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ENTREVISTA: ANDERSON FOCA FALA SOBRE O FESTIVAL DOSOL 2017

O Festival Dosol 2017 vai aos poucos ganhando a rua e para falar um pouco mais do novo formato e das novidades para esse ano batemos um papo com Anderson Foca, uma dos produtores do festival. Acompanhem:

1. Por que sair da Ribeira e ir para outro local, o que levou o festival a tomar essa decisão?

R- A primeira coisa que tem que ser dita é que nós amamos o bairro da Ribeira e continuaremos amando pro resto de nossas vidas. Ao todo atuo na Ribeira há 20 anos e sinto que demos nossa contribuição pro bairro talvez mais do que qualquer outro agente cultural ou público que tenha passado pela cidade nessas duas décadas. Tirar os dias principais do festival de lá foi uma decisão dura, pensada por anos mas necessária para a continuidade da atividade.

Temos problemas logísticos crônicos e impossíveis de resolver no bairro que limitavam a nossa atividade. O palco principal era pequeno pros riders que recebíamos todos os anos e isso desgasta a relação com os artistas. O espaço físico que possibilitava ter vários shows ao mesmo tempo também tinham seus problemas, concentração de pessoas no mesmo espaço. Isso só na parte da logística dos shows.

Para o público, também sentimos a necessidade de ampliar o atendimento, não está fácil programar atividades culturais no Centro Histórico por questões de segurança, limpeza, iluminação pública, entre outros detalhes que não passam por nós resolver. Já teve edição em que precisei literalmente fazer o trabalho de encanador junto com meu pai para estancar uma água que insistia em correr para dentro da arena do festival, isso tipo 02h da manhã com os shows acontecendo, só para dar um exemplo.

A Ribeira também passou a ser um espaço muito difícil de negociar com casas, ambulantes, poder público e por aí vai. Todos os anos pro Festival Dosol acontecer no bairro, tínhamos que ter a liberação de pelo menos 15 pessoas e algumas delas estavam se aproveitando disso para nos acuar e nos intimidar. Cheguei a ser ameaçado por um ambulante com uma garrafa de vidro quebrada no final da edição do ano passado. Foi a mensagem final que faltava para tomarmos a decisão de sair.

 

2. E a decisão de ir para um espaço na beira da praia, como se deu?

R- A gente sempre sonhou em fazer o festival na praia, até nosso nome remete a praia. Quando finalmente decidimos que era crucial deixar a Ribeira e arrumar outro local para o festival, começamos a procurar um espaço que atendesse as necessidades próximo ao mar. Cogitamos e visitamos uma dezena de lugares até acharmos o Beach Club e perceber que era o local perfeito para fazer o que estávamos idealizando. É um sonho realizado produzir essa edição nesse formato e o mais legal de tudo é que estamos só no começo dessa nova jornada, mesmo o festival ja tendo 13 edições anteriores. É um restart necessário e ao mesmo tempo instigante para gente. Está sendo bem legal realizar isso.

 

03. Como vocês estão vendo algumas críticas dessa mudança Ribeira/Praia?

R- É muito natural que algumas pessoas questionem a mudança e a principal razão para isso é: eles só conheceram o festival acontecendo na Ribeira. Acho que o público vai adorar e se surpreender com o que estamos aprontando para o novo espaço e aí sim vai ter como comparar melhor os dois locais. Não temos nenhuma pretensão de elitizar ou “gourmetizar” – para usar uma palavra da moda – o Festival Dosol. O ingresso continua com preços muito convidativos (mais barato que 99% das baladas da cidade), o lineup continuará apostando na nova cena da música brasileira, os principais artistas da cidade e as novidades do ano continuarão sendo escaladas e por aí vai.

A gente até acha graça internamente quando lê um ou outro comentário a respeito dessa gourmetização. A verdade é que ninguém nunca está satisfeito (inclusive nós) com o que é oferecido, sempre vai ter gente para curtir o lineup ou não, para curtir o local ou não (a Ribeira tinha – tem- uma rejeição de parte do público da cidade também). Fato é que quem quer agradar todo mundo, termina não agradando ninguém e essa mudança é primordial para o futuro do festival e só quem pode analisar isso friamente sou e Ana Morena que dirigimos o rolê por todos esses anos.

 

04. Uma das características principais do Festival Dosol, principalmente nos últimos quatro anos, é a quantidade de palcos e shows oferecidos dentro do festival, isso vai continuar na praia?

R- Quando fomos atrás de um novo lugar essa foi nossa maior preocupação. Achar um espaço que possibilitasse esse formato com vários stages e microstages. O BeachClub vai permitir que a gente consiga montar 4 palcos que é o mesmo número de espaços que tínhamos na Ribeira. Então isso não vai mudar, com possibilidade da gente inclusive ampliar essa dinâmica (não para esse ano). O mais legal de tudo isso é que continuaremos fazendo a mesma coisa que fazíamos com os problemas logísticos 100% solucionados. Claro, vão aparecer outros desafios pra realizar o festival em outro espaço, na Ribeira já tínhamos todo o conceito realizado, testado, na praia vai ser tudo do zero mas estamos confiantes e temos uma equipe guerreira pronta para esse novo fluxo.

 

05. Como o festival vem encarando o momento econômico e político do país?

R- Desde 2008 esse é fácil o pior ano financeiro do Festival Dosol. Os investimentos em cultura no geral caíram brutalmente, perdemos nosso maior patrocinador que é a Petrobras e estamos nos adequando a nossa realidade financeira de uma forma bastante natural. Já esperávamos algo do tipo e não nos pegou de surpresa.

Isso fez com que repensássemos muito o nosso papel sócio/cultural dentro da cidade e do país. Bar e bilheteria não pagam nem 1/5 de um evento como o Festival Dosol. Escalar artistas novos, traze-los, hospeda-los, alimenta-los, translada-los isso é tudo muito caro e não devolve imediatamente o investimento em venda de ingresso. É uma escolha conceitual ter esse tipo de artista, é nosso foco e não vamos mudar porque o período não está “bom”.

Muitos dos grandes festivais de música independente do país estão em crise financeira e alguns deles nem vão ter edições em 2017. As incertezas políticas travam ações dentro do poder público e o efeito cascata é bruto e vai moendo o que pega pelo caminho. Desde o governo federal até no âmbito municipal.

Temos patrocínio da Natura, Cabo Telecom e apoio do Spotify para 2017, estamos conversando com mais marcas que curtem cultura e curtem o festival mas é bem possível que tenhamos que fazer o festival com 1/3 do orçamento que tínhamos o ano passado. Nessa hora é preciso ter muita criatividade e também botar para testar nossa relevância junto aos artistas e a cidade, que até agora tem nos abraçado de uma maneira muito bonita. Essa edição só vai ser possível  por causa dos artistas e o público já mostrou que confia no festival, nosso primeiro lote de ingressos, mesmo sem anunciar nenhuma atração, durou menos de dois dias.

 

06. Com o baque financeiro o que estava programado e não vai acontecer?

R- Em Natal, onde é a matriz do festival teremos poucas mudanças, mas quem acompanha o festival sabe que a gente expandiu nossas atividades por todo o Nordeste, com foco no interior do RN. As atividades no interior do RN estão canceladas se o quadro não mudar. Não temos orçamento para bancar as atividades. Elas são caras e 100% gratuitas. Sem patrocínio são inviáveis. Só Mossoró, muito por uma ação individual da cena da cidade, está com rota garantida pro festival, todos os outros municípios do RN que já receberam nossa ação estão ameaçados de não acontecer, o que é uma pena, uma descontinuidade chata mas necessária para a saúde financeira do Festival Dosol. Estamos tentando reverter mas está complexo.

 

07. Falando um pouco do artístico do festival, o que vem por ai?

R- Curto muito o que vamos programar pro festival esse ano, principalmente levando em consideração nosso baixíssimo poder de contratação nessa temporada. Não tivemos uma grande renovação da cena da cidade tão impactante como nos últimos anos, mas a consolidação de alguns artistas é animadora e isso vai ser refletido no lineup. Teremos um grande ícone da música brasileira, uma figura primordial para entender a cena da música dançante no país. Grande orgulho para nós. Estamos na fase final de fechamento e contratação de todo mundo. Então de agora em diante soltaremos os nomes que já temos semanalmente. Ao todo deveremos passar de 60 shows nessa edição. Novembro vai ser bonito de novo.

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3 Comments

  1. Caramba! São situações como essa que plantam em mim esperança na cultura potiguar!
    De primeira, fiquei muito decepcionada com a mudança do local; sair da Ribeira e ir pro Beach Club (local que tem calouradas…)??? Era uma afronta! Pensei que como o festival está tendo uma repercussão maior, quiseram ampliár os ganhos e tinha se esquecido da raiz, da nossa Ribeira que é linda mesmo com seus problemas, além de desvalorizada, tanto pelo estado quanto por parte da população. Bom,mas essa entrevista foi bem esclarecedora e importante pra mostrar ao público (que a primeira vista pensavam como eu) que a realidade não é tão fácil quanto parece. Estão de PARABÉNS de verdade, em insistir no festival e não desistir mesmo com todas as adversidades ( por Favor NUNCA DESISTAM!), em pensar com todo cuidado e preocupação cada detalhe, em ter a ambição de expandir pra outros espaços do RN (achei muito boa mesmo mesmo iniciativa), em ter a melhor arte de copo e camisa que eu já vi kkkk (Eu coleciono haha), em dar esses estímulo cultural que as vezes falta ne numa escala beeemm maior ♡♡♡ orgulho mesmo de ter um festival como esse na minha terra e orgulho de ter uma equipe competente como vocês que se importa e faz acontecer entre os trancos e barrancos ! Vlwss mesmo, acho que a estado todo agradece!♡♡♡♡♡

  2. Tenho ido todos os anos ao Festival do Sol, já perdi a conta, e pela entrevista de Foca concluo que é melhor a mudança agora para resolver os inúmeros problemas que só sabem que produz, faz acontecer. Fico feliz pela continuidade do evento. Acredito que será melhor que nos anos anteriores, mesmo que não aconteça num primeiro instante (2017) apoio a iniciativa da mudança porque com o passar dos anos tenho certeza que Foca, Ana e sua equipe irão resolvendo os problemas que naturalmente aparecerão. Parabéns a todos que fazem acontecer o melhor festival cultural do RN, o Festival do Sol.

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