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BRUNO NOGUEIRA (PE): ENTREVISTA – ANDERSON FOCA (RN)

Nos últimos três anos, Foca se tornou uma das figuras centrais para o rock independente do Nordeste. Começou pequeno, abrindo um bar para shows na Ribeira, onde antes acontecia o festival Mada. Com o tempo, conseguiu reunir as bandas locais num maior espírito coletivo, e o DoSol Rockbar acabou virando também um selo para lançar os discos de quem tocava por lá. Hoje, essas ações resultaram também numa produtora de vídeo, estúdio de ensaio e no festival DoSol.

Essa ações se multiplicaram pelo Nordeste. Em parceria com o Hey Ho de Fortaleza, as bandas agora encontravam um circuito de shows até então nunca aproveitado na região. Quem viesse de São Paulo, não faria mais bate e volta. E o mais importante: os contatos estavam expostos para se articular essas turnês. Indiretamente, o DoSol movimentou shows em João Pessoa, Recife, Fortaleza e até a mais distante Salvador. Abaixo tem um papo rápido com Foca, feito por email:

Ano passado o festival não teve patrocínio e vcs se ferraram. Você chegou a considerar encerrar? E, independente disso, porque decidiu continuar?

Em nenhum momento nem eu nem Ana, minha sócia, pensamos em desistir de fazer o Festival e também já sabíamos com pelo menos um mês antes do festival acontecer que tomaríamos prejuízo. O que aconteceu é que quando o evento já está na rua perdemos nosso maior patrocinador. Só que confiamos tanto no nosso trabalho que resolvemos fazer o festival e apostar na continuidade do projeto. Acho que foi uma decisão acertada já que para esse ano e pro ano de 2009 as coisas estão bem mais tranquilas para realizarmos o festival.

A gente nunca cogitou continuar porque jamais pensamos em parar de fazer o que fazemos. As indas e vindas são chatas, mas acontece em qualquer área de trabalho.

Esse ano vc conseguiu ver quase todos os festivais independentes importantes. Como é que estamos aqui no Nordeste em relação ao Brasil? Dá para comparar?

Não só dá para comparar como estamos no mesmo patamar artístico e organizacional que todos eles. Agora você há de concordar que fazer um festival perto do Sudeste custa bem menos dinheiro e por tabela dá bem menos dor de cabeça. Esse ano tive muitos problemas logísticos para montar a programação porque as passagens aéreas jamais estiveram tão caras. Aqui temos grandes festivais em estrutura física como o MADA e grandes festivais com propostas artísticas interessantes como o próprio Dosol e o Coquetel Molotov. Temos também gigantes estruturais e artísticos como o Abril Pro Rock e o Rec Beat. Então em todos os sentidos, grandes ou pequenos, estamos muito bem na fita e com a região povoada de festivais em quase todas as capitais.

O que você viu nesses festivais, não apenas de bandas, mas de novas idéias e estruturas, que pode ser aproveitado pelo DoSol e outros festivais da região?

Bem, são trocas de experiências interessantes, mas o que podemos fazer fica mais no âmbito dos detalhes. Eu gosto de ver bandas em ação e isso ajuda na escolha dos grupos que se apresentam não só no festival como no dia-a-dia do bar. Então aproveito para ver quem eu não conheço, fazer negócios, conhecer pessoas. Em Cuiabá conheci melhor o Eduardo Ramos, por exemplo, e desde então tenho trocado uma figurinhas com ele e o Sérgio da Amplitude, pessoas que eu não conhecia se não rodasse por aí. Viajar faz ficarmos mais exigente com nós mesmo.

Esse ano, pela primeira vez, parece que Natal está conseguindo firmar boas bandas no circuito de shows independentes. Temos pelo menos uns três ou quatro nomes ai que parecem que vão ajudar a repercutir o nome da cidade. No seu ponto de vista de produtor, qual é o próximo passo para a cena daí agora?

Acho que o próximo passo para as bandas daqui é tentar “ser banda” mais tempo (o máximo possível). Acho que isso é o que tá faltando, aliás não só para as bandas daqui, serve para grupos do Brasil inteiro, principalmente aqueles grupos que não tem tanta visibilidade. Mas aos poucos tem uma galera se formando numa lógica um pouco diferente, que é a lógica do começo dos anos 80 nos EUA por exemplo. O espírito é o mesmo, trampar pela música, tentar viver dela e acordar de um dia querendo outro dia ainda melhor. Só assim bandas crescem, cenas crescem e saimos do marasmo.

Ficar reclamando, dizendo que não tem espaço e choramingando porque “não é chamado” é um caminho paternalista para cacete! Quero ver bandas de Natal metendo a cara, marcando tour, indo atrás, se jogando, porque banda vira “de verdade” na estrada e até melhora artisticamente nela, um exemplo disso é o CSS que se tornou um grupo respeitado por causa da estrada e melhorou 1.000% artisticamente com as gigs.

Falando específicamente do festival agora, adianta ai para nós, como é que vai ser o DoSol esse ano? Vai ser com as duas casas de show, igual na edição passada? Ou palcão tradiocional? O que vamos encontrar lá?

Basicamente a estrutura é a mesma do ano passado, mas nossa política de ocupação dos espaços do bairro antigo da Ribeira será 150% ampliada para esse ano. Ano passado ocupamos o Centro Cultural Dosol com shows e o Armazem Hall (ao lado) também com shows. Esse ano, além dos dois galpões de shows, ainda teremos um terceiro espaço para shows que é a Casa da Ribeira onde vai acontecer o Festival Dosol Música Contemporânea nos dias 12 e 13 de novembro. Além disso, dentro do espaço do festival nos dias 01 e 02 teremos uma área de convivência para as bandas na Grito Filmes (galpão ao lado do Centro Cultural Dosol) e uma área de convivência pro público no espaço Calígula.

Significa dizer que saímos de dois galpões para cinco esse ano. Não acredito mais no formato tradicional de festival com grandes palcos e estruturas, acha que uma aposta em conteúdo e ocupação é mais parecido com o que fazemos no nosso dia-a-dia.

Você tinha falado de planos para um DVD. Vai sair mesmo? Que outros produtos o Festival DoSol vai gerar esse ano?

Sim, o DVD está todo pensado e só esperando a hora para ser registrado. Ele vai ter a direção do áudio feita pelo Gustavo Vasquez da RockLab de Goiânia e direção de vídeo pela Dosol Image. Acho que isso é uma grande coisa que faremos esse ano, se bobear uma das mais importantes. Sempre gostamos de gerar conteúdo das ações que fazemos e para esse vai ser possível. Além do que é um diferencial já que acho que no Brasil ainda não foi feito nada parecido. Sempre via os DVDs da Warped Tour ou do Ozzfest e ficava imaginado que um dia faria algo parecido. Então esse ano eis que deu certo. É o que eu sempre digo, sonhar não custa nada!

Como você fez para montar a programação? Queria que você justificasse porque escolheu as principais bandas que tocam esse ano no DoSol.

Bem, nossa curadoria é do gosto pessoal meu e das pessoas que trabalham com a gente. E não tem como ser diferente. Recebemos mais de 2.000 inscrições online e pelo menos 200 bandas poderiam tocar no festival. Depois disso, analisamos algumas bandas que vimos ao vivo, alguns grupos que tem uma repercussão (por mérito próprio) dentro da cena de Natal e fechamos o cast.

A banda com mais nome (nem sei se tem alguma nessa condição) é The Donnas que é uma excelente banda americana que é uma espécie de sonho que estamos realizando e que só está viável graças ao dólar baixo e aos bons contatos que a Abrafin, associação que fazemos parte, tem com produtores brasileiros e gringos. Tem o Mukeka que é a banda har core mais foda do Brasil e que amamos desde sempre. Nem são bandas enormes porque o Dosol tem a característica de não ter uma escalação muito díspare da realidade local. É todo mundo de igual para igual dentro do possível.

Um dos discursos comuns a Abrafin é de que a banda ganha em mídia espontanêa. Mas o DoSol conseguiu ser um dos primeiros festivais a antecipar essa fase mais negativa da associação com a grande mídia, onde a mesma se mostrou claramente desinteressada e, por vezes, preguiçosa em acompanhar esse momento da música independente. Lembro de caso de jornalistas convidados que sumiram no dia do show à clássica cobertura da MTV que só mostrava a turma de camisa-preta. Como é que vai ser esse ano? Quais vão ser os ganhos para uma banda que tocar no DoSol, já que esse não é mais um ponto a favor?

Bem, uma banda que sai de casa com tudo pago (95% das bandas da programação tem seus custos totalmente cobertos pelo festival) para tocar numa estrutura legal, para um público que está afim de novidade e ainda por cima ganhar um clip ao vivo de alta qualidade para o currículo não pode reclamar né? Acho que está de ótimo tamanho. E muitos delas ainda estão aproveitando o custeamento das passagens dadas pelo Dosol para participar de outros eventos Nordeste afora. Como banda isso seria um sonho para mim. Então o que quero que aconteça comigo como músico é o que tento proporcionar para as bandas que visitam o festival. Nosso saldo tem sido bem positivo.

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6 Comments

  1. Pode crer. Foi só um parênteses… Mas tá massa!!!

    Olha, Foca, já tem um link só do festival no site, pra colocar as notícias. Fique de olho que se depender do site rockpotiguar, vai dar lotação máxima em todos os dias…

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