Coberturas

COMO FOI? FESTIVAL MUNDO – PRIMEIRO DIA

cerva

Por Bruno Nogueira

Assim com o segundo disco é para as bandas, parece que as quintas edições são cabalísticas na nova safra de festivais independentes. Cinco anos tem sido o espaço ideal para os eventos começarem como foco de resistência, encontrarem seu formato, se articularem com produções vizinhas e, por fim, re-surgir com algo maior, definitivo e fundamental para a cidade onde acontecem. O Festival Mundo confirmava a teoria para qualquer um que entrasse na Usina Energisa durante as duas noites que aconteceu em João Pessoa.

Uma das melhores impressões do festival neste ano foi também uma das piores. O espaço é perfeito, amplo e com áreas de circulação suficientes paras as pessoas irem despreocupadas em ver ou não os shows. Dava para usar o festival de mote apenas para sair de casa e se encontrar com amigos e conhecer gente nova – com o impressionante ingresso de R$ 8. Mas o deslumbre tinha que dar espaço para a notícia que aquele pode ser o último show realizado ali, porque a Usina é próxima demais a um hospital e a prefeitura pretende proibir eventos no local.

Comparado com a edição passada, esse ano o Festival Mundo foi mais plural. Teve hip hop, samba rock e música regional, além do Heavy Metal que abriu a edição 2009. R.I.D., Soturnus e Dissidium representam bem o gênero rock mais popular no Nordeste. Tem a simplicidade de quem nunca precisou se preocupar com uma apresentação maior – o que resulta numa experiência visual, que é tão fundamental ao metal, mais fraca – mas conquista respeito pela coerência na música. Estão no ponto para sair da Paraíba e tocar em cidades vizinhas.

Das três, chamou mais atenção a Dissidium. Era a que tinha mais foco, talvez por ter os integrantes mais velhos. Eles tem uma música chamada Michael Myers, em que o vocalista aparecia com a máscara do próprio no palco – para quem viajou na referência, Myers é o vilão da série Halloween – e a trilha do filme em piano sendo embalada por metal. É o tipo de banda mais nova que chama atenção em uma noite só com bandas de Metal (tipo uma noite do Abril Pro Rock) sem muito esforço.

Depois de toda essa turma de preto, veio a melhor surpresa da primeira noite do Festival Mundo. A banda Cerva Grátis, que já tinha feito uma boa apresentação ano passado, cresceu bastante e fez um dos melhores shows da noite. A impressão é que no espaço de um ano eles conseguiram resolver várias lacunas da apresentação, dando uma identidade mais própria a banda. Ah, o isopor de cerveja continua lá, ao lado do guitarrista. Difícil não gostar de cerveja de graça 😛

Distro, de Natal, poderia ter entrado nesse time de melhores do festival. Começaram muito bem, mas não seguraram o show por 30 minutos. No geral, a banda cresceu um monte em comparação a outros shows que assisti deles em Natal, no Festival DoSol, e parece incorporar melhor novas referências rock, fazendo um som mais rápido e pesado e menos meloso. Mas as músicas do novo EP – são seis – ainda entram em conflito com as mais antigas.

Uma das grandes promessas para essa noite era a banda The Baggios, de Sergie, que tem sido dita por ai [http://www.oinimigo.com/blog/?p=2181] como uma das mais legais hoje no Nordeste [http://www.dosol.com.br/cds-virtuais/the-baggios-se-hard-times/]. Mas confesso que não chamou tanto minha atenção assim. É um rock mais sujo, sem baixo, que lembra bastante Led Zeppelin ao vivo em vários momentos. O som mais introspectivo, entretanto, ajudou a regular o clima da noite e preparar a transição do público de curiosos para os fãs das três atenções finais que encerrariam o festival. O blues deles podia pender mais para o lado de Jon Spencer, mas não chegou até lá.

Rolou um momento de “polícia do bom gosto” quando o rapper Sacal subiu no palco. Mas a contra-gosto de quem torceu o nariz, ele trouxe o grande show dessa noite. Hip Hop que passa por um monte do que é feito na América Latina agradou em cheio a mulherada que dançava colada no palco. E, em qualquer show no mundo, mulher dançando e feliz é o que faz a outra parte do público – homens travados e envergonhados – entrarem no clima. Com bom humor, ele conta histórias de João Pessoa enquanto não larga o copo de whisky na mão.

O clima animado de Sacal até ofuscou um pouco do psicodelismo do Burro Morto. Apesar de serem o grande nome da Paraíba hoje, demoraram para fazer as pessoas voltarem ao local do show. A apresentação fez parte da gravação do DVD que eles aprovaram no edital do Pixinguinha, por isso ganhou um reforço visual na apresentação. Mas o positivo é que, por isso, foi um repertório inteiro só com músicas inéditas. Deu para ver que a banda tem fôlego para mais vários anos circulando e vai ser curioso ver que resultado o Pixinguinha pode trazer para eles.

Apesar do trio francês Eklips, Dj Nelson e Marko 93 terem somado conceitualmente ao festival, sendo atrações internacionais e frutos da primeira parceria de um evento desse tipo com o governo Francês, eram as atrações mais dispensáveis na noite. Conseguiu reunir alguns curiosos, mas até o público do rapper Sacal não aguentou muito do show, que era uma mistura de lightpainting – pintura com luz – e hip hop. Serviu mais de trilha para volta para casa que de um grande fim de noite. O festival já estava bem servido de uma atração local fechando a programação, como foi com o Burro Morto.

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