Coberturas, Notícias

COMO FOI? DOSOL TOUR EM SANTA CRUZ E CAICÓ (RN)

Por Ana Morena

Eram 16h quando partimos para uma aventura pelo interior do Rio Grande do Norte, onde faríamos 2 shows e não sabíamos muito bem o que esperar. Para garantir pelo menos que os shows acontecessem de forma honesta, levamos uma verdadeira parafernália, com mini PA e tudo, eu disse TUDO que poderíamos precisar para fazer o show. O lugar só precisaria oferecer energia elétrica.

O primeiro show foi em Santa Cruz, cidade que fica 1h30 de Natal, e que tem em torno de 30 mil habitantes. Organizamos tudo, com ofícios para a delegacia e Casa de Cultura para que o rock acontecesse bonito por lá… o rock até aconteceu bonito, e falo já sobre o show. Mas infelizmente tenho que dar uma parada no texto para fazer um protesto contra o TOTAL abandono da Casa de Cultura de Santa Cruz.

Um prédio bonito, com estrutura de vários banheiros, mini-auditório, pátio, salas de exposição, bar… Mas tudo entregue às moscas, à imundice e ao descaso. Sem água, sem luz (graças a deus tinha energia, mas não havia UMA lâmpada nos bocais), sabe aqueles prédios abandonados que são invadidos por sem teto nos centros das cidades? Pronto. Só não tinham os sem tetos… Fica aqui o meu registro e a minha aflição para que o poder público se lembre de lá, com uma faxina e 200 reais aquilo ali vira uma Casa de Cultura de verdade, só ta faltando um pouco de interesse!

Interesse esse que não tivemos do “rapaz das chaves” de lá. Quando ele viu um bando de roqueiro cabeludo e tatuado, começar a adentrar com caixas enormes de som disse que ia “ali” e voltava já. E não apareceu mais. Então nós que fomos tranqüilos que teríamos um lugar para guardar os equipamentos depois do show e ir dormir na casa do Paulo, cara de lá que nos ajudou a organizar o esquema, nos vimos com todo o nosso equipamento dentro do pátio da casa de cultura, ao ar livre (pela primeira vez fiquei feliz por não chover no interior) sem ter como deixá-lo ali sozinho. O que fizemos? Arrumamos os nossos colchonetes ali mesmo, e dormimos olhando o céu mais bonito do mundo que é o céu do interior. Conseguimos ainda dormir até às 8h da manhã que foi quando a sombra do prédio acabou e o sol nos pegou de jeito!

Vamos ao shows. Às 21h30 começou o show com a banda Messias, banda local e bacana do Paulo, o cara que nos ajudou. O baterista da banda se garantiria muito numa banda de hardcore melódico, pegada boa e rápida do rapaz. O show foi correto, são um pouco verdes, principalmente nas letras das músicas, mas todo mundo tem que ser verde pra ficar maduro, então vamos aguardar.

Em seguida o The Sinks, sem o Foca que estava no Boom Bahia e com o Henrique Gela no lugar, fizeram um show excelente. A platéia, em torno de 50 pessoas, se divertiu muito. Na verdade o público de Santa Cruz ainda não sabe direito como curtir um show de rock. Eu acho que o que eles querem mesmo é se machucar, rolou muito “pogo” ao melhor estilo telecat, e as mulheres levavam e davam porrada sem nenhum constrangimento também, enfim….

O Camarones veio em seguinda. Como o som do Camarones é mais dançante e menos “pogante” a platéia dispersou um pouco. Uma parte ficou dançando, outra ficou assistindo e outra foi “se pegar” lá fora. Foi um ótimo show.

Aí veio o Calistoga e fez o show mais bacana da noite. Uma parte da platéia estava mais interessada nas atividades extra-rock e ficaram lá fora, mas o povo que ficou pode assistir Dante, meio sem voz (afinal, assim como Henrique ele tocou nas 3 bandas, sendo que cantou em 2 delas) viajar com Henrique em efeitos psicodélicos, solos de escaletas e muito mas, muito barulho na música “Sanity Seeker” que se mistura com “Quarantined” do At The Drive in. A platéia que estava lá chocou e eu gravei tudo, vai estar no doc que estou editando. Aguardem e confiem!

E foi isso, acordamos com o sol na cara às 8h, tomamos caldo de cana com pão, queijo, grapete, cuscuz e guisado na feira de Santa Cruz, a maior feira popular que já vi na vida. Arrumamos a van e fomos para Caicó. Esse é um outro capítulo que conto daqui a pouco.

Caicó, cidade de mais de 50 mil habitantes, já tem uma história no Rock. Além de uma cena que apesar de tímida já tem força e continuidade, a cidade é bem estruturada com locais para shows bacanas, equipamentos e pessoas que fazem o rock acontecer. Uma dessas pessoas é Ícaro, roqueiro que tava organizando o evento, que vive entre Natal e Caicó. Ele vai muito no Centro Cultural DoSol e sempre organiza umas caravanas trazendo a galera de Caicó pra ver shows em Natal.

Chegamos em Caicó por volta do meio dia, e pudemos notar com força o clima “desértico” que tanto falam de lá. Eu acho que passei o maior calor da minha vida, um clima quente e abafado e de noite esfria de um jeito que se vc não levar casaco vai bater o queixo. Fomos para o local do show passar som, um bar/restaurante chamado Dalmoro, e vimos um lindo por do sol nas serras do Seridó. No interior os shows acontecem ao ar livre, sem cobertura e sem medo de ser feliz, porque NÃO CHOVE MESMO. Passamos o som, que por sinal estava excelente, e fomos jantar. Às 22h já estávamos arrumadinhos de volta pro rock.

Às 22h30 começou o show da banda SPA (acho que é esse o nome), que substitui o Erro 404 que não pode fazer o show. Com um som punk rock, tocaram várias músicas do Gritando HC, RDP e Garotos Podres. Foi divertido e a platéia achou também! Logo em seguida veio a banda Mr. Porn, de Patos/PB. Galera gente fina e tal, mas assim como o Messias um pouco verde e com uma presença de palco muito estranha (o vocal ficou boa parte do show ajoelhado com o capuz cobrindo a cabeça), a platéia dispersou geral.

Então, subiu o The Sinks para fazer aquele show redondo de novo. Apesar de Henrique ter segurado a maior onda, e talvez tocar até melhor do que Anderson, a banda ficou sem graça sem a presença do Foca. Eu pelo menos achei, mais até por falta de um cara que falasse chamando a platéia. O público em torno de umas 120 pessoas gostou muito do show. Mas acho que faltou aquela interação banda-platéia.

E aí veio o Camarones que teve toda a maior interação banda-platéia da noite. A galera do interior se gosta da banda, vê o show colada no palco. E como o palco era baixinho, ficou quase claustrofóbico o negócio. Ícaro estava um pouco receoso com o fato de ser uma banda instrumental, já que, segundo ele, nunca tinha tocado uma banda assim por lá. Mas foi uma bela surpresa. As pessoas gritavam, aplaudiam, urravam, foi uma comoção. É como eu já disse, música divertida é a premissa básica do Camarones. E se não tem voz, tem 3 guitarras troando, a platéia se identificou na hora.

E finalizando a noite, o Calistoga fez um show mais legal ainda do que o de Santa Cruz. Daniel, que foi substituindo Fernandinho, se garantiu muito na bateria. Show redondo, Dante e Henrique se irritaram um pouco com a galera pedindo covers, o que é natural de um processo de fortalecimento de uma cena autoral. Com o tempo a platéia começa a curtir o repertório próprio das sem precisar do cover para se divertir.

Já eram mais de 5h da manhã quando comemos e guardamos tudo na Van. Então, com o dia claro, resolvemos colocar o pé na estrada e voltarmos para Natal, um pouco mais fortalecidos como banda, mas tarimbados como músicos e com muitas histórias para contar. Algumas pessoas podem até dizer “deus me livre de ir pro interior, que roubada”. Eu digo a elas que é o rock! E que só passando por essas e outras, conhecendo outras realidades e vendo que nem tudo são flores é que a gente pode dar o real valor ao que temos. Nada fortalece mais uma banda do que viajar, tocar em todo tipo de condição, e criar novos públicos. Tô doida pra fazer tudo de novo!

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19 Comments

  1. Muito massa seu relato Ana. Lembrei-me de shows que fiz no interior nos anos 80, com o Fluidos em Açu (ou Assu) e com o Modus Vivendi em Caicó, Mossoró e Campina Grande. Lendo seu texto me deu vontade de escrever alguma coisa relatando essas experiências, e fazer uma ponte entre os tempos… Parabéns! Beijos!

  2. Massa carito… eu acho que a internet facilita muito as coisas, e as pessoas do interior hoje em dia são muito mais antenadas com as coisas do mundo do que nos anos 80. Mas a essência tá lá igualzinha… é um barato!

  3. Engraçado como as coisas funcionam na cabeça da galera, tocar pra 50 em St. Cruz e 150 em Caicó, pode soar como “tragédia” pra uns e “glória” pra outros, mas eu prefiro nem entrar neste esquema e seimlembrar das cenas do Under dos U.S.A., onde a questão era tocar e formar público, Ramones tocando no centro oeste americano para 30,40 pessoas por show, e voltando ano após ano, e a consequência disso, bandas surgindo em cada um destes locais, se a persistência e vontade vão dar resultados, ninguém sabe, mas que é um puta diversão pra ser lembrada pra sempre….isso tenho certeza!!

  4. quero a segunda parte! logoooooo 😀

    acho esse tipo de evento muito foda, para todos. nois que viajamos podemos conhecer mais a realidade das outras cidades, carencias e sacar o que o pessoal tão curtindo. assim como podemos passar algo para eles tambem no final todos ganham! coversei com muitas pessoas por la, gostaria de ter conversado com mais pessoas.. mas é isso ae! que venham mais festas como essa, e da proxima vou tirar uma parte da minha mesada para pagar alguem pra ajudar a carregar as coisa.. to muito fuido aqui!

    quero mossoooooro!!!

    *ana manda as fotos pro meu e-mail por favor
    geladeira_discos@hotmail.com

    *o isopor ficou ai na sua casa.

  5. julio, concordo com trudo. É isso mesmo. Banda que melhora é banda que viaja, se expõe, entra na adversidade, vira uma situação adversa, aproveita o que tem, porque quando o bicxho pega e tá tudo certo nego tira de letra!

  6. Mew…mt massa
    Ana

    a única experiencia que o Ak teve com interiores foi tocando em João Câmara, e pow, muito parecido o relato, a galera adorou a viagem, conhecer novas pessoas, publico totalmente diferente, a banda se firmando mais como família!Do caralhow

  7. Bem, eu sou a Sogra e tou pê da vida com o Foca por ter deixado a MINHA filha dormir ao relento! Qualé, Foca? hahahahahahaha Brincadeiras à parte, é isso aí, quem tá no rock é pra se f**** e a gente de teatro também tem muitas aventuras dessas pra contar, eu e a própria Ana fomos um dia com uma peça a Mossoró e no alojamento o banheiro não tinha luz, e quando a gente se ensaboava as baratas colavam na gente no escuro! Muito punk, lembra, Aninha? Quanto às Casas de Cultura abandonadas, isso é a “política cultural” do RN: constroem,botam uma placa, fazem uma inauguração com autoridades engravatadas e depois deixam tudo ao deus-dará.

  8. O Decreto Final tocou em Pau dos Ferros e foi muito massa. Viagem incrivel, ótimo show, público “sedento” por rock.

    Se for fazer outra tour dessa e tiver uma vaguinha aí chama o Decreto. hehehe

    Sobre as “casas de cultura” seria interessante aproveitar a oportunidade de ter conhecido o pessoal de lá e pedir para eles tentarem mudar algum coisa. Ninguém pode nos tirar a cultura.

    Parabéns pelos shows. Rock sempre!

  9. Rick, eu gostaria muito de ter conhecido o carinha das chaves, mas não sei vc entendeu… ELE SUMIU!!! E não é ele quem resolve nada né? isso é uma coisa que tem que partir da Fundação José Augusto que é a fundação de cultura do nosso estado e que toma conta das casas de cultura. Meu apelo é para eles.

  10. Achei legal a jornada de vocês aqui pelo interior e o quanto podem levar de experiência.Não sabia que existia esse evento, pois não costumo a ir,mas se tivesse aqui na cidade de Currais Novos eu iria.Já que tocaram em Santa Cruz e Caicó era pra ter vindo a Currais Novos garanto que iriam gostar do povo e da cidade que é bem melhor que Santa Cruz!!!!!!!!

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