Coberturas

COMO FOI? SWU – PRIMEIRO DIA

rage

Por Anderson Foca, especial pro Dosol/PopUp

Rage Against The Machine faz o maior show de rock que o Brasil já viu em todos os tempos.

Tensão, perigo, riffs matadores e um vocalista com um carisma para dar e vender. Foi com essa fórmula e um punhado de grandes músicas que o Rage Against The Machine encerrou a primeira noite do SWU fazendo um show histórico e que vai ficar na memória das 60.000 pessoas que se jogaram na aventura de ir num festival com uma proposta diferenciada para os padrões nacionais. Mas isso foi só o fim de uma saga que duraria quase 10 horas com direito a filas, longas caminhadas, desinformação e muita música.

CHEGANDO E SAINDO DO LOCAL

A Fazenda Maeda, local do SWU, fica a 90km da capital paulista, bem na entrada da cidade de Itu. As primeiras porteiras dão na Castelo Branco e até a chegada na Rodovia não há obstáculos ou problemas para se locomover.

Mesmo com ingresso premium e cadastramento de impresa, optei por não utilizar os estacionamentos especiais separados para essas categorias. Ficamos estacionados em um dos bolsões que o festival preparou, a cerca de 6km da porta principal. Pagamos caro, pagamos pelo translado até o evento e chegamos rápido ao local. Parecia que tínhamos feito a escolha certa. Parecia.

Quando fomos nos aproximando da entrada percebi que seria uma grande confusão sair do espaço. Naturalmente que o fluxo dividido em mais de 07 horas no começo da programação seria bem diferente da saída de uma vez no final e causaria transtornos gigantescos à logística (muito cara) de se chegar na arena. Essa talvez tenha sido a grande ferida que o SWU vai ter que tratar. Os preços caríssimos de translado e estacionamento geraram a expectativa de que tudo seria organizado, quem escolhe pagar caro por algo quer ter um ótimo serviço em troca e isso não aconteceu.

O fato é que para chegar foi tranquilo e para sair foi um inferno que durou duas horas. Os ônibus de translado não conseguiram chegar perto do evento e praticamente 90% das pessoas que utilizaram os bolsões de estacionamento tiveram que voltar a pé numa perigosa e movimentada rodovia, no escuro e, no meu caso, numa enorme caminhada de 6km. Parecia penitência por ter visto o melhor show de rock da vida um pouco antes. Encarei com bom humor e saimos intactos.

A ARENA

As promessas foram cumpridas pelo SWU quando se entra na arena de shows. Estruturalmente o festival pode sim ser comparado aos grandes eventos europeus, só que na Europa o costume das pessoas é outro e isso também causou transtornos para quem foi curtir o evento. Relatos de falta de abastecimento de fichas, alimentação e bebida eram comuns, atraso na retirada dos ingressos na portaria também. Eu paguei o preço de vir do Nordeste e não estar tão preparado para o frio. O vento gelado e constante machucou os menos encasacados durante todo o evento.

Os palcos, espaços de shows adicionais, tendas e o descampado eram excelentes e todos com ótima sonorização. Claro que pro Main Stage quem estava mais atrás não deve ter ouvido tão alto o som, mas isso também é normal em se tratando de grandes festivais. Quem quer ouvir alto seu artista preferido tem que ir para frente, não tem jeito.

O que parecia ser uma boa ideia, terminou complicando as coisas na hora do show do Rage Against The Machine. O palco foi montado no pé de um declive. Se todo mundo assistisse os shows parado no mesmo local seria ideal, todos conseguiriam ver o palco e tudo ficaria bem. Mas show de rock não é bem assim que funciona, né? Resultado: a ladeira natural de shows causou um grande tumulto perto das grades de proteção e ficou tenso controlar a multidão. Isso precisa ser revisto pras próximas edições.

OS SHOWS

Agora é a hora da parte boa da brincadeira: os shows. Cheguei cedo e só perdi (não perdi nada) o Brothers In Brazil. Quando cheguei o Black Drawing Chalks já estava a postos e fez um show redondo pegando a plateia ainda fria mas já em ótimo número na arena. O Macaco Bong veio na sequência e parecia que estava tocando no Centro Cultural Dosol de tão tranquilos. O trio mostra a cada dia porque é considerado um dos maiores expoentes da musica independente nacional. Saíram ovacionados e prontos para novos desafios.

Diretamente da California subiu ao palco o Infectious Groove capitaneado pela lenda hardcore Mike Muir no vocal. Rock funkeado, refrões de arena e boas levadas garantiram a diversão. No final ainda teve presente pros fãs: duas do Suicidal Tendencies com direto ao guitarrista oficial do grupo como convidado. SxTx Rules!

O momento mais constrangedor do primeiro dia veio depois com o show dos Mutantes, na verdade , show do Sérgio Dias que ele chama de a volta dos Mutantes. Como é que alguém deixa o cara ferir a carreira do Mutantes daquele jeito? Foi horroroso. Apesar de ser grande fã dos Los Hermanos, também não curti a participação deles no SWU, a banda parecia mais desmotivada do que o tradicional blasé característico do grupo e o mais grave, estavam muito mal ensaiados. Não sei até que ponto, a não ser financeiramente, esses shows de volta do grupo sejam realmente necessários. Ou voltam de vez e ganham ritmo normal de tour ou é melhor, pelo menos artisticamente, não se expor desse jeito. Ótimo pelo repertório, ruim pela performance. Nota 05.

Cedric e Omar na mesma formação, músicas difíceis ao mesmo tempo pops, perfomance instrumental absurda de boa, interação e sonoridade peculiar. Estou até agora me perguntando se alguém anotou a placa, porque fomos atropelados pelo incrível show do Mars Volta. E o mais legal é que aqui fala um cara que praticamente não conhece nada do grupo. Já baixei tudo, vou estudar com calma para entender melhor. Foi revelador. Omar me lembrou o Led Zepellin e aquelas grandes performances ao vivo.

O MAIOR SHOW DE ROCK DA HISTÓRIA DO BRASIL

Tensão no ar. As luzes do palco se apagam e um som de sirene começa a bombar no P.A. Aos poucos vem subindo uma estrela vermelha no telão atrás do palco e aí sim entra em cena o quarteto mais explosivo da história do rock no mundo. Testify explode um caldeirão de perigo, tensão e energia nunca antes vista num show de rock no Brasil e dá início ao que seria a apresentação mais memorável da minha vida e na minha modesta opinão o mais impressionante show de rock que o Brasil já viu em todos os tempos: Rage Against The Machine!

Daí para frente foi uma loucura generalizada que durou quase 2h. Poucas banda tem um repertório tão cheios de hits roqueiros com o RATM e foi um atrás do outro como uma bomba caindo em cima da arena. A pressão na grade de proteção de área vip e do front stage quase cede e a segurança pediu para o show ser interrompido. Caos, mosh pit violento e todo o perigo que um bom show de rock pesado sempre oferece.

La Rocha, pede calma, se mostra impressionado com o que vê, pede pros seus súditos cuidarem do parceiro do lado e o ataque continua. Outro momento de tensão, o sistema que a banda levou falha, é ligago um sistema B, o som volta, o show continua, o mosh continua violento. Chega o bis, hino comunista bombando e aí vem dois dos maiores clássicos do rock contemporâneo: Freedom e Kiling In The Name são tocados na sequência. Foi a cena final de uma das maiores energias positivas que senti na vida. Impacto para quem gosta de rock, assustador para quem não gosta. O SWU podia terminar ali.

Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

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