem mais caro há alguns anos. Desta forma, Lulu Santos não deve custar este ano o mesmo preço de uma década atrás, assim como o Babado Novo não deveria cobrar o mesmo cachê para baianos e gaúchos.

Conversando com amigos produtores, escuto absurdos acerca dos preços de uns tais artistas, desde “gigantes” nacionais a até coisinhas inexpressivas que mal arrastam os próprios primos para suas apresentações. E o que mais indigna não é nem o preço em si, mas saber que tais artistas realmente acreditam que valem o que cobram. Contudo, o mercado nesta hora nunca deixa injustiças ocorrerem. De início, até que se engana um ou outro desavisado. Mas com o tempo, e a agenda vazia, logo os ditos cujos tomam um porre de realidade e se vêem amargurando o ostracismo fruto grande parte da mentira que tentavam contar para eles mesmos.

O Rappa, por exemplo, justificaria um grande investimento de um festival como MADA há alguns anos. Era banda de público certo, com muitas canções na mídia, um trabalho consolidado que justificava 60, 70 mil de cachê, se fosse o caso. Não estou por dentro do quanto cobraram este ano, mas, com um mínimo de honestidade, deveriam ter pedido apenas um terço do valor, já que foi o mesmo terço de gente que conseguiram levar em comparação com outras oportunidades. Contudo, duvido muito ocorrido desta forma. Sabe o que a banda ganha com isso? Além do cachê, a certeza de que se não levantarem o traseiro gordo e voltarem a trabalhar a própria marca, nunca mais serão chamados pois se tornaram prejuízo certo.

E aí que lembro de grandes empresas da área tecnológica. Um Apple da vida. Há toda uma imensa equipe trabalhando, pesquisando, desenvolvendo, melhorando seus produtos. E ano após anos lançam algo mais caro no mercado. Mas que se justifica na inovação que trazem, nos benefícios que agregam à sua marca.

É quando lembro de Marcelo Camelo. E olhe que sou fã dele. Pois bem… Quando do Los Hermanos, lançou o maior hit dos anos 90, seguido de dois discos fantásticos que arrastavam multidões para a frente de seus palcos. Encerram suas atividades com um disco mediano, arrogante, pedante até. Fica uns dois verões sumido sem fazer nada além de colocar gravações de gosto duvidoso no próprio MySpace. Agora surge com um disco bom sim, mas a anos luz daquilo que um dia fizera junto ao quarteto barbudo. E quer cobrar a mesma quantia que cobrava quando suas canções rodavam direto nas rádios. Como é isso, hein?

Agora voltemos à maçã do Tio Sam. Vocês conseguem conceber Steve Jobs convocando toda a imprensa para relançar o Atari? “Gente, cansei do sucesso do iPod, e estou aqui para relançar o Atari. É um trabalho retrô, mais cru, intimista. Algo só para entendidos, saca? Cada cartucho de Enduro vai custar o mesmo valor de um DVD. Por quê? Porque simplesmente eu acho que só porque sou eu que estou lançando, e porque eu quero, vocês vão querer pagar o mesmo valor de um DVD neste cartucho de Enduro!” Você pagaria?

Para isto servem as voltas do mundo. Não demorará a chegar o dia em que a ficha cairá. Basta olhar tanta festa de revival dos anos 80. Quantos destes que surgem velhos e gordos cantando sucessos antigos não cobravam mais caro do que realmente valiam vinte anos atrás?

Que estes antigos exemplos sirvam um pouco para as novas gerações.

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