Coberturas, Festivais e Shows

FORA DO EIXO: COMO FOI? BANANADA 2009

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Foto: River Raid em ação no Bananada 2009

Texto: Alfa Canhetti | Espaço Cubo | Cuiabá MT
Ney Hugo | Espaço Cubo | Cuiabá MT

Fotos: Alfa Canhetti | Espaço Cubo | Cuiabá MT
Nowhah Luíza | Coletivo Pequi | Anápolis GO

Mais uma vez venho a Goiânia pra prestigiar o Festival Bananada, segundo maior da cidade e juntamente com o Goiânia Noise, Vaca Amarela e Release Alternativo, integrado a Associação de Festivais Independentes – Abrafin. O local, perfeito para a proposta: Martin Cererê, dois teatros isolados acusticamente inseridos em uma circunferência maior com praça de alimentação, mesas, cadeiras, espaço para venda de drinks e uma diversidade gigante de exposição de produtos: camisetas, CDs, bottons, bolsas, tennis estilizados, alargadores, brincos, chaveiros, vinis, toy arte, e por aí vai. A dinâmica de apresentações nos dois teatros é a característica marcante do festival, acontece assim: enquanto as portas de um dos teatros estão abertas com a banda se apresentando, o outro está passando o som da atração seguinte. Quando finaliza o show as portas do outro teatro abrem-se e começa com a próxima atração, essa por sua vez se fecha para passagem de som da próxima banda.

Valorização da cena local a partir da maior parte da programação ser composta por bandas regionais é o perfil do Bananada. Das 42 bandas que passaram pelos palcos durante as três noites, mais da metade é do estado.

Na sexta, as bandas que já haviam se apresentado na edição do ano passado, como Gloom, Shakemakers e Diego de Moraes e o Sindicato provaram por que mais uma vez fizeram parte do line up. A primeira, apesar de cordas desafinadas no começo, mas corrigidas durante a apresentação, agitaram ao ritmo carimbo os poucos que haviam chegado pra curtir as outras dez bandas que ainda estavam por vir. Em seguida, Super Stereo Surf vinda do Distrito Federal garantiu o estilo Surf Music (como o nome da banda já sugere) presente no festival. Depois disso, Arco Duo de São Paulo e Dead Lover’s Twisted Heart de Minas Gerais fizeram o som enquanto os espaços dos teatros já estavam cheios. Então sobe ao palco apenas um homem, é o Perito Moreno. Esse homem é ninguém menos que Beto Cupertino, vocalista da recém extinta e recém voltada Violins. Começou ele e um teclado, pop que lembra U2, depois ele e o violão, som muito bem feito e muito bem cantado. Em seguida Shakemarkers: Rockabilly divertido. Como havia dito, tinha assistido o show deles na edição do ano passado, e que avanço! Nem parecia a mesma banda. Apesar do estilo musical não me agradar, o som estava redondo. A noite seguiu com The Backbiters de Goiânia e Filomedusa de Rio Branco no Acre, que por sinal roubou toda atenção, foi a banda da noite.

Clique aqui para conferir trecho do show Filomedusa

Enquanto isso, no canto ao lado da enorme mesa de som de frente ao palco, uma mesa de som de 8 canais e um notebook garantia o acesso ao som que rolava nos dois teatros para o mundo todo através da internet. Era a Web Rádio Abrafin transmitindo o Festival Bananada e fazendo entrevistas com convidados.
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Caminhando para o fim da primeira noite, banda Rubinho Jacobina do Rio de Janeiro, pop bem humorado, apesar do pecado cometido na escolha do figurino: moletom, bermuda e tennis, camisa florida, calça e sapatos sociais, seria proposital? Talvez, não ficou nada harmônico. Em seguida, as conterrâneas Barfly e Diego de Moraes e o Sindicato. Diego de Moraes, ultima atração da noite, foi apresentado por um dos produtores do festival, Fabrício Nobre da Monstro. Também já tinha assistido ano passado e foram a revelação da edição anterior, aquela que surpreende. Agora, já esperava que o show fosse bom, e foi.

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Diego de Moraes e o Sindicato

Confira trecho do show do Diego de Moraes e o Sindicato

No dia seguinte, mal começava escurecer e já tinha movimentação pelo M. Cererê, todas as estruturas preparadas pra segunda noite que estava por vir. Pontualmente no horário Girllie Hell e TSA ambas goianas, sendo a primeira formada por garotas. Mostraram o som a lá Kiss Style, do tipo “somos meninas e queremos fazer rock”. Em seguida, tinha pessoas esperando a porta abrir para presenciar o som da Sangue Seco, também local mas que tem público formado, consome as músicas, conhece as letras e curtem o show inteiro. Clima agradabilíssimo.

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Technicolor

Na seqüencia Hey Hey Hey de Porto Velho, Technicolor e Nancy, as três com mulheres na formação. A primeira baixista, a segunda vocalista e flautista e a terceira vocalista. Um combo de mulheradas. Depois disso, Zero Doze de Rio Grande do Sul e Multiplex do Distrito Federal, que apresentou glam rock nada original, com certeza o que viria pela frente (como o Johnny Suxxx, por exemplo) seria mais autêntico.

Eis que o público enfurecido lota o espaço da próxima atração, todos esperavam pelo garage rock da banda mais conhecida na cidade, MQN. Ate então não tinha visto a galera tão enlouquecida, já que a fama é conhecida. Gritaria, gente subindo na grade de proteção, roda punk e muita, muita cerveja voando para todos os lados, principalmente vinda do palco. No final, todos molhados de cerva. É show de rock! Depois, Lenzi Brothers de Santa Catarina. Influências bem perceptíveis de Cachorro Grande.

Enquanto isso, lá fora era o ápice da movimentação de pessoas no Martin Cererê. Muita gente circulando, consumindo produtos, demanda nas bancas de alimentação (cachorro quente, espetinho e yakisoba), drinks dos mais coloridos e sabores mais diferentes, pessoas de bandas diversas se reencontrando e muita gente se conhecendo.

Já no palco, “quem é aquele senhor japonês de cabelos compridos?” Damo Suzuki, ex-vocalista da lendária banda alemã Can. Ele não tem uma banda, mas sim uma rede de pessoas que se disponibilizam a tocar com ele pela sua turnê. O mais bacana de tudo é que por mais que ele cante, as canções não tem letras! Assim, não tem como a mesma música ser repetida, cada show é único.

Em seguida, um dos shows mais bacanas dessa 11ª edição do Bananada, Johnny Suxxx and The Fucking Boys de Goiânia. Energético e muito mais maduros. Os erros de tempo do baixista e as cordas desafinadas da guitarra que geralmente ouvia nos shows foram substituídos por backing vocal feminino, mas a presença de palco irreverente do João Lucas, sempre a mesma. O show teve direito a participações especiais, como a de Carol Freitas que tinha quebrado tudo no dia anterior com Filomedusa, e Victor Cadillac, produtor na cidade e parceiro do João.

Por fim a banda mais esperada da noite também foi anunciada por Fabrício Nobre, Black Drawing Chalks, uma das mais aclamadas em Goiânia. Voltaram recentemente duma turnê no exterior e foram convidados pra participar da Canadian Music Week, no Canadá. Todo mundo ali esguelava as letras, pulava pela grade, levantava os músicos, o caos! Assim foi fechada a segunda noite do Festival Bananada.

O domingo foi bem peculiar. Como era de se esperar, foi o dia menos cheio, a galera tinha que trabalhar cedo na segunda, aquela história. Mas foi também o dia em que imperaram estéticas diferentes ao goianíssimo rrrrock!.

Logo de cara, já começou com MC Dyscreto, rap de alto nível, com ligação direta com o Hip Hop Fora do Eixo (se apresentou no Festival Consciência Hip Hop, organizado pela Cufa Cuiabá). A base do cara é tão violenta que tivemos que pedir para o técnico de PA (glorioso Adão) para tirar graves do sinal que vinha pra rádio – já tinha tirado todo o grave na mesa própria da rádio e a coisa continuava rachando.

A batida pesada dá o clima “street” que afrontou o desacostumado público goiano, que esperava por riffs barulhentos pra começar o evento. Ficou todo mundo na portinha do teatro, ninguém chegou na frente do palco. Até que Dyscreto, sábio front man, fechou o show com um samba e conseguiu trazer a galera mais pra perto. Foi uma pena ter pouca gente na hora desse show, que foi um dos mais quentes do festival.

Enquanto rolava o som do Sattva, fiquei passando o som do Boddah Diciro, pra transmissão na rádio. A banda evoluiu consideravelmente em suas timbragens, notável fruto do trabalho com Gustavo Vasquez, do Estúdio Rocklab (Macaco Bong, Black Drawing Chalks), que gravou o cd “Strange” prestes a ser lançado pelo Boddah, em parceria com a Fósforo Cultural e com a Fora do Eixo Discos. O encarte é uma espécie de livreto com ilustrações lindaças do Bicicleta Sem Freio, coletivo de design goiano que fez as capas de Artista Igual Pedreiro do Macaco Bong e a colorida Life Is a Big Holiday For Us, do Black Drawing Chalks, que tem em sua formação os designers integrantes do coletivo.

O pouco que vi do Grupo Porco de Grindcore Interpretativo não convenceu. Bateria eletrônica, com grinde core cênico. Por outro lado, o Versus AD devolveu o ânimo com som instrumental de ampla qualidade. Nas guitarras, o célebre Luís Maldonalle, que também fez parte da banda de Damo Suzuki no Bananada, e também atua no Estúdio Rocklab.

Durante o show do Fígado Killer, me mantive novamente no mesmo palco para passar o som do Projeto Manada, por saber que viria outra patada. Dito e feito, rap de base pesada, uma manada passando, e com conceito bacana. É o Bananada se abrindo pra outras vertentes, como ficou claro na fala do grupo no palco que disse que não eram uma banda de rap num festival de rock, mas sim “uma banda de música num festival de música”.

Perdi o também o show do Spiritual Carnage pela responsa de equalizar mais uma banda de som diferente para a Rádio Abrafin, o Mamello Sound System, que tem base, DJ, e dois vocais, um masculino e um feminino. O diferencial é a abordagem da banda, que fala de situações cotidianas, fugindo do convencional “diário da periferia”. Excelente show, como era de se esperar.

Vi pouco do The Brown Vampire Catz. Se não estou equivocado, a proposta é Rockabilly, mas senti falta do baixão de pau. Venus Volt se apresentou sem a vocalista, hospitalizada recentemente. Não abaixando a cabeça, a galera mandou ver e conquistou público em Goiânia.

O River Raid foi sem dúvida um dos melhores shows da noite e do festival, incendiando o público, que só não encheu o teatro porque o domingo não dava contingente. A participação de Djalma (Amp) na terceira guitarra abrilhantava ainda mais a orquestra distorcida.

Encerrando o festival, vieram Bang Bang Babies (rock goiano californiano, beibé) e o Mugo, que veio na veia do metal, com gutural e melodias. Som pesado e bonito. O som tem semelhança com o brilhante Meshuggah, no sentido da absorção do conteúdo, sem soar sugado. Diria que a banda está apta a circular os festivais. E estão loucos pra isso. Vale lembrar que eles foram vencedores de uma das edições do Tacabocanocd, festival promovido pela Fósforo Cultural que premia a banda vencedora com o lançamento de um cd.

O encerramento (já de madrugada, mas ainda cedo para os padrões de um festival brasileiro) fez com que o público voltasse correndo pra casa pra trabalhar no dia seguinte, mas certamente já instigado para novos eventos a serem realizados ali. E pensar que o Martim Cererê ficou abandonado há um tempo atrás…

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