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COMO FOI? OTTO EM NATAL

Quando Otto veio a Natal a primeira vez foi com o Mundo Livre S/A. Era percussionista da banda. Isso pelos idos de 1998? Não sei ao certo. O show foi muito bom, não chegou a lotar o Casarão da Ribeira, que de casarão só tinha o nome. Era um prédio sem estrutura, sem som que prestasse. Mas a banda fez o show de costume mesclando músicas para dançar e para discursar.

Dia 31 de maio Otto voltou a Natal. Dessa vez como cantor, e percussionista. Coisa que ele nunca deixou de ser, mesmo na sua banda tendo dois. E muita dessa presença se deve aos dois pés fincados no Candomblé. Mas na banda também tem guitarra, baixo, bateria e teclado. Oito pessoas na banda. Está faltando uma. Depois que saiu do Mundo Livre, Otto gravou três discos: Samba Pra Burro, Condom Black e Sem Gravidade. O primeiro é o que gosto mais. Mistura música eletrônica, coisa que não sou fã, com rock, samba, ciranda… Ou seja, nada de novo. Mas o disco é bem produzido e na época foi eleito disco do ano pelos Associação Paulista dos Críticos de Arte de São Paulo.

A primeira vez que vi Otto fazendo o show do primeiro disco foi no programa Ensaio, da TV Cultura. Tinha ele gravado em VHS. Na banda, três pessoas. Ele na percussão e voz, Ganjaman na bateria e um guitarrista que também tocava teclado e fazia as programações eletrônicas, mas não lembro o nome. O show foi sensacional e daquele dia em diante comecei a gostar mais ainda do pernambucano.

De lá para cá, muita coisa mudou. Muitas entrevistas foram dadas, MTV ao vivo foi gravado, Otto se tornou uma figura folclórica. Toda entrevista em Jô Soares é uma comédia. Quando ele abriu a boca para saldar o público, o estado entorpecido era evidente. Muito entorpecido é mais correto. Na verdade não sei mensurar o estado que ele estava. Mas talvez esse estado tenha sido o responsável pelo show EXCELENTE, em maiúsculas mesmo, que ele fez aqui. A interação com a banda, meio Cidadão Instigado, meio Instituto, ajudou muito. Na guitarra lá estava o músico e produtor requisitado Fernando Catatau. Que em dado momento foi “obrigado” a cantar: “Catatau, o Cidadão já tocou em Natal? Não? Venha aqui cantar uma música”. E Catatau foi. Cantou “O Pobre dos Dentes de Ouro” e fez o público continuar dançando.

Já a interação com o público só não foi melhor porque a situação do vocalista/percussionista/animador de banda não deixava. Otto não concluía uma frase. Eu ria. Do alto do mezanino do Galpão 29 vi rebolado, palmas, cigarro sendo tirado da boca de um dos percussionistas e Otto sem camisa, que faz minha barriga de cerveja parecer um frigobar perto da duplex que ele possui. Um copo na mão, um cigarro na outra. Uma banda afiada. “Vinhetas” de outros artistas: Cazuza, Caetano, Roberto Carlos. Trechos que eram cantados antes de algum acerto e o público acompanhava. E lá vieram “Dilata”, “Cuba”, “Dias de Janeiro”, “Por que”, “Bob”, “Renault/Peugeot”, “Café Preto”, “Ciranda de Maluco”, “O Celular de Naná”, “Retratrista”… “A preta gosta de mim, sou eu que gosto da preta, a preta chora por mim, e eu choro pela preta, a preta quer um filim, e eu um filim com a preta, no condom black é assim (pausa para o constrangimento da tia e avó! de uma colega) é pau, é cu, é buceta”.

O show teve até momentos de tensão. Em dado momento se escuta: “venha aqui, venha aqui dar o dedo na minha cara”. Era Otto chamando alguém que estava com o dedo em riste apontado para ele. “Porra, não consigo cantar com um cara dando o dedo pra mim”. Eu ria. “Tá ruim o show pessoal?” “Nãããããão”. Palmas. “Porra, não consigo cantar com um cara dando o dedo pra mim véio”. A produção já se mobilizava para retirar o cidadão.

No mezanino, um troglodita bêbado atacava um casal de meninas lésbicas. Mais tensão. O cara ainda queria ter razão, por pouco a situação não complicou. Mas a festa estava ótima e não merecia uma briga. O show que começou por volta das 2h30 só foi acabar com o dia raiando. Cinco da manhã, depois de duas despedidas e dois retornos ao palco em menos de cinco minutos, Otto volta pela terceira vez. Estávamos do lado de fora e não voltamos. Até que horas será que ele continuou cantando? Se alguém souber…

Da época de contestação do Mundo Livre S/A não sobrou nada, prefiro assim. Diversão em estado puro.

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4 Comments

  1. Hugo, não teria sido o primeiro show do Mundo Livre SA em Natal na Capitania das Artes, no mesmo projeto que trouxe, entre outros nomes, Jorge Cabeleira e Paulo Francis Vai pro Céu?

  2. Não lembro o ano, mas é isso mesmo que o Alex disse, o Mundo Livre S/A veio pela primeira vez aqui, na capitania das artes. Mas o resto é o mesmo sem estrutura, o som ruim… Quanto aos outros, Jorge eu num lembro e o Paulo Francis eu vi num daqueles bares da vila de Ponta negra na época mais aurea(acho que era o megafone). Mas não lembro se antes ou depois do Munod Livre. Datas não são meu forte.

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