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CLIPPING: AÇÃO DE MÚSICA E LITERATURA DO DOSOL E JOVENS ESCRIBAS NA TRIBUNA DO NORTE

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/submersos-sonoros-dos-anos-90/255766

Alexis Peixoto – repórter

Desde o início dos anos 90, a vida do músico, jornalista e escritor Leonardo Panço tem sido barulhenta. Participante ativo do underground carioca como membro das bandas Soutien Xiita e Jason, Panço é hoje um dos principais cronistas do rock independente brasileiro, escrevendo com a experiência de quem esteve no front de batalha e presenciou de perto todas as conquistas, perrengues e cenas inusitadas que compõem o folclore desse meio. Muitas dessas histórias estão no livro “Esporro”, coeditado pelo selo Jovens Escribas e pela Tamborete Entertainment, com lançamento marcado para amanhã (18), às 18h, no Solar Bela Vista. Na ocasião, o escritor Carlos Fialho também lança o livro “Mentiras de Verão”, com direito a show das bandas Camarones Orquestra Guitarrística e Far From Alaska.

DivulgaçãoUm dos principais cronistas do rock independente brasileiro, Leonardo Panço viveu de perto o nascimento de alguns grupos, entre eles o Planet HempUm dos principais cronistas do rock independente brasileiro, Leonardo Panço viveu de perto o nascimento de alguns grupos, entre eles o Planet Hemp

“Esporro” é o terceiro livro de Panço a ser publicado mas, curiosamente, foi o primeiro a ser escrito. O projeto de escrever  uma biografia sobre a cena do clube carioca Garage, que originou bandas clássicas do underground como Gangrena Gasosa, Poindexter, Cabeça, Soutien Xiita, Sex Noise, Zumbi do Mato, Planet Hemp, entre outros, começou em 1999, mas só foi concluído em 2011. A principal dificuldade, segundo Panço, foi reunir o material de pesquisa, fazer entrevistas com os “sobreviventes” e decidir quais histórias iam entrar no livro. Muitas, diga-se, ficaram de fora da edição final.

“Teve gente que não gostou de aparecer no livro, então talvez tivesse uma ou duas histórias ali que teria sido melhor cortar”, brinca Panço.

Histórias censuradas à parte, “Esporro” tem material de sobra para ser considerado um relato fiel  do que foi o rock brasileiro na década de 1990, criado na ressaca dos anos 80 e nos tempos da comunicação pré-internet. Ilustrado com cerca de 100 fotos, flyers de shows, capas de fitas demo e recortes de jornal, o livro joga uma merecida luz em uma época nada glamorosa para as bandas independentes, em que a grana era curta e as condições, precárias.

“Acho que os anos 90 não acabaram, ainda precisam ser completamente revisitados, examinados”, observa Panço. “Tem alguns documentários sendo produzidos, mas no geral ainda faltam mais livros sobre as cenas de outros estados. Tem muita coisa legal que rolou e muita gente que escreve bem que poderia fazer isso”.

O próprio “Esporro”, aliás, serviu de base para um projeto que reunia um documentário e um show especial com algumas das principais bandas da época, muitas das quais seriam reativadas especialmente para a ocasião. Um projeto no esquema crowdfunding chegou a ser criado, mas o valor mínimo não foi atingido e a ideia, engavetada.

“A intenção principal era filmar o livro porque tem histórias que não entraram, coisas que as pessoas contam de outra maneira. Só que  tinha muita gente envolvida no projeto, era trabalhoso”, conta Panço. “Foi feito um projeto de crowdfunding que arrecadou pouquíssimo. E sem a grana estipulada a gente preferiu não fazer, pra não ficar um negócio meia-boca”.

DivulgaçãoO livro Esporro é um relato fiel da cena roqueira no Brasil da década de 1990O livro Esporro é um relato fiel da cena roqueira no Brasil da década de 1990

Disco solo e livro

De folga em Natal, Panço também aproveita a viagem para tocar dois projetos novos: no estúdio DoSol, grava as guitarras de  seu primeiro disco solo, que marca seu retorno à música desde sua saída do Jason, em 2011. Enquanto isso, vai começando o trabalho de selecionar os textos para seu próximo livro, de contos curtos.

O álbum, ainda sem nome,  surgiu de uma ideia antiga de Panço, de gravar um disco em que, a cada faixa, um vocalista se alternasse à frente da banda. O próprio músico reconhece que a ideia hoje está meio batida, mas persiste pela vontade de imprimir a sua marca. “De Santana à Slash, muita gente já lançou discos assim. Eles podem até ter feito, mas como eu nunca fiz, então tá valendo”, diz.

O disco também não tem data para sair, mas uma coisa é certa: será lançado em vinil. Apesar da opção “retrô”, Panço não se ilude com a volta dos velhos bolachões. “Acho que a tendência é a música ficar cada vez mais virtual. O vinil vai continuar aí, mas só para quem é colecionador, em tiragem limitada mesmo”.

Já o mercado literário, por outro lado, ainda resiste na plataforma física. “Superfícies”, próximo livro de Panço, terá entre 30 e 35 contos curtos, ilustrados por César Maurício (ex-vocalista do Virna Lisi). A princípio, o  livro será lançado de forma independente, da mesma maneira que as outras obras do escritor, que já publicou “Jason 2001: Uma Odisséia na Europa”, sobre a turnê  da banda Jason no Velho Continente; e “Caras Dessa Idade Já Não Lêem Manuais”, de crônicas sobre música e cultura pop.

“Publicar independente é o melhor jeito, porque você investe uma grana e o livro se paga. E pra mim livro é bem mais fácil de vender do que disco”, diz Panço.

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