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HUGO MORAIS (RN): SIBA E A FULORESTA – MATÉRIA ESPECIAL

Em meio ao movimento Mangue que estourou em Recife, com elementos da música local misturados a outros nacionais e mundiais, uma banda continuou apostando mais no local: Coco, Maracatu, Embolada, Cavalo Marinho e toda a diversidade que marca a cultura pernambucana e nordestina, a Mestre Ambrósio.

Liderados por Siba (vocal e Rabeca) gravaram 3 discos e separaram-se. Siba ficou sumido e voltou a tona com uma produção melhor que a do Mestre Ambrósio, o projeto chamado Fuloresta. Se em sua antiga banda o regional era valorizado, ele foi mais fundo e ao lado de ídolos da Zona da Mata e da arte da cultura popular, como Barachinha e Biu Roque, montou um estúdio em Nazaré da Mata. De lá saiu o disco que leva o nome de Fuloresta do Samba. Não, não é o samba carioca e nem paulista, é o samba deles, uma mistura de Ciranda com outros ritmos já citados acima. Algumas gravações ocorreram em um antigo engenho, Engenho Lagoa Dantas, e escutando as músicas mais atentamente é possível ouvir grilos e cigarras cantando, insetos muito comuns fora das grandes cidades. Todos os músicos são da região de Nazaré da Mata e aprenderam a tocar com irmãos, tios, primos, pais, ou seja, uma tradição passada aos integrantes das famílias. De geração em geração.

O que poderia ser apenas um registro da cultura musical local vingou e o passo seguinte foi a gravação do segundo disco entitulado Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar. Recheado de Coco, Ciranda, Cavalo Marinho, Ciranda e tudo que há no primeiro. Mas quem pensa que os discos são iguais basta ouvi-los para perceber grandes diferenças. Os temas, letras e músicas, antes restritos a vida cotidiana dos músicos e de sua região, ganham ares brasileiros, e até mundiais, que culminam em letras que falam de futebol (Meu time), da ciranda e dos cirandeiros (Cantar ciranda), transforma rima em bala (Pisando em Praça de Guerra), fala do mundo (Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar) que lembra Chico Science em “um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar” e finaliza o disco falando da morte numa excelente letra (A velha da capa preta), onde a morte se mostra cansada da vida de matar, quer se aposentar e deixar as próprias pessoas matando no seu lugar. Com participações de gente como Céu, Dengue, Lúcio Maia, Fernando Catatau e Arthur de Faria, seja nas letras ou nas músicas, a obra ganha piano, guitarras, diversidade. E para ir do Frevo ao Jazz é um pulo. A arte da capa também foi assinada pel’Os Gêmeos.

Assim como Jorge Ben Jor que nos seus áureos tempos levava entre dez e quinze músicos para construir um retalho musical complexo e bem arranjado, a Fuloresta do Samba possui nove músicos: Siba (vocal), Galego do Trombone (quer saber qual instrumento?), Roberto Manoel (trumpete), André Tubista (advinha!), João Minuto (sax tenor), Zeca (Póica, seja lá o que for isso), Cosmo Antônio (bombo, tarol e vocais), Mané Roque (mineiro e vocais) e Biu Roque (tarol, bombo e vocais).

Com os discos Siba levou a banda para fazer turnês pela Europa (alguns músicos sequer tinham iso a Recife), lugar onde nossa cultura é mais reconhecida do que aqui em nosso país. Aqui em Natal, por exemplo, não apoiamos a nossa cultura, mas ficamos de olho na do vizinho. E já que ficamos de olho no gramado do vizinho que sempre é mais verde e como Pernambuco está aqui do lado, bem que a Fundação José Augusto, que trouxe a banda de Pífanos de Caruaru ao Teatro Alberto Maranhão, podia trazer a Fuloresta. Mas não, prefere trazer os mesmos cantores malhados de sempre ano após ano. Poderia até fazer um evento juntamente com a ótima Jaraguá Mulungu, que é conhecida fora do RN, mas por aqui poucos sabem o que é.

Escutar os discos da Fuloresta é se perguntar: porque essas coisas só aparecem nos estados vizinhos? Porque a nossa cultura é a cultura do que vem de fora, do modismo, da falta de identidade? Gostaria muito de ver e ouvir bandas locais redescobrindo nossos ritmos sem o uso de latas ou tambores de lixo, ficar escutando o mesmo batuque sem criatividade cansa.

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3 Comments

  1. Depois de muito tempo, sem saber por onde andava Siba, o ví numa máteria do jornal de meia noite mais já no desfecho da matéria, fiquei bastante curiosa de saber, o que são aquelas pessoas a sua volta como se fosse ciranda e muito mais de ouvir a sua música, não tenho aqui no estado do Ceará nenhuma chance de saber onde posso comprar essa música,
    Depois tambem o ví no final de uma apresentação no Altas Horas,
    imaginei que azar, não consigo ver o então agora Mestre Siba,e porque
    Espero desesperadamente que eu possa efetivar um contato com você,cadê você, Amo muito você,por favor entre em contato comigo quero ver um show de vocês “Quem sabe voces queiram alguem pra trabalhar no espetáculo” meu telefone de casa é 085 3298 5534 e meu celular 96550817… muitos beijos

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